Preleção de 2013 inspira Ceni contra adeus precoce à Libertadores

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Gazeta Esportiva – Tossiro Neto

A situação que o São Paulo enfrentará a partir de 22 horas (de Brasília) desta quarta-feira, no Morumbi, é semelhante à que viveu em 2013. Na ocasião, o time também precisava vencer um adversário brasileiro na última rodada da fase de grupos da Copa Libertadores – a vaga era até mais improvável, porque só isso não bastava – e conseguiu a classificação. Depois de uma preleção histórica de Rogério Ceni.

Minutos antes da subida ao gramado, o goleiro reuniu os companheiros de equipe e pediu primeiramente que se concentrassem somente no Atlético-MG, até então sensação da chave e do futebol brasileiro, e esquecessem o duelo entre Arsenal de Sarandí e The Strongest, que seria disputado simultaneamente na Argentina. O time boliviano somava dois pontos a mais, ocupava a segunda colocação e ficaria com a vaga restante em caso de triunfo.

“Outra coisa: isso aqui é passar para a história”, continuou. “Vão carregar a gente para o título. Só que depende da p… da gente dentro de campo. Sei que vocês acreditam em Deus, não acreditam? Que isso aqui vire um inferno, que seja um inferno aqui dentro. Quando subirem em campo e virem aqueles caras (torcedores) lá em cima, olhem onde vocês estão. Olhem o que vocês estão usando. Olhem a oportunidade que Deus deu para cada um de vocês, como time, como ser humano, como homem, como pai de família. Escrever história! Escrever história! Vamos lá dentro e vamos atropelar, p…”.

SINOS DO INFERNO
Não é mais Hells Bells, como naquele dia, a música que toca nos alto-falantes do Morumbi na subida do time a campo. Em parceria com Andreas Kisser (guitarrista do Sepultura e amigo de Rogério Ceni), o clube produziu uma versão em rock do hino que será lançada antes do jogo desta quarta-feira. Para suavizar a saída do badalo dos sinos da banda australiana AC/DC, os jogadores têm subido do vestiário ao som do hino tradicional desde 12 de março.

Responsável por escolher a música anterior, em homenagem recebida da diretoria quando completou mil jogos, ainda em 2010, o goleiro e capitão são-paulino ouviu e aprovou o hino novo. “Ficou muito bacana”, elogiou, antes de lembrar que jamais determinou o rock australiano como trilha. “Não sei nem quem toca. Adoro AC/DC, mas cabe ao São Paulo escolher a música, o ritmo. Se é samba ou rock. Tem quem goste de outros ritmos”, sorriu, na terça-feira.

Com um gol dele próprio, em cobrança de pênalti, e outro de Ademilson, o São Paulo derrotou o Atlético por 2 a 0 e contou com vitória do Arsenal por 2 a 1 sobre o The Strongest. A vaga com pior campanha geral entre os relacionados colocaria o São Paulo frente a frente com a equipe mineira novamente nas oitavas de final e acabaria com o sonho do título. A preleção, no entanto, ficou para a história. E, dois anos depois, serve como inspiração para o goleiro de 42 anos, cujo contrato vence em 6 de agosto, dias depois da final da Libertadores.

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Nesta quarta-feira, basta uma vitória simples sobre o Corinthians para não depender de resultado ruim do argentino San Lorenzo (campeão da edição passada do torneio) diante do lanterna uruguaio Danubio, em Buenos Aires. A missão não é fácil, porém, já que a equipe não ganhou nenhum dos cinco clássicos disputados no ano, tendo sido derrotada duas vezes para o próprio Corinthians, que está invicto na temporada. Um desafio que deve merecer nova preleção especial.

“Normalmente vivo o ambiente, não ensaio. Tento naturalmente expor meu pensamento, o que eu acho. Mas vou tentar motivar ao máximo meus companheiros, tentar fazer o melhor que eu posso para que eles subam o túnel e encontrem com o torcedor com um ambiente propício, que a gente traga o torcedor para o nosso lado”, falou o capitão, nesta terça-feira, véspera do jogo que, se não houver sucesso após as palavras de motivação no vestiário, será seu adeus à Libertadores na carreira.

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