Febre Tricolor – Vai ficar a dúvida

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Capitão na primeira fase, Hudson foi destaque em desarmes na Libertadores
Capitão na primeira fase, Hudson foi destaque em desarmes na Libertadores

Assim como os jogadores do São Paulo, que acreditavam chegar à final da Libertadores, cravei semana passada que o grupo chegaria, mesmo tendo que reverter um 2 a 0 desfavorável, criado pelo Atlético Nacional-COL, no Morumbi. Não costumo ficar em cima do muro em meus palpites, mas também não há problema quando não acontece aquela previsão técnica que você passa ao torcedor. Não tenho vaidade quanto a isso. A única certeza que tenho sobre a semifinal da Libertadores é a de que o São Paulo foi impedido de disputá-la. Mesmo não praticando um futebol tão vistoso como os colombianos e agraciado por toda a crítica sulamericana, que merecidamente vai decidir o torneio, não foi possível ao São Paulo dar trabalho para o adversário por erros inadmissíveis no conjunto de duas arbitragens.

É bom esclarecer: não quero dizer aqui que o Atlético (como gosta de ser chamado) não mereceu chegar à decisão. Pelo contrário. Principalmente no segundo tempo do jogo em Medellín bombardeou o Tricolor ofensivamente; não jogou com o regulamento debaixo do braço, e manteve a sua tradição ofensiva. Para o “bem” do futebol, o correto é que os colombianos decidissem o título, por ser o time mais vistoso do torneio. Não é que sejam o São Paulo do Telê, mas tocam bem a bola e são rápidos. O que quero dizer é que, evidentemente, seriam dois duríssimos jogos se Maicon não fosse expulso com um empurrãozinho à brasileira, no Morumbi, e mesmo que fosse aplicada a regra e dado aquele pênalti claro e cristalino sobre Hudson, no jogo da Colômbia. Vai ficar a dúvida: e se o número de jogadores fosse igual no Morumbi? E se o pênalti fosse dado? Isso não é bom pro futebol. Como não foi bom os supostos erros beneficiando o Atlético, nas partidas contra o Huracán e Rosário Central. Ninguém aqui está desprestigiando o bom futebol jogado pelos colombianos, de DNA ofensivo, o que está se pedindo é que a Conmembol investigue arbitragens caseiras, que afetam resultados em fases tão decisivas de seus torneios.

Alguns comentaristas, inclusive brasileiros, estavam desesperados para que suas teses prevalecessem de que o Atlético Nacional deveria chegar à final de qualquer jeito, pelo futebol que vinha jogando. Um deles bateu boca com o ex-árbitro Sálvio Espínola Fagundes Filho, comentarista da ESPN Brasil. Citei o Sálvio porque, acertadamente, fez uma crítica contundente às arbitragens dos jogos do São Paulo. Um profissional da área, conhecedor de fato, falando sobre isso qualifica cada uma de minhas palavras, e desqualifica os incautos. Sim, para o bem do futebol é bom que o jogo bonito e festivo prevaleça, como seria lindo que o Brasil de 82 tivesse sido campeão e como foi lindo o São Paulo de Telê vencendo, em 92/93. Mas você não pode afetar a competitividade de um torneio para que o jogo “mais bonito” prevaleça. Vai vencer aquele que for mais eficaz, trabalhar mais, definir melhor sua estratégia. Não tenho dúvida alguma de que o São Paulo foi inteiramente prejudicado, com uma expulsão “à brasileira” de Maicon, que definiu a primeira partida; com um pênalti ridículo não marcado sobre Húdson e, finalmente, com expulsões de Lugano e Wesley, que ser humano nenhum entendeu naquele momento do jogo.

