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José Edgar de Matos
Confira entrevista exclusiva com o técnico do time sub-20 do Tricolor.
Alex terminou orgulhoso a primeira temporada como treinador de futebol. No comando do time sub-20 do São Paulo, o ex-meia levou o clube a uma final inédita de Brasileirão e somou bons números. Porém, mais do que o resultado, o antigo camisa 10 se apega aos processos e aprendizados do dia a dia, como demonstrou em entrevista exclusiva ao ge.
Durante os mais de 30 minutos de entrevista, que pode ser lida abaixo ou ouvida em versão podcast acima, Alex detalhou as maiores dificuldades e traçou os objetivos para 2022. Logo em janeiro, por exemplo, ele vai encarar a primeira Copa São Paulo como treinador.
Alex fez um saldo do primeiro ano como treinador no sub-20 do São Paulo — Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net
O ídolo de Palmeiras, Cruzeiro e Fenerbahçe diz que pretende se consolidar no cenário de técnicos neste ano para, depois, pensar no futuro. Seja no São Paulo ou em outro clube. O aprendizado mira a categoria profissional, seu principal objetivo.
No primeiro ano de São Paulo, Alex foi finalista do Brasileirão, parou nas oitavas de final do Paulistão e obteve mais de 65% de aproveitamento. Foram 42 jogos na beira do gramado, com 24 vitórias, 10 empates e 8 derrotas; além de 94 gols pró e 45 contra.
Confira a entrevista completa com o Alex:
Qual o saldo deste seu primeiro ano como treinador e do São Paulo sub-20?
— O saldo é superpositivo. Temos que lembrar o que foi combinado: quando Muricy e Marcos Biasotto (diretor-executivo da base) me procuraram, eles me passaram a ideia de recuperar alguns jogadores, fazer com que lembrássemos da história do São Paulo, as referências que o são-paulino tem, e em cima disso tentar montar o time. Outra coisa também, uma novidade para mim, era sobre as referências que são dadas, que dizem quem são favoritos, os principais jogadores da idade, e nisso estamos falando de meninos de 2001 a 2004, e pouco se dizia do São Paulo. Isso dito pelos próprios profissionais de dentro do São Paulo.
— Falavam das gerações que a gente tinha que tentar melhorar os jogadores e formar um time, falavam das dificuldades que teríamos. No meio disso, o Marquinhos é elevado ao time principal e é decisivo no jogo com o Racing. Outros frequentaram períodos com Crespo e Rogério. Atletas que não acreditavam que dariam retorno técnico começaram a dar. O trabalho nesse sentido é superpositivo. Muitas vezes olhamos o resultado e esquecemos do processo e do trabalho.
— Fiquei mais preocupado com o processo, o que aqueles jogadores podem fazer nas suas carreiras, seja no São Paulo ou em outro clube. Obviamente saí triste do Morumbi pelo resultado (vice-campeonato do Brasileirão), porque queria ser campeão, mas fiquei feliz pelos processos que conseguimos iniciar. Oito meses é um tempo pequeno, mas estamos bem satisfeitos.
Alex comandou o São Paulo na temporada 2021 — Foto: Flavio Torres/Saopaulofc.net
O processo é mais importante do que o resultado?
— O mais importante é que fiz um compromisso com os atletas quando cheguei: ficaria com o grupo um pouco mais reduzido, porque queria que eles jogassem. Os que dispensei, bons jogadores, principalmente os nascidos em 2001, disse que seria mais proveitoso saírem e tentarem contratos em outras equipes. Na minha preferência, que comecem a jogar em equipes principais, saiam do conforto de Cotia. O São Paulo traz os meninos aos 12, 13 anos, vão seguindo a vida lá e chega no último ano de base sem conhecer a realidade do futebol, porque Cotia é um oásis dentro do mercado brasileiro. Essa foi a primeira atitude que tomei.
