República Argentina do São Paulo: música, culinária e troca cultural embalam time na Libertadores

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GloboEsporte

José Edgar de Matos

Crespo, comissão, Benítez e Rigoni compartilham tradições com colegas de clube no dia a dia.

Vestiário do El Cilindro, 20 de julho de 2021.

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Ali, diante da euforia pela enorme vitória sobre o Racing, a República Argentina do São Paulo se estabelecia de vez. No som, a música “Par-Tusa”, do cantor de cumbia villera El Dipy, servia de fundo para Martín Benítez comandar a festa pela classificação às quartas de final da Libertadores. Mais do que simplesmente futebol: cultura, culinária e hábitos do país vizinho se espalharam no dia a dia do CT da Barra Funda.

É sob influência dessa república que o São Paulo tentará dar mais um passo na Libertadores nesta terça-feira, quando enfrenta o Palmeiras, no Allianz Parque, às 21h30 (de Brasília), pelo jogo de volta das quartas de final. O Tricolor precisa vencer ou empatar por mais de dois gols para avançar.

Benítez surge como um dos expoentes da influência argentina na temporada 2021 do Tricolor. Ele e Emiliano Rigoni, protagonista do time após o título do Paulistão, se juntam à comissão técnica de Hernán Crespo para uma troca cultural que vai além da música argentina no vestiário depois da classificação marcante em Avellaneda.

República Argentina do São Paulo: influência vai da comissão técnica até às músicas — Foto: ge

República Argentina do São Paulo: influência vai da comissão técnica até às músicas — Foto: ge

De bom “portunhol”, fruto do período no Vasco, Benítez serve como elo dessa troca cultural e assume quase um papel de diplomata para aproximar as relações com os brasileiros. Recentemente, o meia presenteou alguns jogadores do elenco, como o atacante Pablo, com kits para consumo de mate, bebida tradicional na Argentina e no Uruguai.

Aliás, a turma vai além do meia. Rigoni e o preparador de goleiros Gustavo Nepote são outros que religiosamente estão no CT com a cuia, a garrafa térmica e a erva. Foi natural que as conversas regadas à bebida ganhassem também adeptos brasileiros, agora devidamente aparentados com o material ideal para compartilhar o momento de relaxamento típico do país vizinho.

Benítez e Rigoni compartilhando um mate durante treino no Rio de Janeiro — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

Benítez e Rigoni compartilhando um mate durante treino no Rio de Janeiro — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

DJ com cumbia e reggaeton

Citada como introdução a este texto, a música Par-Tusa ditou a trilha sonora de um dos momentos mais marcantes do grupo são-paulino na temporada. A festa pela vitória sobre o Racing teve playlist latina exaltada pelo elenco de jogadores.

Os mais jovens, como Luan, se empolgaram e arriscavam cantar naquele portunhol, enquanto Benítez colocava na linha por videochamada Daniel Alves, que se encontrava com a seleção brasileira antes da disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Daniel Alves comemora classificação do São Paulo em live com Benítez

Daniel Alves comemora classificação do São Paulo em live com Benítez

O começo do refrão, sumariamente vetado para ser citado neste texto por possuir palavras de baixo calão, era cantado a plenos pulmões por argentinos, brasileiros, equatorianos, paraguaios… Enfim, a música argentina e agora conhecida dos brasileiros são-paulinos serviu como plano de fundo para um dos momentos mais marcantes de 2021.

A playlist musical latina vem desde o ônibus. Às vezes, Benítez e até Rigoni, recentemente chegado ao elenco, comandam o som na ida para os estádios. Já nos vestiários, o preparador Gustavo Satto também compartilha o gosto musical argentino que vai desde a cumbia até o reggaeton.

– É legal essa troca. Pessoal chega com uma energia diferente, alegra o vestiário com músicas, costumes, brincadeiras. A gente tenta aprender coisas novas com eles, os gringos ficam querendo saber as coisas do Brasil. No fim das contas, todo mundo se entende, dentro e fora de campo – comentou o volante Luan.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

– Nosso elenco tem quase a América do Sul inteira no meio da Barra Funda, né!? Os argentinos são a maioria disparado, mas temos equatoriano, paraguaio, colombiano. Isso se não esqueci de ninguém. Está todo mundo integrado na mesma sintonia, seja o Arboleda que está no Brasil há mais tempo, como os que chegaram esse ano – acrescentou.

Luan aprova o intercâmbio cultural com os argentinos: "Tentamos aprender coisas novas" — Foto: Staff Images / Conmebol

Luan aprova o intercâmbio cultural com os argentinos: “Tentamos aprender coisas novas” — Foto: Staff Images / Conmebol

Do lado de lá também

A troca cultural também vem também da direção contrária. Desde o princípio da chegada ao Brasil, Hernán Crespo tem a iniciativa de aprender português para se comunicar da melhor maneira possível com os jogadores. Nas entrevistas, o treinador busca colocar em prática os estudos dos últimos meses.

A postura “ganhou” o grupo. Crespo e Gustavo Nepote, preparador de goleiros, usam as redes sociais para afiarem o idioma. A evolução é elogiada pelos jogadores, inclusive publicamente.

Crespo conversa com o elenco do São Paulo durante a reapresentação — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

Crespo conversa com o elenco do São Paulo durante a reapresentação — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

– Na comissão técnica é a mesma coisa, estamos integrados com todos. Você vê que o Crespo com toda sua história monstruosa no futebol, mas já querendo aprender português, passar suas ideias – comentou Luan.

– Foi tudo muito rápido, o elenco já entendeu o que ele queria, como ele gosta de jogar, sem qualquer problema de diferença cultural por ser de outro país – declarou o camisa 13 e autor do primeiro gol da vitória na final do Paulistão, que rendeu o primeiro título da “República Argentina do São Paulo”.

Embalado, São Paulo ajusta últimos detahes antes de clássico contra o Palmeiras

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Segunda casa é na parrilla

O ambiente do CT se tornou uma casa para “la banda” do São Paulo. Fora do trabalho, um local ganhou espaço para comissão técnica e jogadores matarem as saudades do país natal: um restaurante típico argentino, localizado no paulistaníssimo bairro de Pinheiros.

No local, Crespo, Juan Branda, Alejandro e Tobias Kohan e Gustavo Nepote, além de Rigoni e Benítez, encontram a tradicional parrilla da Argentina. O churrasco com corte e modo de preparo clássicos do país vizinho aproxima ainda mais o grupo da cidade que nomeia o clube que defendem.

Comissão técnica são-paulina com Natan Failchijes e Eduardo Bonatto, do restaurante Fogo & Fuego — Foto: Reprodução/Instagram

Comissão técnica são-paulina com Natan Failchijes e Eduardo Bonatto, do restaurante Fogo & Fuego — Foto: Reprodução/Instagram

O restaurante faz questão de facilitar essa relação e afirma ter “toda tradição argentina, com direito a Fernet com Coca, asado de tiras, molleja e todo encanto portenho”. O local serve como refúgio, como honra às tradições argentinas de quem intercambia a cultura do Rio da Prata na região do Rio Tietê.

O encanto portenho descrito pelo restaurante nas redes sociais exemplifica o efeito da República Argentina do São Paulo, que pode fazer história nesta terça-feira pelo “amado clube brasileiro”. Basta uma vitória sobre o Palmeiras nesta terça-feira, no Allianz Parque, ou um empate por no mínimo 2 a 2 para provavelmente Par-Tusa tocar novamente no vestiário tricolor.

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