Ex-profissionais do São Paulo admitem modernização, mas isentam estrutura por lesões

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GloboEsporte

Eduardo Rodrigues e Leonardo Lourenço

Crespo relaciona instalações a contusões de atletas; diretoria busca parceiros para reformas.

No último domingo, após vitória do São Paulo sobre o Sport, o técnico Hernán Crespo relacionou a série de lesões em jogadores que atrapalha o time nesta temporada com uma suposta defasagem na estrutura do clube. Em entrevista, ele pediu melhorias e foi respaldado pelo diretor de futebol, Carlos Belmonte.

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Em seu perfil numa rede social, Belmonte afirmou na última segunda-feira que se reuniu com o treinador e outros membros da diretoria na última semana para tratar do assunto.

– Modernizar o Reffis (Núcleo de Reabilitação Esportiva Fisioterápica e Fisiológica) e todo o CT da Barra Funda é nossa prioridade. Na última sexta fizemos uma reunião com o Crespo e o Muricy. Sábado, já aqui em Recife, com os departamentos médico e de preparação física. Estamos há muito tempo sem investir em estrutura. Vamos voltar a ser referência – escreveu o dirigente.

ge conversou com cinco profissionais que passaram pelo São Paulo nos últimos anos – antigos dirigentes e membros do departamento médico – e, se eles admitem a necessidade de modernização do CT da Barra Funda, todos isentam essa estrutura atual de culpa nas recorrentes contusões que desfalcam o time de Crespo.

Jogadores do São Paulo no Reffis, em janeiro de 2020, antes da pandemia — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Jogadores do São Paulo no Reffis, em janeiro de 2020, antes da pandemia — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

As pessoas ouvidas pela reportagem repetiram, quase que da mesma forma: lesões são causadas no campo – em treinos e jogos, onde é possível dosar o volume de esforço –, e não no Reffis – que atua na prevenção e tratamento.

Só na temporada 2021, o São Paulo já registrou 33 lesões em diferentes atletas. O último foi Arboleda, que não pôde enfrentar o Sport, situação que gerou a pergunta em que Crespo apontou o dedo para a estrutura tricolor.

Para esses profissionais, as causas de tantos problemas médicos no São Paulo neste ano passam, principalmente, pela falta de um período de férias aos atletas – que emendaram a temporada 2020 na atual – e numa mudança de metodologia de trabalho na troca de comissão técnica – Crespo sucedeu Fernando Diniz, com um período curto entre eles de interinidade de Marcos Vizolli.

É um diagnóstico semelhante ao que o clube fez recentemente, como publicou o ge. No clube, uma dificuldade de adaptação da equipe de Crespo ao calendário brasileiro foi citada. Antes de chegar ao Morumbi, o treinador comandou o Defensa y Justicia, da Argentina, com 32 jogos entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021 – a partir daí, no São Paulo, foram 47 jogos em seis meses.

Houve dificuldades semelhantes em 2019, sob o comando de Cuca, situação que arrefeceu no ano seguinte, quando Diniz levou o time à disputa do título brasileiro com poucas lesões mesmo com a maratona de jogos na retomada do futebol após a paralisação causada pela pandemia de Covid-19.

Apesar disso, uma reforma no CT da Barra Funda está nos planos. Se ainda mantém uma estrutura de considerada de ponta, o São Paulo já não é mais citado como o que oferece as melhores condições a atletas e treinadores – clubes como o vizinho Palmeiras, o Corinthians, Flamengo, Atlético-MG e Atlhetico-PR aparecem à frente do Tricolor paulista para os profissionais ouvidos.

Segundo uma dessas pessoas, há cerca de três anos o ex-executivo de futebol Raí apresentou um projeto desenvolvido por um escritório de arquitetura francês para a reforma do CT, inaugurado em 1988. O custo seria de R$ 15 a R$ 20 milhões, mas a proposta não avançou.

Crespo conversa com o elenco do São Paulo no CT da Barra Funda — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

Crespo conversa com o elenco do São Paulo no CT da Barra Funda — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

É no CT da Barra Funda onde foi instalada a primeira unidade do Reffis, núcleo de recuperação de atletas criado em 2003 e que tornou o São Paulo referência no início do século.

A expectativa na inauguração era de que o Reffis se mantivesse em boas condições de atendimento aos atletas pelos 15 anos seguintes.

Nesse período, o São Paulo acolheu jogadores importantes em recuperação, como foi o caso de Kaká, então melhor do mundo, em 2008, após uma artroscopia no joelho. O clube também se aproveitou do Reffis para atrair astros para o time, que usaram o local para tratamento e depois acertaram com a equipe, casos como o de Luizão, em 2005, Adriano, em 2007 e Ricardo Oliveira, em 2010.

Em 2011, uma segunda unidade do Reffis foi criada no CT das categorias de base, em Cotia, e uma terceira foi planejada para o Morumbi, mas a ideia acabou abandonada.

A estrutura hoje é classificada como muito boa ainda, mesmo que se admita que outros clubes do país tenham instalações mais modernas. É uma percepção semelhante à de Carlos Belmonte em entrevista ao jornalista Luis Simon, do UOL, há uma semana.

Nessa entrevista, o cartola afirmou que não há dinheiro para uma reforma completa do Reffis. No Twitter, após a reclamação de Crespo, Belmonte disse que busca parceiros para essa modernização.

Ao ge, em julho, o presidente Julio Casares também admitiu essa necessidade de renovação. À época, prometeu apresentar um projeto em 40 dias. O dirigente, porém, contraiu Covid-19 e permanece internado desde 31 de julho.

– Vamos avançar na parte tecnologia para trazer mais estrutura para o departamento médico do São Paulo. Um centro de excelência. Tudo que a ciência e tecnologia da saúde oferece está sendo delineado e logo mais vamos lançar um grande projeto na área de saúde e performance esportiva. Talvez em 40 dias vamos apresentar esse projeto para aperfeiçoar seus profissionais e equipamentos.

Em meio a essa discussão, o São Paulo se prepara para encarar o Fortaleza, quarta-feira, às 21h30, pelo jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil.

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