GloboEsporte
Maurício Noriega
Não existem aqui laterais, no mínimo, do mesmo nível do espanhol? Na base do São Paulo não há um garoto que valesse a aposta?
Que fique claro: Juanfran é um bom jogador e um atleta profissional correto e de caráter.
Mas sua discretíssima passagem de 56 jogos pelo São Paulo diz muito sobre o funcionamento dos clubes de futebol do Brasil.
O que leva um clube brasileiro do tamanho do São Paulo, com histórica tradição em revelar jogadores, a contratar um lateral espanhol de mais de 30 anos, com uma linda carreira, mas que nunca foi protagonista?
Uma das versões que circulam sobre a contratação de Juanfran é a de que o São Paulo sempre quis Daniel Alves, mas diante da dificuldade em fechar com o craque brasileiro preferiu se garantir com outro “europeu” e fechou com Juanfran.
Quando Alves, enfim, aceitou jogar no Tricolor, alguns dirigentes quiseram anular o negócio com Juanfran, mas foram impedidos por Diego Lugano. O uruguaio usou de seu prestígio e sua palavra para contratar Juanfran e teria dito que não empenharia seu caráter à toa.
No futebol é muito difícil saber qual é a versão verdadeira de um fato.
Mas voltemos ao tema técnico de Juanfran. No período de auge da seleção espanhola, entre 2008 e 2012, ele esteve no grupo campeão europeu em Kiev. Veio para a Copa do Mundo do Brasil e jogou a Euro de 2016. Sempre como coadjuvante. Soma 22 jogos, um gol e quatro passes para gol na seleção da Espanha.
Juanfran, do São Paulo, em jogo contra o Atlético-MG — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net
Pelo Atlético de Madrid, Juanfran conseguiu seus grandes momentos, sendo um lateral de boa técnica, adaptado ao estilo de jogo defensivo de Diego Simeone. Meio-campista no início da carreira, Juanfran consolidou sua trajetória no time colchonero (o apelido dado ao Atlético de Madri porque a maioria dos colchões fabricados na Espanha no início do século XX era forrada com listras brancas e vermelhas, como a camisa do clube), com muitas e importantes conquistas. Mas ninguém jamais cunharia a frase “aquele Atlético de Madrid do Juanfran”.
Teria sido a motivação da contratação de Juanfran técnica? Ou foi baseada no status? Jogador europeu, que a gente vê jogar pela TV na Liga dos Campeões, essas coisas?
Pode-se argumentar que a contratação foi a custo zero. Mas Juanfran, merecidamente, graças à carreira construída na Europa, alcançou um patamar salarial do qual não abriria mão e que certamente era dos maiores do elenco.
O investimento valeu a pena?
No futebol brasileiro não existem laterais, no mínimo, do mesmo nível que Juanfran? Na base do São Paulo não há um garoto que valesse a aposta?
Juanfran catapultou vendas de camisas e pacotes de sócios-torcedores do São Paulo?
Quando ainda era possível ir ao estádio, me responda sinceramente, o mais fanático dos tricolores: alguém foi ao Morumbi com o objetivo específico de ver o Juanfran?
Repito: nada contra o Juanfran. Profissional sério, correto, que nunca se vendeu como a última bolacha do pacote.
Mas nesses tempos em que, justificadamente, olhamos com justificado ar de inveja para o nível técnico do futebol europeu, algumas negociações parecem feitas muito na base da ostentação. Do tudo que vem de fora é melhor, do velho complexo de vira-latas de que falava Nélson Rodrigues.
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