REAÇÃO ÀS EXPULSÕES

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Me senti envergonhado com as reações às expulsões de Lugano e Wesley. Diego Lugano é um ídolo do clube, que é intocável para quase a totalidade dos torcedores, porém tem que parar de encarar e repreender árbitros toda a vez que sofre uma punição. O árbitro é um ser humano e também erra. Sou favorável a Lugano cobrar durante a partida, mas não no momento de uma expulsão. O caso de Wesley é pior. Não tem respaldo algum do torcedor e ainda foi tirar satisfação do quarto árbitro, após ter sido expulso. Não precisava desse descontrole, pois estão levando a marca do São Paulo Futebol Clube em seu peito, e têm que deixar que esses próprios profissionais avaliem os seus erros.

FORMAÇÃO DO ELENCO

Ganso foi vendido ao Sevilla nesse sábado, num negocio que renderá R$ 16 milhões ao São Paulo, após ter se realizado um investimento de R$ 23 milhões pelo atleta, no passado. Esperava-se receber zero. O prejuízo será de 7 milhões, mas é melhor que nada. O lucro são 49 assistências em quatro temporadas e meia (média superior a 10/ano), identidade ao time e um título da Copa Sulamericana. Apesar de ter sido contratado para ser ponta, o substituto natural de Ganso será Christian Cueva. Meu entendimento é que dará conta do recado, mas o São Paulo poderia investir em mais um armador de talento.

O atacante Jonathan Calleri tem como planos agora a defesa da Seleção Argentina nas Olimpíadas 2016. Após a participação nos Jogos Olímpicos há chance de que seja vendido ao Sevilla, e possa jogar com Ganso no time espanhol. Outro pretendido pelo técnico Jorge Sampaolli (recém contratado pelo clube espanhol) é o volante Perez, finalista da Libertadores pelo Atlético Nacional-COL. Como se vê, Sampaolli vai montando um grande conjunto baseado em jogadores sulamericanos. Outra peça para o time de Sevilla será o volante Kranevitter, ex-jogador do River Plate e emprestado pelo Atlético de Madrid para essa temporada. Quanto à perda de Calleri, o São Paulo precisa ir ao mercado e o nome mais comentado é o do também argentino Milton Caraglio, que atualmente defende as cores do Tijuana-MEX, mas é de Rosário, assim como o técnico Edgardo Bauza, e tem boa relação com o mesmo. O Tricolor já apresentou na sexta-feira o atacante Gilberto, ex-Internacional e Chicago Fire-EUA.

O atacante Alan Kardec vai sendo negociado com o Chongqing Lifan-CHI. A proposta é de cinco milhões de euros, por 70% do jogador. Com esses valores o Tricolor recupera o investimento feito pelo jogador junto ao Benfica-POR. A venda, no entanto, reforça a prioridade do São Paulo em obter atacantes. Ytalo e Gilberto serão as opções do plantel, no momento. O que pesa para ambos é não ter a “jierarquia” necessária, tão buscada pelo treinador Edgardo Bauza. Ytalo, nas partidas que fez, tem tido dificuldade de adaptar-se. Sua melhor atuação foi quando balançou as redes contra o Cruzeiro. Gilberto é um atacante brigador, mas terá que crescer para vir a ser um astro. Com isso, o São Paulo terá mesmo que recorrer ao mercado por centroavante.

Outro nome que voltou a ser comentado nos bastidores é o do lateral direito e volante Julio Buffarini, atualmente San Lorenzo. É um velho desejo de Edgardo Bauza. Os comentários são de que até o ponta Centurión poderia ser envolvido, porém não seria a melhor alternativa em minha opinião, uma vez que o jogador ainda pode vir a contribuir bastante com o elenco. As grandes noticias da Libertadores são o crescimento de Thiago Mendes, Húdson e João Schmidt. Um setor, extremamente criticado pelos sãopaulinos nos últimos anos, apresenta agora três nomes viáveis. Jogadores que serão de grande serventia no futuro. Pode complementar as características desses três nomes mais um volante passador, o que mostra que Bauza estava certo em relação ao paraguaio Ortigoza, um de seus pedidos no início da temporada. O resumo da história é que Gustavo Oliveira terá muito a trabalhar.

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Alexandre Velame é Jornalista e Advogado, são-paulino há quase três décadas e usuário da SPNet desde 1997. Escreve nesse espaço aos domingos.

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