GazetaEsportiva
Marcelo Baseggio
Roberto Natel é o candidato à presidência do São Paulo pela chapa “Resgate Tricolor”. Depois de superar Marco Aurélio Cunha e Sylvio de Barros na convenção para definir quem disputaria o pleito por esse grupo político, o sobrinho do patrono tricolor, Laudo Natel, e atual vice-presidente do clube conversou de forma exclusiva com a Gazeta Esportiva para falar sobre seu plano de governo e analisar o que vem sendo feito de errado pela atual gestão.
Apesar de ser vice-presidente do São Paulo, se engana quem pensa que Roberto Natel tem uma boa relação com Leco, mandatário do clube. Após se desentenderem por determinadas escolhas do presidente, o agora candidato pela chapa “Resgate Tricolor” passou a sofrer represálias que tornaram o vínculo entre as partes insustentável.
“Sem dúvidas, me considero oposição. Ainda sou vice-presidente do São Paulo, fui eleito e tenho que honrar os votos que ganhei. Quando o Leco começou a contratar conselheiros remunerados, comecei a questioná-lo. A partir desse momento, ele começou a ter atitudes que eu não achava corretas e passei a combatê-lo”, afirmou.
Por causa das diversas discordâncias com Leco, Roberto Natel teve seus pertences retirados do ambiente que até então servia como sua sala no estádio do Morumbi. Desde então, o clima, que já não era nada bom, ficou pior.
“O que mostra que sou oposição? Quando alguém tira a sua sala, não te chama para reuniões da diretoria… eu, como vice-presidente, ficava sabendo das coisas depois que elas aconteciam. Mas, se você olhar as minhas atitudes, eu votava contra aquilo que achava que estava errado. Sou oposição, e o candidato do outro lado [Julio Casares] é situação, isso está bem claro, não tem como desvincular disso”, completou.
Sobrinho de Laudo Natel, que, para muitos, é considerado o maior presidente da história do São Paulo por ter sido o grande responsável pela construção do Morumbi, além de ter governado o estado em dois mandatos, Roberto Natel, com a força de seu sobrenome e de suas ideias, espera vencer as eleições presidenciais, marcadas para dezembro deste ano, e se prepara para solucionar problemas nada simples, em diferentes áreas do clube. Abaixo, você confere a entrevista na íntegra com o candidato da chapa “Resgate Tricolor” ao pleito.
Pilares do plano de governo
O principal é ter governança com transparência, ética e responsabilidade. Hoje o SPFC perdeu isso, o SPFC vem contratando muito mal, sem critérios. A próxima gestão terá um grande problema, que é a parte financeira. Então, junto com uma equipe que está sendo formada, diretoria financeira, administrativa, marketing, todas elas terão alto executivos com meritocracia e um comitê por baixo de cada um deles. A principal meta é resgatar o que era o SPFC. A dívida está se tornando monstruosa, em torno de 570 milhões, um pouco maior até dezembro. O foco é renegociar essas dívidas, fazer com que o SPFC cumpra seus deveres, ter um comitê de crise que vai analisar as dívidas e definir o que é a curto, médio e longo prazo. No setor de marketing, inovações tecnológicas, trazer novos recursos. Na parte social incentivaremos a mulher a participar da gestão. Então, existem vários pilares, mas nesse primeiro momento o grande foco é resgatar a credibilidade, mostrar responsabilidade, compliance e, acima de tudo, a transparência, que vem faltando muito no SPFC.
Austeridade financeira
Nós vamos resgatar aquilo que o SPFC perdeu, era um SPFC diferente, não melhor que os outros, vanguarda, cuidava bem da sua receita, algo que hoje não faz mais. Então, sem dúvida nenhuma, minha gestão vai estar focada em gastar menos do que arrecadamos. Aí, sim, começamos a recolocar o São Paulo no caminho certo. Vamos gastar menos, tentar arrecadar mais com novos caminhos de informática, TI, e contratar com coerência. O SPFC tem um bom elenco hoje, trouxe grandes jogadores, não teve responsabilidade de buscar um parceiro para aguentar esse caixa. Então, teremos um time forte, mas com a realidade do SPFC. O presidente que assumir, tem que estar focado em recolocar o SPFC no caminho da vanguarda, de administração séria, competente e transparente. Vou fazer isso. Nunca sozinho, porque a partir do momento que você tem uma equipe em diferentes áreas, você erra menos, porque você vai ouvir e discutir mais antes de tomar qualquer providência.
