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Alexandre Lozetti
Nos últimos anos, diretoria tentou todos os perfis possíveis: foi rebelde com Adriano, radicalizou no privilégio à garotada, linha-dura e mão aberta. Desta vez dará certo?
Pintado chegou ao São Paulo. Por quê?
Porque a diretoria quer melhorar o relacionamento. Desde o ano passado, há ruídos e faíscas entre jogadores, e deles com comissão técnica e diretores. Um pênalti, uma substituição, uma frase. Tudo é motivo para picuinhas na equipe que, nesta terça-feira, às 21h45, recebe o Trujillanos, da Venezuela, em jogo importante pela Libertadores.
Também se espera que Pintado, auxiliar-técnico de uma comissão fixa, facilite medidas na fila de espera para serem tomadas: investimento no departamento de análise de desempenho, tanto do atual grupo como de possíveis reforços, e maior integração entre base e profissionais.
E por que Pintado foi o escolhido?
Porque ele simboliza alma, raça, garra, além de ter o boleirês, idioma dos jogadores, que costumam criar resistência a outros perfis. O São Paulo espera que Pintado dê a esse time um pouco mais de alma. É o perfil desejado. A cara desejada.
Mais uma? Desde 2008, quando o Tricolor ainda conquistava títulos rotineiramente, houve inúmeras tentativas de dar uma identidade ao time. Mais rebelde, brigão, jovem, veterano, caro. Agora, focam no comportamento, na postura, na conduta. A maioria delas foi um fiasco.
Pintado nega sombra a Bauza e diz que São Paulo está em reconstrução
O São Paulo está em crise de identidade? Veja a seguir algumas facetas do clube nos últimos tempos.
SÃO PAULO REBELDE
Era 2008. Diretoria e comissão técnica chegaram à conclusão: para ganhar a Libertadores, seria preciso um time menos bonzinho, com jogadores mais polêmicos, que dessem mais trabalho. Ninguém imaginaria tanto trabalho… O atacante Adriano, numa contratação bombástica, o volante Fábio Santos e o meia Carlos Alberto foram os escolhidos para deixar o São Paulo mau. Foi um festival de punições, polêmicas, confusões, lesões, afastamentos… Salvaram-se os gols do Imperador, que não foram capazes de evitar eliminações no Paulistão e na Libertadores. No segundo semestre, já sem o trio, o São Paulo conquistou o hexacampeonato brasileiro, terceiro título consecutivo.
SÃO PAULO MOLEQUE
Fracassar na Libertadores continuou sendo um transtorno. Em 2010, a eliminação na semifinal para o Internacional fez o São Paulo não renovar o contrato de Ricardo Gomes. Incomodado com a dificuldade em levar jovens ao time profissional, o ex-presidente Juvenal Juvêncio radicalizou. Promoveu Sérgio Baresi, técnico da base, e garotos como Lucas, Casemiro, Zé Vitor, Lucas Gaúcho, Lucas Farias, entre outros. Menos de dois meses depois, Baresi foi afastado e Paulo César Carpegiani assumiu o comando. Tiro n’água.
SÃO PAULO LINHA-DURA
Nada dava certo e optou-se por um choque. Quase literalmente. A diretoria aceitou sugestão de Abílio Diniz e contratou Emerson Leão no fim de 2011, para tentar salvar uma campanha irregular no Campeonato Brasileiro. Não salvou. A Copa Sul-Americana também foi para o buraco, e, mesmo assim, o contrato do técnico foi renovado. Ele entrou em atrito com veteranos como Rogério Ceni e Luis Fabiano, e isso, por incrível que pareça, agradou alguns dirigentes. Mas o mau futebol vitimou Leão em 2012, e mais um projeto tricolor naufragou.
SÃO PAULO CARO
Paulo Henrique Ganso, Luis Fabiano, Jadson, Alexandre Pato, Denilson, Cícero, Osvaldo, Kaká… O jejum de títulos incomodou, e o São Paulo decidiu apostar em nomes consagrados, badalados, disputados pelo mercado. Com alguns reforços, desembolsou quantias hoje completamente inviáveis – não à toa, a situação financeira do clube é terrível. Fabuloso, contratado em 2011 e Ganso, no ano seguinte, por exemplo, custaram juntos quase R$ 37 milhões. Por Jadson, foram mais R$ 9 milhões. Ele foi emprestado para o Corinthians em troca de Pato, que recebeu, por dois anos, R$ 400 mil por mês do Tricolor. Todo esse investimento resultou em apenas um título: o da Sul-Americana de 2012, cujo principal jogador foi Lucas, revelado nas categorias de base do clube.