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Leonardo Miranda
Mentalidade ofensiva é o ponto em comum com Diniz, mas ideias para defender e atacar são bem diferentes do antigo treinador são-paulino.
O São Paulo acertou a contratação de Hernán Crespo para ser o novo treinador da equipe. Conhecido como goleador na Seleção da Argentina, o treinador terá sua quarta experiência como treinador logo num gigante como o São Paulo, onde irá substituir Fernando Diniz.
Crespo chega credenciado pelo bom trabalho no modesto Defensa y Justicia, onde ficou por 1 ano e 1 semana e ganhou a Copa Sul-Americana. Além do título, o desempenho em campo, com mentalidade ofensiva, posse de bola objetiva e muitos gols chamam a atenção. Em 32 partidas, o DyJ de Crespo só não marcou gol em oito jogos.
Hernan Crespo — Foto: Juan Mabromata – Pool/Getty Images
Aos 45 anos, Crespo encerrou a carreira de jogador em 2012 e logo passou pelos processos da UEFA para se tornar treinador. Em sua tese na UEFA, elegeu José Mourinho, que o treinou no Chelsea, e Marcelo Bielsa como suas principais referências – e quem que esses dois não inspiram?
Por mais que a mentalidade ofensiva seja parecida com a de Diniz, as ideias mostradas em campo são bem diferentes. Tomando como base o Defensa y Justicia, Crespo usou o 4-4-2, 4-2-3-1 e em alguns jogos com três zagueiros. Mas o esquema é cada vez menos importante. O principal é entender a ideia do time ao atacar e defender. A movimentação da equipe.
Crespo pode ter uma mentalidade parecida com a de Diniz, mas tem ideias muito diferentes para atacar, defender e principalmente sair com a bola a partir do goleiro.
No ataque, um 3-2-5 e muitas infiltrações dos atacantes
Como jogador, ele não era rápido nem tão técnico como centroavante, mas se movimentava demais entre os zagueiros. É a mesma característica de Bou e Romero, a dupla de atacantes da equipe argentina. Quando tinha a posse, o Defensa formava um 3-2-5: Martínez se aproximava dos zagueiros fazendo a saída de três, e dois volantes (Larralde e Pizzini) ficavam mais à frente. O resto do time ficava à frente.
Essa estrutura era tão rígida que até com o time reserva, na Copa Maradona, o Defensa jogou assim. O são-paulino pode esperar o mesmo, com Luan ou Tchê Tchê recuados e os zagueiros jogando muito pelos lados, procurando semrpe um passe mais à frente.
No ataque, sempre um 3-2-5 com a posse de bola — Foto: Reprodução
A ideia desse 3-2-5, à exemplo do que Sampaoli faz no Atlético-MG, é ter sempre cinco jogadores próximos da linha de quatro defensores dos rivais. O Defensa não fica rodando tanto a bola. Tenta passes mais verticais, e quem está na frente precisa fazer o movimento de antecipação.
As projeções aconteciam nas costas da defesa do adversário — Foto: Reprodução
As infiltrações dos atacantes quando um meia recebia a bola de frente era o mais perigoso recurso da equipe de Crespo. Os primeiro gol contra o Lanús, na final da Sul-Americana, saiu da correta execução dessa estrutura, com um plus: o ala faz uma troca ofensiva com o atacante, que recua para receber o passe e toca no defensor, que já está totalmente livre.
Atacantes tinham que correr para frente e dar uma opção de passe vertical no ataque — Foto: Reprodução
No Defensa de Crespo, era comum ver um atacante saindo para fazer o pivô enquanto os alas se projetavam. Quando o ala recebia, era quem estava por dentro que corria para frente. A ideia é a mesma. O conceito treinado é igual: projeções dando opção de passe a quem recebe a bola.
Saída de bola envolve o goleiro, mas é diferente de Diniz
Uma das principais dores de cabeça da torcida são-paulina virou a saída curtinha que Fernando Diniz praticava. Crespo pensa essa saída de um jeito bem. O detalhe é a posição do time em campo. Enquanto Diniz queria que Luan ou Tchê Tchê recuassem até a área para atrair adversários e liberar espaço para Brenner e Luciano, Crespo quer que o goleiro jogue sim com os pés, mas sem ninguém se aproximando.
