Memórias Tricolor #32 – O Mais Querido

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Todos os torcedores são paulinos já ouviram e até se referiram ao Tricolor como “O Mais Querido”, muito jornalistas falam e escrevem, porém poucos sabem a origem dessa alcunha…

Resultado de imagem para SPFCUm dia e que é um marco no futebol brasileiro, principalmente para os paulistas. Uma grande obra estava finalizada, era dia de sua inauguração. 27 de abril de 1940, uma tarde ensolarada, o Estádio Municipal de São Paulo localizado no charmoso bairro do Pacaembu próximo ao centro da cidade estava pronto, era dia de inaugurá-lo.

Era então a maior obra da cidade, era o maior estádio do país até então, os clubes paulistas teriam um estádio para receber grande público em  seus jogos, uma vez que os estádios eram pequenos e não comportavam muitos torcedores, o estádio idealizado pela prefeitura da cidade estava pronto. Iniciado pelo prefeito Fábio Prado e finalizado por Prestes Maia, o mais moderno Estádio da América do Sul estava pronto, era dia de sua inauguração.

Para o evento de inauguração foram convidados diversos esportistas argentinos, peruanos e uruguaios, além dos tradicionais clubes paulistanos como Portuguesa, Ypiranga, Juventos, Paulistano, Espéria, Corinthians, Germânia, Tietê e Palestra Itália.

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Resultado de imagem para spfc o mais queridoPresentes ao evento as mais importantes autoridades, Prefeito Prestes Maia, Governador interventor Ademar de Barros e o então Presidente da República Getúlio Vargas. Estavam presentes mais de 60 mil pessoas, estádio lotado, famílias inteiras para prestigiar a inauguração daquele que como já falamos era o mais moderno estádio da América do Sul e o maior do Brasil. As agremiações iriam se apresentar ao público e autoridades com um desfile em volta do gramado e se posicionar no tapete verde. Todas seriam ovacionadas pelos convidados e principalmente por suas torcidas.

Em 10 de novembro de 1937, o então presidente Getúlio Vargas através de um golpe de estado instalou no país o Estado Novo, fechou o Congresso Nacional, outorgou nova Constituição que lhe conferia poderes totais no executivo e permitia nomear interventores nos estados ao invés de governadores eleitos. Para demonstrar a fraqueza dos estados, Getúlio mandou queimar em praça pública todas as bandeiras e símbolos estaduais, não permitia ele que os estados fossem independentes e fortes, assim foi com o Estado de São Paulo, já na época o maior, mais desenvolvido e rico do país.

Não poderia ser diferente nesta tarde ensolarada em que o Estádio Municipal de São Paulo seria inaugurado, Getúlio Vargas foi recebido com uma sonora vaia, eram mais de 60 mil pessoas vaiando o ditador. As agremiações desfilavam uma a uma, e suas torcidas vibravam e gritava seus nomes. Uma a uma por ordem alfabética entravam, circulavam o gramado e se postavam em seus lugares.

Eis que a delegação do mais novo time da cidade se apresenta, seu nome é uma homenagem a cidade e estado de São Paulo, surge o São Paulo Futebol Clube com uma pequena delegação, e o impensável acontece. Todo o público e imprensa presentes se levantam e aplaudem a delegação Tricolor, todos em uma só voz gritam: “São Paulo, São Paulo, São Paulo”.

Imagem relacionadaO São Paulo ostentava suas corres Vermelho, Branco e Preto, as mesmas do Estado de São Paulo, a equipe desfilava empurrada por mais de 60 mil pessoas que saudavam o time, gritavam seu nome, Getúlio Vargas se sentiu intimidado e virou para um dos membros de sua equipe e disse: “Ao visto, este é o clube mais querido da cidade”.

No dia seguinte o jornal Folha da manhã noticiou “O público esportivo propriamente dito demonstrou o quanto é querido o São Paulo Futebol Clube, ainda que apresentasse pequena turma, recebeu calorosas palmas, sendo o nome ovacionado deliberadamente”. O jornal A Gazeta fez coro e foi além, ao lado de toda delegação Tricolor com placa e bandeira do São Paulo escreveu “O Mais Querido da Cidade”.

O público paulista ofendia Getúlio Vargas e feria seu enorme ego, a população que muito fora humilhada e ofendida pelo ditador devolvia a altura e o São Paulo Futebol Clube era o grande protagonista.

Assim Tricolor ganhava sua segunda alcunha, após o jornalista Thomaz Mazzoni descrever o São Paulo como o Clube da Fé, o Tricolor se tornava O Mais Querido.

Thomaz Mazzoni um dia escreveu sobre o Tricolor: “Brasileiro de São Paulo, o São Paulo Futebol Clube é o teu Clube, pois tem o nome da tua terra e a alma da tua gente”

Salve São Paulo Futebol Clube, Salve Ó Tricolor, O Mais Querido!

Dedico esta coluna ao meu amigo, irmão e professor José Edson Bacellar, um são paulino de coração que no último dia 5, veio a falecer aos 80 anos. JEB como gostava de ser chamado foi um dos melhores pesquisadores deste país, e seu coração sempre bateu em três cores. Vai com Deus, meu AMIGO!

A imagem pode conter: 5 pessoas, pessoas sorrindoGustavo Flemming, 40 anos de amor ao SPFC, é empresário no segmento de pesquisa de mercado e consultoria em marketing.

Contato: [email protected]

ATENÇÃO: O conteúdo dessa coluna é de total responsabilidade de seu autor, sendo que as opiniões expressadas não representam necessariamente a posição dos proprietários da SPNet ou de sua equipe de colaboradores.

1 COMENTÁRIO

  1. Um relato histórico que eu, particularmente, não conhecia. Um simbolismo cultural e sociológico que o São Paulo Futebol Clube emprestou ao seu Estado, em repúdio a um governante que sempre jogou dos dois lados. (Foi importante ao aceitar as imposições da Revolução Constitucionalista, fincadas sobretudo com o art. 7º da CF). É o que me fez preferir outros presidentes como João Goulart e Dilma Roussef.

    Muito obrigado Gustavo Fleemming por esta aula dada aos torcedores.