SãoPaulo F.C.
Michael Serra
No Dia da Consciência Negra, o São Paulo Futebol Clube relembra e homenageia personalidades líderes e pioneiras em vários campos de atuação na entidade, que refletiram significativos avanços na inserção da população afro-brasileira não apenas no esporte, mas na sociedade como um todo.
ADHEMAR FERREIRA DA SILVA (1927 – 2001)
Adhemar Ferreira da Silva nasceu em São Paulo (SP), em 29 de setembro de 1927, e foi, certamente, um dos maiores ícones do esporte nacional e o primeiro atleta negro brasileiro bicampeão olímpico. Recordista mundial (1952 e 1955) e olímpico (1952) do salto triplo, além de ser o responsável pelas duas estrelas douradas da camisa e da bandeira do Tricolor, Adhemar Ferreira da Silva foi inúmeras vezes vencedor e recordista sul-americano, pan-americano, brasileiro e paulista.
Em 1950, ele igualou o recorde mundial do japonês Naoto Tajima (16 metros). Depois o superou por quatro vezes em um mesmo dia, 23 de julho de 1952, nas Olimpíadas de Helsinque. Em suas quatro tentativas, quatro recordes, saltando 16,04m, 16,09m, 16,12m e finalmente 16,22 metros. Em 1955, nos Jogos Pan-americanos da Cidade do México, novamente bateu o recorde mundial ao atingir a marca de 16,56 metros. Já no Vasco da Gama, em 1956, conquistou novamente uma medalha de ouro nas Olimpíadas, agora saltando 16,35 metros.
Além de esportista exímio, Adhemar também foi uma figura de extremo apreço pela cultura e educação. Uma de suas paixões era a linguística. É relatado que ele falava inglês, francês, japonês, finlandês e italiano.
MELÂNIA LUZ (1928 – 2016)
Melânia Luz nasceu em São Paulo no dia 1º de junho de 1928 e foi a primeira atleta negra brasileira a participar dos Jogos Olímpicos, em 1948, representando o Tricolor. Corredora de provas de velocidade, também praticava o salto em altura.
Melânia foi campeã sul-americana no revezamento 4×100 metros e medalhista de prata nos 200 metros rasos em 1949. No Troféu Brasil de Atletismo, de 1946, ela foi campeã dos 200m e ficou em segundo nos 100m. E pela Seleção Paulista obteve quatro títulos no revezamento 4x100m de 1946 a 1953.
Foi uma verdadeira atleta durante toda sua vida, participando de torneios seniores até depois dos 70 anos, sempre demonstrando uma imensa paixão pelo São Paulo Futebol Clube. Apesar da importância para o atletismo brasileiro, seu falecimento, em 2016, sequer foi amplamente divulgado à época.
SERGINHO CHULAPA (1953)
Nascido em São Paulo, no dia 23 de dezembro de 1953, Serginho defendeu o Mais Querido de 1973 a 1982 e era insuperável quando partia para o gol. Aparentemente desengonçado, até parecia que iria cair, mas nunca caía. Recuperava o equilíbrio durante a corrida e balançava as redes. Era gol na certa. Usava os braços e o corpo também com uma habilidade incrível. Bola no pé esquerdo era gol, no direito meio gol. Alto, fazia também muitos tentos de cabeça. E ainda cobrava faltas e pênaltis.
Serginho tinha uma empatia especial com a torcida porque sabia provocar os adversários, quer com declarações fora de campo ou com atitudes “consagradoras”. Os são-paulinos adoravam a mistura do jogo eficiente com o comportamento extrovertido.
Chulapa é o maior artilheiro da história do São Paulo, com 242 gols. Pelo Tricolor, ele foi campeão paulista de 1975, 1980 e 1981 e brasileiro de 1977, sempre como protagonista. E, ainda que não tenha ido à Copa do Mundo de 1978, quando estava no auge de seu desempenho, por causa de uma suspensão por 14 meses, ele foi centroavante titular do Brasil na edição de 1982, na Espanha.
KÁTIA CILENE (1977)
Carioca nascida no bairro de Padre Miguel em 18 de fevereiro de 1977, Kátia começou a jogar futebol por volta dos nove anos de idade, passando a treinar regularmente com 15 anos, depois que abandonou o atletismo, esporte o qual também se dedicou na infância. Rapidamente alcançou a seleção feminina de futebol, no ano de 1993.
Disputou quatro Copas do Mundo (1995, 1999, 2003 e 2007) e dois Jogos Olímpicos pelo Brasil (1996 e 2000). Não foi à Atenas, em 2004, por causa de uma contusão no joelho. A maior conquista de Kátia Cilene com a camisa canarinho foi a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007.
Kátia defendeu a camisa são-paulina de 1997 a 2000, período em que se caracterizou por ser uma esplêndida goleadora, com um tremendo faro de gol. Foi a artilheira do Campeonato Paulista de 1997, com 35 gols, de 1998, com 42 gols, e de 1999, com 48 gols, além de ser, também, a principal goleadora do Campeonato Brasileiro de 1997, com 18 gols, de 1998, com 36 gols e da edição de 1999/2000, com 19 gols.