— A segunda foi falar para eles que, independente do nome, do sistema, existia um modelo para ser trabalhado e quem tivesse a consciência de que tinha que trabalhar muito, teria as oportunidades. Fiz um balanço no que tinha visto do ano passado em termos de minutos, quem tinha jogado mais, quem tinha jogado menos, para que todos tivessem suas oportunidades. Sempre dizia: sempre tem alguém vendo o trabalho de vocês e o meu.
— Se olhar os minutos, seja amistoso, Paulistão e Brasileiro, só o Young (goleiro) jogou pouco, porque teve processo de lesão. Todos os outros tiveram minutos compatíveis para mostrar as condições deles, e essa é uma das minhas satisfações ao longo do ano. Aí naturalmente você vai selecionando quem se destaca mais, as reações em jogo considerado menor ou maior, é a seleção natural que o futebol faz. A ideia de oportunizar acabou acontecendo.
Qual a maior dificuldade que você teve neste primeiro ano?
— Oportunizar minutos dos atletas. Muitas vezes fica no balanço: preciso ganhar e oportunizar minutos para alguns, mas tem esse que é importantíssimo para mim e para o clube. Tem atleta que é uma situação institucional, que o próprio clube aposta. Tem o jogador que é para o São Paulo, tem esse que é para outro clube e nos ajuda no momento. Equilibrar isso foi o mais difícil, mas encontrei facilidade porque escolhi uma forma de ser verdadeiro, sincero e direto, não inventar muita curva na conversa: olha, se fizer isso, vai acontecer lá na frente; se combinarmos e você fizer outra coisa, não vai acontecer.
— Várias vezes fui testado ao longo do ano, já que trabalhamos com meninos de 20 a 16 anos, e foi legal nesse sentido porque fui aprendendo. Como minha comunicação é direta, fiz com todos, sabiam quando iam jogar, quando estavam na lista, sabiam que não jogariam, sabiam por que jogariam. Foi uma relação direta e sincera, isso facilitou.
— Equilibrar isso, daquilo que o São Paulo acredita em um jogador e daquilo que o São Paulo quer no mercado; terceiro, com o que queremos usar no momento, essa é a parte mais complicada. Como sou um “sub-20” nessa questão de treinador, foi interessante para ir aprendendo, errando e acertando…
Caio comemora gol pelo sub-17 do São Paulo — Foto: Anderson Rodrigues/saopaulofc.net
Até jogadores do sub-17, como o Caio, apareceram em momentos decisivos desta temporada.
— Existem jogadores em que o clube aposta. Tem jogadores de 13 ou 14 anos que são quase unanimidade, que ele tem que ser trabalhado para chegar ao time profissional do São Paulo. Caio é um desses. Ele é absoluto no time sub-17 que o Menta comanda. Na idade, o Paulo Victor que está treinando o sub-20 do Palmeiras, levava o Caio também. É uma das referências do futebol brasileiro. Quando deu a chance de oportunizar minutos no sub-20, ele sempre apareceu bem.
— Coloquei no Paulista, foi bem. Alguns jogos, ele ficou no banco e entrou bem. Nos jogos contra o Flamengo, onde apareceu mais neste universo do “20”, ele entra nessa situação de “jogador universal”, uma coisa que o São Paulo trabalha para seguir o caminho para o time principal. Foi surpresa quando o Rogério Ceni convocou para o jogo contra o Grêmio. Como amigo e torcedor, fico na torcida para ele desfrutar, se divertir. É um menino, 2004 ainda. Tem que seguir todo o processo. Se o processo for embaixo, vamos tentar ajudá-lo. Se for acima, o Rogério vai ajudar. Foi introduzido no sub-20 e mostrou capacidade.
Quem tem sido importante para te ajudar, até para cortar caminho e se adaptar mais rápido?
— Não tenho intenção de cortar caminho. Tenho intenção de aprender naquilo que exige o futebol. Poderia aprender em uma equipe principal. A principal diferença entre sub-20 e principal é que as coisas são resolvidas de maneira interna. No profissional, o externo tem peso grande, com torcedor e imprensa. Na base, isso interfere menos. No termo de dia a dia, é parecido com o que vai encontrar em times principais.