Saída de bola do Defensa tinha o goleiro mais distante dos zagueiros — Foto: Reprodução
Os dois zagueiros e o volante que fazia a saída de três ficavam fora da área. Os dois meias que formam o 3-2-5 ficavam ainda mais distantes. É como se cada jogador tivesse uma zona, um setor a cumprir em campo.
É MUITO diferente do São Paulo de Diniz, que acreditava numa liberdade de movimentação maior – desde que todo mundo estivesse próximo. Crespo quer que essa liberdade esteja condicionada à essa estrutura, e o goleiro não pode sair de sua zona como Volpi fazia, indo para um lado, tocando curto.
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Aliás, uma das consequências desse jeito de atacar é que o Defensa não trocava passes tão curtos: como cada jogador está em sua zona, o zagueiro pode dar um passe bem longo para o atacante, porque sabe que ele estará num setor mais avançado de campo.
Esse jeito de atacar te lembra de outro técnico recente do São Paulo?
Um certo Rogério Ceni? Em termos de conceito de jogo, Crespo está muito mais para Ceni e Juan Carlos Osorio nessa forma mais rígida e estruturada de atacar do que Diniz. Veja na imagem, do Paulistão de 2017. A estrutura é (quase) a mesma.
Crespo está mais próximo das ideias de Rogério Ceni e Osorio do que Fernando Diniz — Foto: Reprodução
Defesa: marcação alta pressão na bola toda hora
Bom argentino que é, Crespo era um jogador intenso, aguerrido….e o sistema defensivo tenta ser o mesmo. Tenta. Se existe um ponto a ser debatido na passagem de Crespo pelo Defensa e principalmente pelo Banfield e Modena, era o número de gols levados. Não por causa de uma ideia, mas sempre por conta da execução.
Primeiro: o Defensa tinha como característica sempre jogar muito adiantado em campo. Por dois motivos: estar no ataque quando tinha a bola e pressionar alto os adversários. Dois gols na final da Sul-Americana vieram de pressão alta. A dupla de ataque pressionava a zaga e os dois extremos subiam para pressionar o lateral. Encaixes individuais forçando o erro.
Defensa adiantava a marcação toda hora — Foto: Reprodução
O problema estava quando esse mecanismo não funcionava – e não vai funcionar sempre. Aí o Defensa tentava fazer algo típico das equipes argentinas, que é pressão na bola. O bom e velho “morde”, “pega”, o termo tanto faz. Para dosar o perigo, ao menos a linha defensiva tentava dar cobertura.
Defesa mantinha o setor da bola pressionado e fazia coberturas — Foto: Reprodução
Quando pressionava alto e recuperava rápido, o Defensa não sofria. Mas quando tinha que recompor, permitia ao adversário algumas viradas de jogo e chances criadas. Sempre com a ideia: um pressiona, ao menos três ficam recuados dando cobertura. O zagueiro saía caçando e o outro ficava.
Linha de defesa tinha um zagueiro mais combativo e outro que ficava atrás — Foto: Reprodução
Essas eram as ideias e conceitos que Crespo colocou no Defensa, uma equipe com qualidade, objetivos e condição financeira muito distintas do São Paulo. Todo treinador tenta adaptar ao que cada humano, ou melhor, jogador, sabe fazer de melhor.
Hernán Crespo com a taça da Sul-Americana — Foto: Marcelo Endelli/Getty Images
O desafio do novo técnico tricolor será imenso:
- Será que o verdadeiro moedor de técnicos que é o São Paulo vai dar paciência para essa estrutura ofensiva se transformar em gols?
- Será que Crespo vai se adaptar com língua e cultura diferente?
- As contratações serão pensadas dentro da ideia de jogo do treinador?
Questões que só o tempo do quarto técnico estrangeiro do São Paulo desde 2015 vai responder.
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