No Tricolor Japonês, Ademilson volta a marcar e vive terremoto dentro de campo

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Blog Futebol no Japão – Globo Esporte

Já pensou se você está no estádio e tudo começa a balançar com um terremoto de 8,5 graus na escala Richter? Foi o que aconteceu neste sábado durante a rodada da J-League, mas o Japão mostrou estar bem preparado. Poucos minutos de interrupção, nenhum dano registrado e, felizmente, sem alerta de tsunami. Ademilson, atacante do São Paulo que está emprestado por um ano para o Yokohama F-Marinos, estava em campo no Nissan Stadium (também conhecido como Estádio Internacional de Yokohama) e, apesar da intensidade bem maior que os tremores que atingem o Japão quase que diariamente, disse que praticamente não foi sentido pelos jogadores.

 

“Foi tudo meio de repente. O árbitro parou o jogo do nada e os jogadores ficaram se olhando sem entender. Até que o juiz fez o gesto de que estava tremendo, foi quando eu perguntei pro Lins [atacante do Gamba Osaka, do time adversário] e ele me disse que era terremoto. Nesse momento o jogo ficou uns seis minutos parado. Lá no campo eu não senti muito, mas minha irmã e meus amigos que estavam na arquibancada disseram que tremeu muito, que foi forte mesmo. Imagino o susto deles. Graças a Deus não afetou em nada a eles e nem a cidade, pelo que fiquei sabendo”, declarou o atacante em entrevista ao Futebol no Japão.

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Ademilson marcou seu quarto gol pelo Yokohama e disse que jogadores em campo nem sentiram o terremoto / Foto: Yokohama F-Marinos (site oficial)

 

O Marinos, único clube japonês a levar o apelido de Tricolore (pelas cores azul, vermelho e branco), fazia um bom jogo contra o atual campeão Gamba Osaka diante de 35 mil torcedores e vencia por 1×0 com gol de pênalti de Ademilson quando a partida foi interrompida, já no segundo tempo. A quinta vitória seguida, no entanto, não veio por causa de um gol sofrido nos acréscimos, por meio de outro brasileiro, Patric. Em quinto lugar na J-League, o Yokohama vive seu melhor momento no campeonato após um início bem devagar para um clube que carrega grandes expectativas – e pode-se dizer o mesmo de Ademilson. “Começamos muito irregulares no campeonato, mas agora já está bem melhor. Conseguimos achar uma maneira ideal para a equipe atuar. Encaixamos. Espero que continue assim”, anima-se.

 

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O brasileiro chegou em Yokohama como a grande contratação estrangeira da temporada, assim como o técnico francês Erick Mombaerts (ex-Le Havre, Toulouse e seleções de base da França). Tudo graças à parceria com o City Group, empresa emiratense sob a tutela do Manchester City que conduziu as negociações e detém de 20% das ações do Marinos. A imprensa japonesa criou um hype enorme pelo fato de Ademilson ter jogado nas seleções de base do Brasil desde o sub-17. A palavra “Seleção Brasileira” nas manchetes dos jornais parecia mexer com o torcedor nipônico e criar expectativas altas demais. “O que mais me chamou a atenção foi ver como os torcedores aqui no Japão são apaixonados por futebol. Não imaginava que fosse tanto assim”, revela Ademilson. “Torcedor japonês, assim como o povo de uma forma geral, é muito mais respeitador que os brasileiros. Aqui as pessoas sabem separar as coisas. Não confundem a vida pessoal com a vida profissional do atleta.”

 

O início da temporada teve altos e baixos. Com apenas três vitórias nas nove primeiras rodadas, o título do primeiro turno ficou praticamente fora de alcance. Ademilson também demorou para balançar as redes. Chegou perto em algumas ocasiões, com bola na trave, zagueiro tirando em cima da linha… Mas o primeiro gol só veio na sétima rodada. O segundo, na décima. Desde então o time está invicto e o brasileiro assumiu a artilharia isolada da equipe ao marcar contra o Gamba Osaka seu quarto gol no ano. “Eu estava naquela ansiedade de fazer o primeiro gol e acho que isso me atrapalhou um pouco. Hoje estou mais tranquilo”, afirma.