— Sou um cara de diálogo e conversa, procuro absorver as chances. Tive alguns dias com o Crespo, com comissão de estrangeiros em sua maioria, depois com a saída e a vinda do Rogério, outras pessoas vieram, e sempre que tenho oportunidade. estou conversando. Em termos de aprendizado, o juvenil da história da comissão sou eu. O Lucas Macorin, treinador do 15 e auxiliar no 20, é treinador há muitos anos. O Arthur, preparador físico do 15 e ao mesmo tempo auxilia no 20, está há muito tempo. O preparador de goleiros já treinou goleiros profissionais. O Caco, preparador físico, está há muito tempo no futebol.
Muricy, Crespo e Alex conversam no CT do São Paulo — Foto: Alexandre Coutinho e Fellipe Lucena / saopaulofc
— O PC de Oliveira tem experiência absurda em lidar com pessoas como treinador de quadra e no campo. O João Paulo, supervisor, que está há anos no São Paulo, esteve em várias áreas, tem conhecimento de base grande. Tem duas pessoas que ninguém vê, que é o João, roupeiro, o Salvador, massagista, que têm mais de 30 anos de clube e dividem essa experiência. Ainda o departamento de análise, e quem está na sub-20 é o João, carinhosamente o Barba, que passa as visões dele.
— Essa comissão técnica, vivenciando isso, ajuda nesse processo. Tem o Moreira, mais de 30 anos de São Paulo. No dia a dia vão mostrando, vamos aprendendo. Passamos o dia em Cotia, uma conversa aqui, jogo lá, vai aprendendo, trocando ideia. Fui enfrentando vários treinadores, sou o juvenil da história. Muitos trazem minha história como treinador, mas foi minha primeira vez para dar treino, palestra, para conversar com atletas, dividir experiências com comissão. Foi muito legal enfrentar os treinadores adversários, as conversas antes e depois dos jogos. São oito meses de uma experiência enriquecedora. O principal é a evolução dos meninos, e eu por consequência passo pelo mesmo processos.
O que faz de diferente do que sentia na época de jogador? Algo de que você sentia falta e corrigiu agora como técnico?
— Relação pessoal. Muitas vezes aconteceram coisas comigo que não entendia. Muitas vezes era sacado ou entrava no time sem entender. Às vezes achava que estava bem, e não estava. Muitas vezes achava que estava mal, e não estava. Sou um cara que acredito muito na ciência, com analistas que me dão cortes estreitos que escapam a olho nu. Sou um ser humano e vou errar muitas vezes, como errei nestes últimos oito meses. É entender que o jogador muitas vezes não vai funcionar, na hora de executar não acontece. Muitas vezes acontece de maneira espetacular.
— Jogadores são seres humanos. A relação pessoal como queria que alguns treinadores fossem comigo é algo que imaginava antes, comecei a fazer desde o primeiro dia e tenho certeza de que foi uma coisa superpositiva.
Alex, treinador do sub-20 do São Paulo — Foto: Anderson Rodrigues/Saopaulofc.net
Thiago teve problema de indisciplina. Você teve um papel no retorno dele ao clube?
— Esse é um papo importante para que entendam como as coisas acontecem. Eu não indiquei o Thiago quando ele veio do Coritiba. Sou de Curitiba e tenho relação pelo clube e imputaram para mim a contratação. Aliás, não contratei ninguém. Decisões que tomei foram técnicas, dizendo que ia com esse pessoal aqui. O São Paulo tem uma situação financeira complicada, e disseram que dificilmente contratariam. Indicamos dois ou três nomes, e a coisa acabava não acontecendo por questões financeiras.
— O Thiago foi uma contratação feita pelo clube, eu o conhecia desde criança e realmente é bom jogador, conhecendo todo o histórico. Nas informações que busquei, acabei sabendo. Aí vieram as quartas de final com o Athletico, quando tomamos a decisão de afastá-lo. Quando tomamos a decisão com a comissão, não mando embora do clube, não tenho esse poder. Entreguei o caso ao Biasotto e eles discutiram com a diretoria, e a história vazou. Aí tem todo esse processo contratual, onde entram o jurídico e todas as outras coisas, e ele acaba retornando. Hoje é jogador do São Paulo.
