Três anos de Raí no SPFC: sem Leco, ídolo tem futuro incerto no Morumbi

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UOL

Thiago Fernandes

Raí completa, nesta segunda-feira (7), três anos como dirigente do São Paulo. À frente do futebol neste período, ele tem o futuro indefinido no Morumbi por causa da eleição presidencial marcada para o próximo sábado (12). O UOL Esporte explica por que o ídolo está praticamente fora do clube a partir de 2021, mesmo com o time em um bom momento no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil.

Há mais de um motivo para a sua provável saída do CT da Barra Funda — eles envolvem resultados abaixo do esperado e também falta de força nos bastidores. O balanço também tem pontos positivos. Agora, o novo presidente vai tirar sua conclusão e, segundo apurou a reportagem, o caminho mais provável é o da troca no comando.

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Ausência de títulos Uma tônica do São Paulo nos últimos oito anos é a ausência de conquistas. O clube não ganhou nem sequer o Campeonato Paulista neste período, que compreende também a gestão de Raí. O mais próximo de uma taça que a equipe chegou foi a final do Estadual de 2019, perdida para o Corinthians. Em outras competições, o Tricolor paulista passou longe de títulos. Contratações caras e questionáveis.

Diego Souza, atacante do São Paulo - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF

Sob a gestão de Raí no futebol, o São Paulo exagerou nos gastos. O clube pagou valores elevados por atletas que não renderam o esperado. Por exemplo, o goleiro Jean, o meia-atacante Everton Felipe e o atacante Tréllez custaram R$ 18 milhões ao todo. O trio foi pouco utilizado no Morumbi. Os três, inclusive, acumularam empréstimos durante a passagem pela equipe paulistana. Jean, hoje, defende o Atlético-GO. Tréllez chegou a ir para o Internacional, mas defende o elenco comandado por Diniz neste momento. Everton Felipe defendeu Athletico-PR, Cruzeiro e Atlético-GO desde que desembarcou na capital paulista.

Há outros jogadores além do trio que receberam contestações. Diego Souza, adquirido por R$ 13,46 milhões, também foi muito questionado. O atacante chegou ao São Paulo após deixar o Sport e acabou liberado — sem custos — para defender o Botafogo no mercado da bola. A sua contratação, sobretudo pelos valores de bônus, recebeu questionamentos no Conselho Deliberativo. Everton deixou o Flamengo para ir ao Morumbi por R$ 15 milhões. O atacante, no entanto, não deu certo em sua passagem pela capital paulista. No meio deste ano, acabou trocado por Luciano. Hoje, ele defende o Grêmio.

Alexandre Pato é um capítulo à parte na história de Raí no São Paulo. Contratado após rescisão com o Tianjin Tianhai, da China, o atleta recebeu ressarcimento do clube pela quebra do vínculo na Ásia. O valor era estimado em 2,5 milhões de euros (R$ 11 milhões à época). Em um ano de contrato, recebeu R$ 14,7 milhões de salários no CT da Barra Funda. Os valores elevados gastos com o atleta não refletiram o esperado em campo. Não à toa a diretoria acertou a rescisão contratual do jogador nesta temporada.

Demissão de Aguirre.

Diego Aguirre, técnico do São Paulo - Marcello Zambrana/AGIF - Marcello Zambrana/AGIF

A saída de Diego Aguirre do São Paulo foi tratada como mais um equívoco cometido da gestão de Raí. O próprio dirigente reconhece que a demissão do uruguaio, em novembro de 2018, foi um erro de avaliação do departamento de futebol. Em abril passado, durante entrevista à Rádio CBN, o ex-jogador reconheceu o equívoco na saída do técnico.

“Houve erros, mas prefiro no fim da minha passagem fazer uma avaliação mais fria. Vai passando o tempo e a gente vai tendo mais clareza. A saída do Aguirre foi em um momento em que a decisão foi difícil. Ficamos na liderança, depois fizemos uma das piores campanhas em um turno. Depois da saída dele, acabamos patinando, tínhamos uma reta final para ficar entre os quatro e a mudança acabou não dando resultado. Acho que são coisas que com o tempo a gente vai avaliando e levando em consideração se foi o melhor caminho. Isso acabou fazendo com que a gente patinasse bastante no começo de 2019”, declarou.

O responsável pelo esporte no Morumbi decidiu demitir o estrangeiro que ocupava a quinta colocação do Campeonato Brasileiro de 2018. À época, ele tinha 43 partidas à frente do time, com 19 vitórias, 15 empates e nove derrotas. Aguirre fechou o primeiro turno do Brasileirão na liderança, com 71,9% de aproveitamento. Eliminações vexatórias.

Disputa durante a partida entre São Paulo e Mirassol - Rubens Chiri / saopaulofc.net - Rubens Chiri / saopaulofc.net

As decisões extracampo culminaram em eliminações vexatórias da equipe em torneios desde a chegada de Aguirre. Em duas edições de Copa do Brasil, 2018 e 2019, o São Paulo eliminado por times mais modestos. Na primeira, a equipe caiu para o Athletico-PR na quarta fase do torneio. Na temporada seguinte, a queda foi diante do Bahia, nas oitavas de final.

