Joga-se sem controle no Brasil, mas com emoção, diz Osorio

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FOLHA DE SÃO PAULO – RAFAEL VALENTE

Jorge Araujo/Folhapress

Carlos Osório, técnico do São Paulo, fala com exclusividade para a Folha no CT da Barra Funda

Falar de futebol é algo que agrada a Juan Carlos Osorio, 54, técnico do São Paulo há 56 dias e que chegou ao Brasil com o apelido que o fez famoso na Colômbia: professor.

Com formação focada no esporte, com cursos reconhecidos pela Uefa (associação europeia de futebol), o colombiano não veio só para ensinar. Está aprendendo e se adaptando ao futebol local.

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Uma diferença ele já sentiu: o comportamento do jogador brasileiro em campo.

Não os atos de indisciplina, como reclamações dos atletas ao serem substituídos, e sim o estilo de jogo. Para Osorio, o brasileiro é mais emotivo que em outros países por tomar decisões não necessariamente táticas.

Ao receber a Folha no centro de treinamento do São Paulo, onde está morando desde que chegou ao Brasil, reforçou que a constatação não é uma crítica, mas sua avaliação do nosso estilo.

*

Folha – Como está a adaptação do senhor ao Brasil?

Osorio – As minhas expectativas estão correspondendo ao dia a dia. Infelizmente, a maior barreira é o idioma. Fiz quatro aulas de português até agora, mas não falar fluentemente atrapalha. A mensagem é muito importante para que os jogadores entendam meus métodos de trabalho.

Qual é o método do senhor?

É mesmo dos americanos: perguntas e respostas. O mais importante é conhecer a opinião do jogador. Não se trata de impor minha decisão, mas sim fazê-los entender que há outras maneiras de jogar futebol. Minha forma de treinar está totalmente ligada à minha formação acadêmica.

O que propõe aos jogadores?

Tomada de decisão. O ser humano toma decisões a todo momento na vida. O futebol é assim. Minha responsabilidade é desafiar os jogadores nos treinos para que eles tomem as melhores decisões e repitam elas nas partidas.

De onde veio a inspiração?

Da vida. A maior decisão que tomei foi aos 23 anos. Jogava na Colômbia e decidi ir aos EUA estudar e trabalhar [na construção civil, operando britadeira] para ser treinador. Isso mudou minha vida. Na Inglaterra, onde fui auxiliar técnico no Manchester City [2001-2006], aperfeiçoei o método. É a melhor forma de trabalhar com jogadores.

O senhor disse que o jogador brasileiro é mais emotivo. Poderia explicar melhor?

Utilizei essa expressão para descrever como se joga no Brasil: sem controle do jogo, mas com emoção. O jogo dá inúmeras possibilidades, mas não há princípios que regem a decisão do jogador brasileiro. Um jogador pode dar um passe de letra [calcanhar] no jogo, mas essa jogada é válida na área rival. Não tem sentido no meio ou na defesa. Na Europa não se permite. Aqui, se o técnico não tem regras específicas, o jogador faz isso em qualquer parte do campo.

Ainda estou conhecendo o Brasil. Já investiguei que os jogadores do Sul sofrem menos riscos durante o jogo, são mais equilibrados. Por outro lado, os jogadores do Rio são mais alegres, têm mais liberdades e arriscam mais.

Como tem feito para estudar o futebol brasileiro?

Pergunto, observo e converso com jogadores e técnicos. Acompanho o futebol brasileiro há 20 anos. Não é surpresa o que estou vendo.

Infelizmente, as torcidas influenciam muito as decisões dos clubes. Outro dia estava decidido a assistir um jogo em São Paulo e me aconselharem a não fazer pela rivalidade. Na Inglaterra, assisti muitos jogos e nunca houve problema. Depois dos jogos, conversava com os técnicos. Havia uma troca de informações entre nós. É uma maneira de aprender e melhorar. Acredito que os clubes devem trabalhar juntos para melhorar o espetáculo.

Os americanos foram mal na Guerra do Vietnã por não conhecerem o cenário, o ambiente e o adversário. O mesmo conceito vale no futebol.

Após a Copa-14, criou-se um consenso de que o futebol brasileiro está atrasado tecnicamente. O que acha?