— No meu papel com o Thiago, tivemos várias conversas, em grupo, eu conversei com agente dele, com pessoas ligadas a ele, meu papel como treinador é mostrar o melhor caminho para o Thiago ou qualquer outro nome de dentro do futebol. Hoje ele é jogador do São Paulo, dentro dos treinamentos vamos ver. Se formos olhar a posição dele, temos muitos bons nomes e de boa temporada. Quando vai jogar ou vai deixar de jogar, isso o dia a dia vai mostrar.
Thiago Dombroski chegou a deixar o São Paulo por indisciplina, mas voltou — Foto: Miguel Shincariol/Saopaulofc.net
Sobre a chegada do Balogun, atacante nigeriano e desconhecido. Como aconteceu?
— A captação é um fator importantíssimo em qualquer clube do mundo. Quanto antes captar, melhor. Esse menino nigeriano, se viesse para o sub-15 seria bem melhor do que agora no sub-20. Não tive participação, pois existe um departamento de captação com Biasotto como chefe geral. Viajaram para a Nigéria para ver algumas competições que estavam tendo, e ele foi destaque. Me passaram que esse menino estava contratado, mas não tinha vindo por problemas burocráticos da relação Brasil e Nigéria.
— Eu nem sei se ele chuta de direita ou esquerda, quem pode te responder é o departamento de captação. Eu posso te falar outros nomes, o São Paulo contratou o Rokenedy, que era do Athletico, através do Zetti; contratou o Levi, através do Zetti. No meu papel como treinador, ainda não participei de contratação até o momento. Às vezes sento com a captação para ver vídeos de jogadores, mas quanto mais cedo, melhor, principalmente para um estrangeiro. O menino da Nigéria vai ter dificuldade no início.
— O Facundo quando veio era um jogador que o mercado estava competindo e é um jogador que talvez nem tenha passado pelo departamento de base. Nesse processo todo, eles me entregaram o Facundo como contratação, e ele começou a treinar com o nosso time e nos ajudou dentro das possibilidades dele. Dessa forma, acho que consigo explicar um pouquinho melhor os acontecimentos desses meses.
Facundo Milan, centroavante uruguaio do São Paulo — Foto: Quality Sport Images/Getty Images
— Fizemos a lista da Taça São Paulo, tem um jogador que vimos, nosso adversário, Mateus Petri, do XV de Piracicaba. Foi nosso adversário, vimos durante vários jogos, e todos nós gostamos e trouxemos para fazer parte do nosso grupo para competir com Moreira, Patryck, com a meninada que pode jogar nessa posição.
Alex, técnico do São Paulo, durante jogo do time sub-20 — Foto: Divulgação/São Paulo
Quais os seus planos para o futuro? Seguir na base ou já mirar o profissional?
— Meu objetivo é trabalhar em equipes principais. Quando o São Paulo deu a oportunidade, eu continuo meu preparo. Vou para CBF terminar a Licença Pro, a última que falta, volto para encerrar meu processo do São Paulo. Quando chegar no fim do ano de 2022, sentaremos, faremos uma análise e veremos se sigo no São Paulo, se vou para outro clube, se sigo dirigindo sub-20, ver o próximo passo.
— Não tenho pressa, não quero encurtar nada, as coisas vão acontecer como tem que acontecer, porque dinamismo no futebol acontece. Estou satisfeito com o que o São Paulo me oferece, trabalhamos muito. Pela grandeza do São Paulo, o clube ainda não tinha chegado à final do Brasileiro Sub-20, chegamos pela primeira vez. É trabalhar para chegar de novo e tentar ganhar dessa vez. Mas o mais importante é que os jogadores sigam evoluindo, cada vez mais, e estejam prontos para quando o Rogério pedir. É seguir o plano como ele está desenhado para que as coisas sigam acontecendo.
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