Dificuldade financeira, reforços e exaustão: o que faz Rogério Ceni pensar em deixar o São Paulo

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GloboEsporte

Eduardo Rodrigues

Com o clube em grave crise financeira, futuro do treinador é incerto para 2022.

Após ajudar o São Paulo a eliminar as chances de queda para a Série B, na última segunda-feira, na vitória sobre o Juventude, o técnico Rogério Ceni não deixou claro se o seu futuro na próxima temporada será no Morumbi.

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Contratado no meio de outubro para substituir o demitido Hernán Crespo, Ceni já iniciou o trabalho contestado por parte da torcida após declarações feitas quando dirigia o Flamengo – na ocasião, afirmou que a “atmosfera” da torcida rubro-negra era diferente.

No período em que esteve à frente do São Paulo, o treinador viveu altos, como nas boas vitórias sobre Corinthians e Palmeiras, e baixos, como nas decepções diante de Flamengo e Grêmio, duas das piores aparições no ano.

Rogério Ceni aplaude a atuação do São Paulo contra o Juventude — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Rogério Ceni aplaude a atuação do São Paulo contra o Juventude — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net

Mesmo com toda essa turbulência, Ceni conseguiu evitar a queda para a Série B e ainda teve desempenho melhor do que o seu antecessor no Brasileirão.

Na última terça-feira, a diretoria chegou a marcar uma reunião com o treinador no CT da Barra Funda, mas desistiu após a reapresentação do elenco. Certo apenas é que qualquer decisão estará nas mãos de Ceni. Se quiser sair, terá de pedir demissão. Há multa prevista em contrato.

Então por que Rogério Ceni deu um discurso em tom de despedida se tem contrato até o final de 2022? O ge mostra abaixo alguns pontos que influenciam o treinador a adotar a postura neste momento.

Confira a entrevista coletiva de Rogério Ceni após garantir o São Paulo na série A de 2022

Dificuldade financeira

O São Paulo registra uma dívida de aproximadamente R$ 700 milhões, o que impede que o clube faça qualquer grande contratação para a próxima temporada.

Rogério Ceni é ciente da dificuldade que o Tricolor enfrenta neste momento, e há o receio de que a situação se agrave. Uma maneira de diminuir essa dívida seria a venda de jogadores, o que impactaria diretamente no trabalho do técnico.

Os garotos revelados em Cotia, como Gabriel Sara, Igor Gomes, Luan, Rodrigo Nestor e Liziero, são alvos constantes do assédio europeu. Ceni já externou que gostaria de contar com eles para o ano que vem.

– As dificuldades existem e têm de ser explicadas para o torcedor, porque ele vai ter que ser paciente e ajudar muito o São Paulo neste momento. É um momento crítico na história do clube. Acreditem no que eu estou falando para vocês. Para quem viveu aqui 26 [anos] e voltando agora… É um momento crítico, um momento difícil – afirmou o treinador em uma de suas últimas entrevistas coletivas.

André Hernan diz que Ceni falou em tom de despedida no vestiário do São Paulo

Reforços

Rogério Ceni nunca escondeu o apreço por jogadores rápidos no ataque e um time que possa propor o jogo. No atual elenco, o treinador sente a falta dessas características e já falou publicamente sobre a necessidade em contratar atletas para a função.

No entanto, ele pode não ter os seus desejos atendidos para 2022, e esse é o principal entrave para a sua manutenção no comando da equipe. Diante da situação financeira, a diretoria já sinalizou que Ceni deve procurar esse tipo de jogador nas categorias de base.

Embora esteja com o futuro indefinido, o treinador já sugeriu alguns nomes para a diretoria são-paulina para a próxima temporada e tem aproveitado garotos da base nessa reta final do Brasileirão, como os casos de Juan e Rafael Silva.

– Fico triste, para ser sincero. Não é como eu vejo a história do clube, a vida que eu passei aqui, ídolos que levaram o São Paulo a grandes conquistas. É um momento de baixa. Um momento que é preciso ter cabeça tranquila, um planejamento melhor para 2022. Claro que esbarra nas dificuldades financeiras, como falamos, mas temos outros clubes com as mesmas dificuldades, fizeram grandes contratações e conseguiram levar seus times a lugares inesperados em meio de campeonato – afirmou Ceni na última segunda.

Luciano ao lado de Rogério Ceni no treino do São Paulo — Foto: Felipe Espíndola\SPFC

Luciano ao lado de Rogério Ceni no treino do São Paulo — Foto: Felipe Espíndola\SPFC

Exaustão

Embora esteja há menos de dois meses no cargo, Rogério Ceni declarou na última segunda-feira que a carga emocional neste seu retorno foi grande. Houve um desgaste.

– Sabia do tamanho do risco que corria vindo para cá, mas não tinha como recusar. Por isso sofri tanto esses dias, foram noites e noites sem dormir. Não era só um rebaixamento. Quando você vê gente que trabalhou com você a vida toda sofrendo, é muito triste. Tristeza é a palavra que define esse momento.

A sua relação com a torcida também não é das melhores. Desde a polêmica declaração de quando dirigia o Flamengo, o técnico é contestado. O caso se agravou com algumas tomadas de decisões surpreendentes em campo, como a escalação de Gabriel Sara como ala-direito no duelo contra o Grêmio.

Antes de definir seu futuro, Rogério Ceni encerra a temporada de 2021 com o São Paulo nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), diante do América-MG, fora de casa. Já garantido na Copa Sul-Americana, o time tem chances remotas de classificação para a fase prévia da Libertadores.

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