A discussão é correta. Se deve falar e confrontar o futebol. Creio que outros técnicos vieram aqui para aprender sobre o futebol brasileiro. Talvez tenham entendido como pensam, trabalham e jogam os brasileiros. E os brasileiros não se deram a oportunidade de conhecer outros países e outras formas de treinar.

Mas não posso dizer que o Brasil está atrasado. O campeonato é muito bom, tem bom nível técnico, com oito grandes times. Acredito só que o futebol brasileiro não avançou tanto como avançaram os outros países.

Nesses 50 dias, aprendeu algo com o futebol brasileiro?

Aprendi muitas coisas. Vou falar de uma. Aqui temos saudades. É natural. Os argentinos têm de Maradona, os franceses têm de Zidane. E o Brasil tem de Falcão, Zico, Pelé… Isso é bom, mas também é mal. Atrapalha o progresso. Os grandes exemplos devem ser ponto de referência para produzir atletas similares.

Qual marca o senhor gostaria de deixar no São Paulo?

O mais importante é que me reconheçam como um profissional consagrado, que trabalhou o máximo para fazer o São Paulo e os jogadores alcançarem o sucesso.

RAIO X – JUAN CARLOS OSORIO

NASCIMENTO
8.jun.61 (54 anos), em Santa Rosa de Cabal, na Colômbia

FORMAÇÃO ACADÊMICA
Graduado em ciências do exercício físico e do rendimento humano pela Univ. Southern Connecticut; pós-graduado em ciências superiores de futebol pela Universidade de Liverpool

CLUBES QUE TREINOU
Millonarios-COL, Chicago Fire, New York, Once Caldas-COL, Puebla-MEX e Atlético Nacional-COL

PRINCIPAIS TÍTULOS
4 Campeonatos Colombianos e 2 Copas da Colômbia

2 COMENTÁRIOS

  1. O São Paulo com uma dívida de quase 300 milhões. Inacreditável.
    Não pode ter sido na gestão do atual presidente, claro que vem da longa e desastrosa gestão J.J.
    Como as prestações das contas foram aprovadas? Alguma
    “ pedalada “, para usar a palavra da moda?
    Há dívidas inexplicáveis – histórias mal-contadas de “ comissões” em negociações de jogadores de há muito esquecidos, como Souza, Jorginho Paulista ( este já deve ter até abandonado o futebol).
    E os 300 ( TREZENTOS) conselheiros são cegos? Analfabetos? Ou, no São Paulo, todos se locupletam?
    Em “ Comente São Paulo x Cruzeiro” – “ Bola Cheia “– “ Bola Murcha “
    os torcedores preferem criticar Osório e um ou outro jogador.
    Devem, antes de tudo, examinar o elenco – mínimo – e o atual estagio do futebol brasileiro.
    Dizem que o São Paulo procura um zagueiro na Série B – não encontrará nunca. Quando aparece algum, um pouco melhor, são enviados imediatamente para fora do país pelos famosos Agentes, profissão perfeitamente regulamentada pela FIFA. No ano passado o Brasil bateu o recorde – em Valor – na exportação de jogadores.
    Reparem no banco do São Paulo no jogo de ontem; não havia nem 10 jogadores. E no DM, Daniel – que já chegou quebrado, Bruno – que reveza com Carlinhos no DM – Wesley e um dos reservas de Rogério, que não faz nenhuma falta ao elenco.
    Lucão é zagueiro; Edson também é zagueiro – juntos podem ir para a segunda divisão, mas se saírem farão falta ao elenco.
    Não podemos criticar os jogadores e nem a Osório que não pode jogar com a mesma escalação dois jogos seguidos.
    Melhor exigir a dispensa de Rogério – 700 mil – Luiz Fabiano – 600 mil – Ganso – 400 mil – que ganham muito em proporção ao que fazem em campo. E colocar em dia os salários dos demais.
    E só para recordar: onde estão Caramelo, Roni, Cañete, o lateral esquerdo argentino de um só jogo e consequente expulsão ( esqueci o nome), etc., “ grandes “ contratações da era J.J.?
    Devem estar na coluna DEVE do balanço do São Paulo.