Flamengo como exemplo?
O SPFC vai ter que se espelhar um pouco no Flamengo, mas não quer dizer que vamos ficar sem títulos, porque o SPFC tem como reverter essa situação. O SPFC é um time que tem um faturamento grande, não está com o faturamento ideal, porque perdeu a credibilidade, e as empresas querem vincular suas marcas onde serão bem vistas. Então, você precisa voltar a ter credibilidade, transparência. O SPFC tem que focar em como gastar menos, ver o que o Flamengo fez, seguir nesse sentido, mas, com certeza, teremos um time forte, coerente e com salários condizentes à realidade do SPFC. Temos jogadores com salários altíssimos, iremos administrar. O SPFC continuará cumprindo com suas obrigações, mas o presidente que entrar tem que saber que ele vai administrar para deixar as finanças do clube em ordem para o próximo presidente.
Queda de receitas
É complicado culpar só o marketing. Quando o clube perde a credibilidade, fica difícil pro marketing. É claro que o marketing está devendo bastante, mas não é o único culpado. O grande culpado é o presidente, que não teve coerência com seus gastos, expôs o SPFC a situações ruins.
Separação entre a área social e o futebol do São Paulo
O social é alto suficiente, não foi feito pra ganhar dinheiro, mas, sim, para equilibrar suas contas, é como um condomínio. O social não é um problema. Sou favorável de fazer o sócio-torcedor do futebol, que após x anos, possa votar para presidente. Você abre um leque muito grande para aqueles que tem interesse em votar para o São Paulo. Isso tem que haver uma mudança de estatuto. Também acho muito importante fazer com que o sócio do social vote direto para presidente. Então, se Deus quiser, farei essas duas mudanças no estatuto. Temos que modernizar e deixar o número muito maior de pessoas que votam para presidente.
Demora para sua definição como candidato à presidência
Não acho que vai me prejudicar, porque tenho praticamente 3 meses pra mostrar o plano de governo. Passei por uma convenção com o MAC e Sylvio de Barros, então, é natural essa demora. O Julio Casares começou muito antes, está se desgastando cada vez mais. A torcida pode ficar tranquila, o plano de governo já está pronto, estamos apenas dando mais uma estilizada.
Oposição apesar de ser o vice-presidente da “gestão Leco”?
Sem dúvida me considero oposição. Ainda sou o vice-presidente do SPFC, fui eleito e tenho que honrar os votos que ganhei. Quando o Leco começou a contratar conselheiros remunerados, comecei a questiona-lo. A partir desse momento, ele começou a ter atitudes que eu não achava correto e passei a combate-lo. O que mostra que eu sou oposição? Quando alguém tira a sua sala, não te chama para reuniões da diretoria. Eu, como vice-presidente, ficava sabendo das coisas depois que elas aconteciam. Mas, se você olhar as minhas atitudes, eu votava não naquilo que achava que estava errado. Sou oposição, e o candidato do outro lado é situação, isso está bem claro, não tem como se desvincular disso.
Leco é o pior presidente da história do São Paulo?
O Leco foi muito mal. Não gostaria de dizer se foi o pior ou não. Foi muito mal. Meu concorrente sem dúvida nenhuma é da situação, pois votou todas as vezes a favor da gestão, tanto no Conselho de Administração quanto no Conselho Deliberativo. Se você ver, o SPFC estrou a terceira camisa esses dias, com a mesma cor da chapa do meu concorrente. Como ele se diz oposição se há essa coincidência muito grande, a cor da terceira camisa é da mesma cor que a campanha dele? Quem está lá dentro do SPFC sabe que ele é situação.
Você é membro do Conselho de Administração do São Paulo. As decisões do futebol passam pela aprovação do Conselho? Havia alguma maneira do Conselho frear os investimentos milionários do clube em contratações de estrelas?
