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André Rocha
Fernando Diniz afirmou na coletiva depois dos 4 a 1 sobre o Flamengo que o São Paulo jogou melhor contra LDU e Palmeiras do que no Maracanã. Opinião respeitável, de fato o tricolor do Morumbi não precisou tanto de Tiago Volpi nas vitórias anteriores. Mas talvez o treinador saiba também que a grande atuação da equipe que comanda passe fundamentalmente pelos problemas que o adversário vive e teve que encarar especificamente para este jogo.
Diniz treinou o Athletico e conhece bem a grama sintética da Arena da Baixada. Certamente viu o desgaste imenso do Flamengo no jogo de ida da Copa do Brasil. Acrescentou na conta o cansaço da viagem de volta e, principalmente, a falta de reposição no mesmo nível. Domènec Torrent teria que levar praticamente os mesmos jogadores a campo no jogo que virou decisão do turno do Brasileiro com a derrota do Internacional para o Corinthians no sábado.
No vestiário é certo que usou um discurso de Davi x Golias muito comum no futebol brasileiro. Contra o “bicho papão” do país seria preciso colocar intensidade e concentração máximas. Até o outrora disperso Daniel Alves entrou ligado, com postura de capitão, e o “blasé” Raí, hoje dirigente, foi pressionar a arbitragem como em uma final de campeonato. Mas Diniz sabia que seu time venceria por ter mais pernas que o rival, mesmo tendo encarado o Lanús pela Sul-Americana e também uma viagem que sempre influi na recuperação e no rendimento do jogo seguinte. Mas em grama natural do Estádio La Fortaleza, não sintética.
“Pode entrar, pode entrar!” eram os gritos do técnico do São Paulo estimulando seu time a marcar no campo do Flamengo. Com Igor Gomes pela esquerda bloqueando Isla e Gabriel Sara se juntando a Tche Tche para atacar o lado de Filipe Luís, que não tinha sempre o auxílio de Bruno Henrique sem bola. Atacante rubro-negro que sentiu a virilha e saiu da Arena da Baixada na quarta-feira arrastando as pernas de tantas câimbras. O gol de Pedro na ligação direta de Hugo para o desvio no alto de Vitinho para o centroavante ganhar da marcação e bater de pé esquerdo no canto direito de Volpi foi um imprevisto dentro do plano de exaurir o adversário física e mentalmente. Mas não mudou a proposta.
Um acerto, porque o São Paulo já era superior e seguiu pressionando. O homem com a bola e também fechando as linhas de passe. Atento a Gerson, poupado na quarta e o único capaz de entregar fisicamente. Não por acaso o melhor rubro-negro em campo. Porém sobrecarregado pela presença do jovem João Gomes, que precisava de suporte em uma estreia desde o início forçada pelas ausências dos suspensos Willian Arão e Thiago Maia e depois de uma semana servindo à seleção sub-20.
Os zagueiros eram as outras novidades na escalação. Mas pressionados e expostos ajudariam pouco. Para piorar, Natan tinha a preocupação de estar pendurado com dois amarelos e Gustavo Henrique viveu uma tarde desastrosa, para esquecer. Falhas grotescas em dois gols e errou na tática do impedimento no quarto e último.
Melhor para o São Paulo de Brenner inspirado, marcando oito gols nos últimos seis jogos. De Luciano incansável ajudando a preencher o meio na execução do 4-4-2 que tinha Luan onipresente na proteção da defesa concentrada para evitar os lampejos do adversário. Quando falhou lá estava Volpi para defender as cobranças de pênalti de Bruno Henrique e Pedro. A tarde mágica ainda teve chute no travessão de João Gomes e assistência para Luciano fechar o placar.
Deu tudo certo para Diniz e seus comandados por conta de uma coragem muito bem calculada e exaltada na entrevista do treinador ainda no Maracanã. Sem dúvida uma virtude conquistada e que deve servir como mais uma referência para um time que oscila, mas é o que menos perdeu pontos em um campeonato maluco e absolutamente imprevisível. Também porque o atual campeão e outrora favorito absoluto convive com problemas bem diferentes do cenário de 2019. Sem confiança no aspecto físico pela maratona insana, hesita ao fazer pressão no campo adversário e a defesa, tão questionada e sem tempo para treinar, também vacila e não acompanha o movimento, deixando espaços generosos entre os setores.
São raros os desarme dos atacantes exaustos e sobra o temor de enfrentar uma avalanche com muito espaço para correr para trás. Em Quito contra o Del Valle e em casa contra o São Paulo foi inviável colocar em prática uma estratégia obrigatória pela condição de favorito da qual o Flamengo não pode fugir.
Por causa de um elenco que Domènec nunca consegue ter à disposição. Pedro Rocha e Rodrigo Caio foram e voltaram do campo para o departamento médico. Gabigol vive em longo processo de transição e Arrascaeta foi outro que se lesionou, na seleção uruguaia, e não retornou ao time por causa de outra contusão. A estrutura que entregou Filipe Luís, Arrascaeta e Diego antes do previsto para Jorge Jesus no ano passado não consegue ajudar o atual treinador com a mesma eficiência.
É claro que a atenuante da inatividade sem precedentes por conta da pandemia deve ser levada em conta, mas o fato é que Dome está trabalhando com os mesmos atletas há algum tempo e não dá para contar com Lincoln e Michael, por exemplo, para mudar jogos grandes. Contra o São Paulo pesaram muito as ausências de Gabigol, cobrador oficial de pênaltis, e Rodrigo Caio, melhor zagueiro do elenco, Nada que tire os méritos do São Paulo de Diniz. Do golaço de Tche Tche, da precisão de Reinaldo na cobrança de pênalti e dos zagueiros Diego Costa e Bruno Alves que venceram com sobras o duelo com Pedro. Das oito finalizações no alvo de treze, dos 21 desarmes contra 16. Da entrega absoluta para construir uma goleada improvável.
Mas muito bem planejada por um treinador que foi ao Maracanã sabendo exatamente o que enfrentaria. Voltou com mais paz e respaldo para seguir com um trabalho tão contestado e que, ele sabe, será questionado no próximo revés. Fernando Diniz deve até gostar dessa desconfiança. De certa forma, ela ajudou a ser “zebra” contra o favorito e tornou o triunfo ainda mais emblemático.
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