GloboEsporte
Leonardo Lourenço
Clube abre mão de jogadores como Alexandre Pato para readequar folha à realidade.
A rescisão do contrato do atacante Alexandre Pato, que deixou o São Paulo na última quarta-feira, foi o ponto alto de um movimento em curso no clube para readequar a folha de pagamento à realidade do Morumbi, uma linha ultrapassada ainda antes da crise causada pela pandemia de Covid-19.
Segundo estudo do banco Itaú BBA, o São Paulo teve aumento substancial nos custos com pessoal, o que inclui os salários de atletas, entre 2018 e 2019 – a despesa passou de R$ 168 milhões para R$ 234 milhões.
Houve um comprometimento maior das receitas no ano passado do que no anterior com esse item. Em 2019, a despesa com pessoal representou 63% de toda a receita do São Paulo (era de 40% em 2018). Como comparação, no Flamengo, campeão brasileiro e da Libertadores, essa relação entre custo com pessoal e receita total ficou em 43% no ano passado.
Alexandre Pato na eliminação do São Paulo para o Mirassol — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Como se sabe, esse aumento de gastos não representou conquistas esportivas. Em 2019, o São Paulo foi vice-campeão estadual e sexto colocado no Brasileiro. No início da temporada, foi eliminado pelo Talleres, equipe argentina de pouca expressão, ainda na fase preliminar da Libertadores.
Neste ano, o São Paulo direcionou investimentos na manutenção do elenco, como na compra dos direitos do goleiro Tiago Volpi, por US$ 5 milhões, até então emprestado pelo Querétaro, do México.
A temporada ainda não chegou à metade, mas o time já encarou a frustração de uma eliminação para o Mirassol nas quartas de final do Paulistão, o que gerou pressão sobre o técnico Fernando Diniz e repetidos protestos de torcedores.
Informalmente, dirigentes do São Paulo afirmam que o clube irá deixar de pagar cerca de R$ 35 milhões a Alexandre Pato, que tinha contrato até o final de 2022. Além dos salários previstos até o fim do vínculo, o jogador teria perdoado dívidas por salários e luvas atrasadas em troca da liberação – ele é apontado como provável reforço do Internacional, onde surgiu na década passada.
Outra movimentação no mesmo sentido foi a troca feita com o Grêmio, que levou o meia Éverton para Porto Alegre e transferiu o atacante Luciano para o Morumbi – o primeiro reforço do time no ano.
A conta do São Paulo é de que Luciano, apresentado na última quarta-feira, custe cerca de um terço do que o clube pagava a Éverton.
O meia era reserva de Fernando Diniz, com poucas chances na temporada. Além disso, Luciano é mais jovem do que Éverton, o que facilita uma eventual negociação futura.
Outro que deixou o São Paulo neste mês foi o zagueiro Anderson Martins. Reserva, com vínculo só até o fim do ano, foi liberado e rescindiu contrato.
O volante Jucilei passou por situação semelhante. Fora dos planos, mas com contrato até o final de 2021, topou uma rescisão. Receberá os valores a que tem direito de forma parcelada pelos próximos quatro anos – o clube ainda prevê uma economia de R$ 6 milhões com impostos.
A necessidade de acertar as contas se dá após uma cartada cara e fracassada da diretoria, que nas duas últimas temporadas abriu os cofres para reforçar o time sem colher os títulos que espera desde 2012, quando conquistou a Copa Sul-Americana.
No ano passado, por exemplo, o clube surpreendeu ao contratar Daniel Alves, capitão da conquista da Copa América semanas antes. Livre após o fim do contrato com o PSG, o jogador ganha o equivalente a R$ 1,5 milhão por mês, somados luvas, salários, bônus e imagens.
São Paulo ainda busca parceiros para dividir pagamentos de Daniel Alves — Foto: André Durão
Na época, o São Paulo afirmou que buscava parceiros que dividiriam essa conta em troca de exploração da imagem do atleta. Um ano depois, esse plano ainda não saiu do papel. Daniel Alves, por outro lado, tem sido um dos jogadores mais regulares do time.
Os primeiros sinais de desgaste do modelo proposto pela administração do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva surgiram no começo do ano, quando os salários dos atletas atrasaram por dois meses.
Quando o Campeonato Paulista foi paralisado por causa da crise do novo coronavírus, o São Paulo sugeriu um corte temporário nos pagamentos dos jogadores, com a promessa de reembolso futuro.
Os jogadores não aceitaram, mas a diretoria, sem saída, impôs um corte de 50%, mesmo assim. Em julho, quando parte do dinheiro da venda de Antony ao Ajax chegou ao Morumbi, o clube conseguiu minimizar os atrasos.
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