O que passou no Conselho de Administração são coisas que já estavam prontas, já haviam acontecido. No estatuto diz que a parte do futebol não precisa passar pelo Conselho de Administração. O Conselho de Administração não teve nenhum poder de dizer “contrata” ou “não contrata”. As coisas já estavam prontas. A gente questionava e recebia uma resposta só para mostrar o que havia sido feito.
Profissionais do mercado para diferentes áreas do clube
Eu fiz um abaixo assinado há um tempo que consegui 109 assinaturas de conselheiros que acabava com a remuneração de conselheiros. Naquele momento consegui fazer com que o SPFC revertesse essa situação, só que estranhamente fizeram uma manobra para que isso só acabasse em abril de 2020. Tive o sucesso com esse abaixo assinado, mas isso foi adiado. A partir de abril de 2020 o conselheiro não pode ser remunerado. Eu vou trazer profissionais de mercado, com meritocracia, diretor financeiro referência, diretor de marketing referência.
Morumbi concorrente do Allianz Parque
Eu tenho conhecimento, quais são as necessidades para voltar a ser concorrente direto do Allianz. Vamos fazer algumas modificações no Morumbi para que o SPFC se torne uma casa e shows de novo. Sei como fazer isso. No Concept Hall você precisa dar uma modernizada, fazer com que as pessoas frequentem o estádio em dias que não tenham jogos.
Reforma do Morumbi
Isso é impossível. Se você entrar no Morumbi, verá que o estádio está impecável, concreto, tubulações… em relação às outras arenas, o Morumbi não fica devendo em nada. É óbvio que nas arenas atuais são como caldeirões, o Morumbi não é um caldeirão, mas é um grande estádio, com história, demorou 20 anos para ser construído. Vamos, sim, modernizar o que é possível, porque temos que sanar dívidas. Como vou pensar em fazer altas reformas no Morumbi se o foco principal é sanar a dívida do SPFC?
Decadência do São Paulo
Eu diria que o SPFC parou no tempo. Além de parar no tempo, as pessoas que participavam da gestão estavam mais preocupadas com elas, não com o SPFC. Precisamos de pessoas que vão trabalhar pelo SPFC, para ganhar títulos. A partir do momento que você cria uma equipe engajada no mesmo objetivo, você começa a ter credibilidade. A partir do momento que você mostra transparência quando é questionado no Conselho de Administração, no Conselho Deliberativo, o SPFC começará a retomar seu caminho.
Daniel Alves deve ficar no São Paulo?
O SPFC sempre cumpriu com os contratos que tem. O Daniel Alves tem contrato e o SPFC vai cumprir. Se por acaso o Daniel Alves quiser sair do SPFC, aí vamos conversar. Mas, o SPFC sempre cumpriu e vai cumprir. O presidente que entrar terá que cumprir com isso e tentar modificar, fazer com que gaste menos mesmo tendo esses jogadores e a alta folha salarial. O presidente vai receber um time com esses profissionais, então o presidente tem que assumir isso e tentar mudar através de novos recursos, patrocínios, parceiros.
Aproveitamento do CT de Cotia
Eu sou da opinião que temos que fazer essa integração, aproximar o profissional de Cotia, fazer integração com técnicos da base, você vê o técnico do profissional. Tem que ter mais acesso nesse sentido, jamais abandonando o CT da Barra Funda. Mas, o diretor de futebol não só cuidará do profissional, mas também de toda a estrutura do futebol do SPFC. A diretoria de Cotia será subordinada ao diretor de futebol. Vamos fazer treinos mais próximos dessa garotada, para que os meninos se acostumem com os ídolos e tenha tranquilidade quando receber uma oportunidade no time de cima.
Raí e Alexandre Pássaro seguem na diretoria de futebol na sua gestão?
Sobre isso eu não falo, porque o São Paulo está aí com campeonatos, eles são os diretores atuais. Se eu assumir em janeiro, aí sim vou sentar e conversar, ver o que será feito. Quem vai tomar todas as providencias será o diretor de futebol, um profissional com um comitê de cinco pessoas para gerir essa parte, ver quais são as dificuldades que o clube está tendo. O presidente vai fazer o papel de presidente, que é ir na CBF, na FPF, na Conmebol, falar com parceiros, bancos. O papel do presidente é colocar pessoas qualificadas em cada diretoria e dar condições para essas pessoas cumprirem as metas estabelecidas.
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