Na Libertadores, foram dois anos de vexames para o torcedor. O time foi eliminado na fase preliminar do torneio em 2019, após derrota para o Talleres, da Argentina. Neste ano, o Tricolor não passou da fase de grupos e acabou no terceiro lugar de uma chave com LDU, River Plate e Deportivo Binacional. A posição levou o time para a Sul-Americana, torneio em que caiu logo de cara diante do Lanús, da Argentina. A pior das eliminações, contudo, aconteceu após a volta do futebol em meio à pandemia do novo coronavírus, em julho deste ano. O São Paulo perdeu para o Mirassol nas quartas de final do Campeonato Paulista e não atingiu o que se esperava no Estadual.

Passou longe de metas orçamentárias Sob a batuta de Raí, o São Paulo passou longe de bater as metas orçamentárias definidas pelo presidente Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco. A primeira delas é em relação à venda de atletas. No ano passado, por exemplo, a ideia era negociar R$ 121 milhões em jogadores. Contudo, conseguiu apenas a metade: R$ 60 milhões Isso fez com que o Tricolor paulista apresentasse deficit recorde em 2019. O clube fechou a temporada com um prejuízo de R$ 156 milhões.

O mesmo aconteceu em relação às competições. Em 2020, o esperado era chegar à semifinal do Paulista, às oitavas de final da Libertadores, às quartas de final da Copa do Brasil e encerrar o Brasileirão entre os quatro primeiros. Até o momento, somente um dos objetivos foi alcançado — o São Paulo já é semifinalista da Copa do Brasil. A equipe não conseguiu alcançar o que foi proposto para Estadual e Libertadores. O Brasileirão só se encerrará em fevereiro de 2021.

Problemas para pagar salários

Daniel Alves beija o símbolo do São Paulo durante apresentação oficial no Morumbi - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter

Raí contratou medalhões, como Daniel Alves e Hernanes, com a ideia de ter parceiros para bancar os seus respectivos salários. Isso, no entanto, não passou de um desejo do dirigente. Ele encontrou dificuldades para conseguir parceiros que bancassem a dupla no Morumbi. Dani Alves tem remuneração na casa de R$ 1,5 milhão e sempre recebeu os seus vencimentos com dinheiro do próprio clube. Nunca houve um parceiro para ajudar a bancar os vencimentos do atleta. A situação de Hernanes é idêntica à do dono da camisa 10.

Contratação causou desgaste Raí se tornou o responsável pelo futebol do São Paulo em dezembro de 2017. Naquele momento, foi anunciado como um executivo de futebol. Entretanto, a nomenclatura não foi levada à votação no Conselho de Administração do clube, o que é exigido para a função conforme o Estatuto Social. Desta forma, o ex-jogador tornou-se oficialmente um superintendente da pasta, mesmo que tenha amplos poderes no esporte.

Para assumir função diretiva no São Paulo requer aprovação do Conselho de Administração, que conta com a presença do mandatário, seu vice-presidente e outros sete membros. O grupo precisa avalizar a admissão de qualquer diretor. Como o caso de Raí — e também de Alexandre Pássaro — não foi apreciado por decisão de Leco, ambos receberam outras nomenclaturas no Morumbi. A contratação do ídolo, que também já fez parte do Conselho de Administração do São Paulo, causou desgaste interno para Leco no Morumbi.

Pontos positivos

Raí e Fernando Diniz em treinamento do São Paulo - Rubens Chiri / saopaulofc.net - Rubens Chiri / saopaulofc.net

Nem só de problemas viveu Raí no São Paulo. A gestão do ídolo à frente do futebol também contou com aspectos positivos. O principal, neste momento, talvez seja a insistência com Fernando Diniz no cargo. Em outubro, após eliminações no Paulista e na Libertadores, o técnico esteve ameaçado no comando técnico. Nas alamedas do Morumbi, foram cogitados nomes para a função — Diego Aguirre, Paulo Autuori, Rogério Ceni e Vagner Mancini estiveram na lista. Porém, Raí optou por mantê-lo no cargo. A decisão do ex-jogador ajudou o técnico a se reerguer na capital paulista. Hoje, a equipe lidera o Campeonato Brasileiro e é semifinalista da Copa do Brasil.

Nos bastidores, Raí também teve acertos. Depois de anos com contratações contestáveis, apostou em jovens formados no CT de Cotia. A base do time titular de Diniz conta com revelações do clube. O zagueiro Diego Costa, o volante Luan, os meias Igor Gomes e Gabriel Sara e o atacante Brenner são das divisões de base do São Paulo. Todos são apostas do dirigente ao lado do técnico Fernando Diniz. As colocações do Brasileirão no decorrer da gestão de Raí também foram positivas, quando comparadas ao desempenho dos seus antecessores na gestão Leco. Depois de duas temporadas na segunda metade da tabela — 2016 e 2017 —, o São Paulo ficou em quinto lugar em 2018 e terminou a temporada passada como sexto.

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