Estima-se que ultrapassou a casa dos 230 gols pelo time do Morumbi, sendo a maior artilheira da história do clube. Caso a relação completa de amistosos disputados pelo clube tivesse sobrevivido ao tempo, sendo seus registros conhecidos, talvez fosse possível afirmar que ela tenha superado até mesmo Serginho Chulapa em número de gols.
Depois de sair do São Paulo, fez carreira vitoriosa pelos Estados Unidos e Europa, onde jogou no San Jose CyberRays, Estudiantes de Huelva, Levante, Lyon, Paris Saint-Germain, Zorky Krasnogorsk e Sundvalls.
BINO (data desconhecida – 1934)
(Bino é o terceiro, da esquerda para a direita)
A história de Albino de Oliveira, mais conhecido como Bino, tem poucos registros. Nascido em Campinas, não se sabe, ao certo, a data. Sabe-se, contudo, que Bino foi o primeiro atleta negro de um time são-paulino – fato ocorrido ainda em 1930, ano de fundação do Tricolor.
Bino estreou no dia 23 de março de 1930, na vitória de 6 a 1 sobre o Juventus, pelo Campeonato Paulista – exatamente o segundo jogo oficial da história do clube. Ao todo, o meio-campista realizou 69 partidas e não chegou a fazer um gol com a camisa do São Paulo, mas fez parte do time que conquistou o primeiro troféu da história da entidade: o do Campeonato Paulista de 1931.
Tragicamente, Bino faleceu ainda jovem, no dia 5 de abril de 1934. Sepultado em Campinas, seu esquife mortuário foi coberto com as bandeiras do São Paulo e da Ponte Preta e a cerimônia foi custeada pelo Tricolor. Ao que tudo indica, Bino foi o primeiro falecido homenageado com tais honras na história do clube.
LEÔNIDAS (1913 – 2004)
Maior jogador do Brasil até o surgimento de Pelé, Leônidas da Silva – O Diamante Negro – era um atleta veloz, extremamente técnico e que possuía ótima impulsão e elasticidade. Tradicionalmente considerado pelos cronistas nacionais como o inventor da bicicleta – se não inventou, certamente imortalizou e consagrou a jogada –, Leônidas da Silva jogou futebol de 1930 a 1950, passando por São Cristóvão, Sírio Libanês, Sul América, Bonsucesso, Peñarol (Uruguai), Vasco da Gama, SC Brasil-RJ, Botafogo, Flamengo e, por fim, São Paulo, onde se tornou ídolo maior.
Defendeu a Seleção Brasileira com extremo sucesso entre 1932 e 1946, pela qual disputou duas Copas do Mundo, sendo inclusive artilheiro de uma delas, em 1938, com sete gols. Poderia ter disputado outras duas Copas, mas a 2ª Guerra Mundial impediu a realização das edições de 1942 e 1946.
Foi contratado pelo São Paulo junto ao Flamengo, em 1942, na transação mais cara da história do futebol sul-americano até então, no valor de 200 contos de réis. Leônidas foi anunciado no dia 1º de abril de 1942, Dia da Mentira. Claro que muita gente não acreditou, mas na realidade, poucos dias depois, 10 de abril, o craque foi recebido na Estação do Norte, no Brás, por uma multidão de 10 mil pessoas que o conduziu nos ombros até a sede do clube, na R. Dom José de Barros, no centro.
Por causa de sua idade e tempo sem jogar, os rivais falavam que, na verdade, o Tricolor tinha comprado um bonde por 200 contos. O sinal de que a vinda de Leônidas foi abençoada foi que, logo na terceira partida do centroavante pelo clube, contra o Palestra, ele marcou um gol de bicicleta e acabou com essa história de bonde.
Com Leônidas como estrela maior, a “moeda caiu em pé” e o time ganhou cinco campeonatos paulistas em sete anos (1943, 1945, 1946, 1948 e 1949), sendo reconhecido aonde fosse com a alcunha de “Rolo Compressor”, definitivamente estabelecendo o Tricolor como potência do futebol nacional.
Leônidas ainda teve curta passagem como técnico de futebol do próprio São Paulo, sendo o primeiro treinador negro da história do clube. Também dirigiu o time da Confederação Brasileira de Desportos Universitários. A seguir, adentrou no jornalismo como comentarista esportivo, passando por TV Paulista, TV Record e Rádio Panamericana. Leônidas venceu sete prêmios Roquette Pinto como melhor profissional em sua especialidade. Em 1987, Leônidas foi condecorado com a comenda da Ordem Nacional do Rio Branco.
O ídolo são-paulino nos deixou com eternas saudades em 24 de janeiro de 2004, quando faleceu em Cotia (SP).
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