 


O telão do estádio exibe um aviso durante o terremoto, que foi sentido em todo o Japão: “Neste momento acontece um forte tremor. Mantenham a calma e garantam a própria segurança. Abaixem-se e protejam a cabeça.” / Foto: Yokohama F-Marinos (site oficial)

 

Mombaerts fez várias mudanças na equipe desde que o campeonato começou, em março. Ademilson já jogou tanto como centroavante quanto como meia pelos lados ou pelo centro. “Eu sou centroavante, mas gosto também de jogar um pouco mais recuado. Me sinto bem em ambas [as posições]”, garante. “Desde que cheguei aqui no Japão tenho uma coisa muito clara na cabeça: onde o treinador precisar eu jogo. Estarei disposto a ajudar sempre! Considero que consegui ir bem tanto quando joguei como centroavante, quanto quando joguei nas outras posições. O importante é você saber exatamente o que fazer quando é escalado. Assim você sempre vai fazer um bom jogo e ajudará o time.”

 

O 4-2-3-1 é a formação mais utilizada pelo técnico francês – ao lado, o time que enfrentou o Gamba Osaka neste sábado. Ademilson tem atuado como centroavante. Os outros estrangeiros do elenco também são brasileiros: o zagueiro Fábio Aguiar, que ganhou a posição do experiente Kurihara, e o atacante Rafinha, que ainda não recuperou a forma após lesões sofridas no fim de 2014 e na pré-temporada. Shunsuke Nakamura continua como o grande desfalque e vários nomes já foram testados na sua posição: Fujimoto, Kida, Ademilson e agora Mikado. O Marinos finalmente tem feito bons jogos sem seu camisa 10, mas a expectativa pelo retorno do MVP da J-League em 2013 é grande.

 


Ademilson sobre Shunsuke Nakamura: “Naka é um excelente jogador, um cara muito humilde e positivo pro nosso time. Todos o respeitam muito. Sabemos que quando ele voltar vai nos ajudar muito. Eu e toda a torcida do Marinos estamos ansiosos pra vê-lo jogar novamente.” Perto de completar 37 anos, Nakamura tem convivido com lesões e só atuou em duas partidas no primeiro turno / Foto: Getty Images

 

Já adaptado ao país e o campeonato, o jogador acredita ter tomado a decisão certa em se transferir para o Oriente. “No começo, quando fiquei sabendo que eu poderia vir pro Japão, fiquei meio indeciso, mas aceitei o desafio. Hoje não me arrependo e estou muito feliz aqui. É um país maravilhoso e tem um excelente campeonato. A única dificuldade que eu realmente tive, e ainda tenho, é a língua. Nos treinos tenho tradutor, mas fora deles complica um pouco. Mas também isso não é um bicho de sete cabeças. Consigo me virar (risos).”

 

Por fim, ele mantém o sonho de continuar vestindo a amarelinha e disputar as Olimpíadas do Rio 2016. Ano passado, o zagueiro Eduardo (Dudu) foi convocado pelo então técnico Alexandre Gallo para a seleção olímpica, o que mostra que até mesmo o futebol japonês é observado. “A J-League está crescendo muito. Hoje temos jogadores de alto nível na competição. Eu espero e quero muito continuar nos planos olímpicos da Seleção Brasileira. Tenho certeza que se eu estiver bem, vou ser lembrado pelo Dunga.”

 

 

Você sabia?
– Pelas seleções de base, Ademilson enfrentou o Japão no Mundial Sub-17 de 2011 e marcou gol. Na ocasião, ele enfrentou o hoje companheiro de clube Takuya Kida.
– A primeira partida do atacante em solo japonês foi em 2013, quando defendia o São Paulo. Ademilson jogou os 90 minutos da derrota por 3×2 para o Kashima Antlers na Copa Suruga.

 

Ademilson Braga Bispo Junior

Posição: Atacante

Data de nascimento: 09/01/1994 (21 anos)

Altura / Peso: 1,76 m / 74 kg

Clubes: São Paulo, Yokohama F-Marinos

 

Na J-League:

13 jogos (12 como titular), 4 gols, 2 assistências

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