Título do Brasileirão renderia ao SP mesma receita de vendas até agora.

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UOL

Guilherme Palenzuela

 

 

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  • Ricardo Nogueira/Folhapres

    Juan Carlos Osorio e Carlos Miguel Aidar: em duas semanas, de líder a criseJuan Carlos Osorio e Carlos Miguel Aidar: em duas semanas, de líder a crise

Em duas semanas, o São Paulo trocou a liderança do Brasileirão por uma crise. Em situação financeira delicada, que atualmente atrasa em quatro meses os pagamentos de direitos de imagem ao elenco, o clube optou por vender atletas para amenizar o rombo no caixa. Se há 15 dias era o líder do Brasileirão, com o melhor início da história dos pontos corridos, hoje tem cinco jogadores a menos no elenco e vê os efeitos dos problemas financeiros no futebol: time diferente, duas derrotas seguidas e declarações polêmicas que dão o tom da crise. Por enquanto, porém, a decisão de limpar o elenco não resolve problema algum e teria se revertido em receita semelhante caso o time fosse campeão do Brasileirão.

Se mantivesse a liderança de duas semanas atrás até o fim do ano, o São Paulo receberia pelo menos R$ 20 milhões em consequência do título do Brasileirão. A premiação da CBF ao campeão é de R$ 9,2. O clube ainda receberia R$ 8,4 milhões da Conmebol por participar da fase de grupos da Copa Libertadores e, além disso, teria ainda a receita de pelo menos essas três partidas – neste 2015, mesmo com público ruim em dois dos três jogos o São Paulo arrecadou R$ 5,8 milhões em bilheteria. No total, tomando como exemplo a arrecadação da bilheteria só da primeira fase deste ano, o título brasileiro renderia R$ 23,8 milhões.

O montante é semelhante ao que o São Paulo recebeu até agora com as vendas de Denilson, Paulo Miranda e Souza. O trio renderá aos cofres, somando as parcelas de direitos econômicos a que o clube tinha direito em cada caso, total de R$ 24,4 milhões. A questão é que as vendas desses atletas somadas à saída de Rodrigo Caio, por empréstimo, e à de Dória, em fim de contrato, parecem ter tirado o São Paulo do rumo que apontava há duas semanas. De líder, caiu para o 7º lugar na tabela, sofreu goleada de um rival e viu o técnico Juan Carlos Osorio, o meia Michel Bastos e o goleiro Rogério Ceni – três dos mais importantes personagens do clube – darem declarações duras sobre a crise. Como publicado pelo Blog do PVC, o São Paulo indica que abre mão do título ao se desfazer de cinco jogadores.

Osorio se mostrou incomodado com as saídas de tantos jogadores. Disse que, quando contratado pelo presidente Carlos Miguel Aidar e pelo vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro, foi informado que era necessário vender apenas um jogador – algo nunca escondido pela diretoria. Nos últimos dias, Michel Bastos afirmou que quando decidiu se transferir para o São Paulo ouviu que o clube não atrasava salários. Rogério Ceni, último da lista, falou após a derrota para o Atlético-PR, na quarta-feira (1), que entende a necessidade financeira do clube, mas que também entende a própria necessidade de ser campeão.

O grande problema do São Paulo é que a esperada venda de Rodrigo Caio não aconteceu. A transferência ao Valencia, da Espanha, foi fechada e anunciada, e renderia R$ 39,3 ao clube, que detém 90% dos direitos econômicos daquele que hoje é considerado a principal revelação entre os profissionais. Ressalvas apresentadas pelo jogador em um exame médico decorrentes de uma lesão no joelho de oito anos atrás, porém, fizeram o clube desistir da compra. Agora, negocia-se um empréstimo ao Atlético de Madri que renderá uma fração muito menor aos cofres são-paulinos.

Por enquanto, porém, já são quatro que deixaram o clube além de Rodrigo Caio ter a saída encaminhada – é muito pouco provável que ele volte a vestir a camisa do São Paulo nessa temporada. E, mesmo com todas essas vendas, as receitas até agora são as mesmas que o clube conquistaria se fosse campeão brasileiro, objetivo que agora parece mais distante.

Há, porém, uma considerável redução na folha salarial do futebol profissional. Antes em cerca de R$ 8 milhões mensais, hoje está pouco acima de R$ 7 milhões considerando a saída dos cinco atletas. O problema agora é conseguir escalar a equipe.

Como opções para a zaga ficaram no elenco apenas Rafael Toloi, Lucão e Edson Silva. Foi necessário promover ao elenco profissional o jovem Lyanco, de 18 anos, que já estreou na última partida – e estreou como volante, porque também não havia opções para o setor, uma vez que os titulares Denilson e Souza foram vendidos e Hudson, um dos reservas, estava suspenso. Hoje, por exemplo, é praticamente inviável que Osorio consiga planejar um esquema tático com três zagueiros. Só restaram três defensores, um quarto acaba de ser promovido e Breno ainda não é considerado como opção para jogo.

No meio de campo, também restaram poucos volantes. Se antes a posição era repleta de opções, hoje tem só Wesley, Thiago Mendes e Hudson. Os dois primeiros são considerados mais meias do que volantes pela atual comissão técnica – com Osorio, Wesley e Thiago jogaram primeiramente como meias abertos pelo lado direito. Além deles, o jovem Matheus Reis, outro promovido da base, aparece como opção. Antes, treinava quase apenas como lateral esquerdo e agora passa a ser opção no meio de campo.

É possível que o São Paulo ainda faça mais vendas para compensar o fracasso do negócio com Rodrigo Caio. O atraso salarial chegou a um nível desconhecido no clube, que durante toda a gestão anterior não deixou os vencimentos atrasarem. Caso realize outras transferências, no entanto, é improvável que o clube se desfaça de zagueiros ou de volantes. A diretoria não está disposta a contratar neste momento.