Campeão mundial com SP vira torcedor comum no Morumbi mesmo jogando na Lusa

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UOL

Guilherme Palenzuela

Na noite de terça-feira (5) um jogador de futebol profissional, campeão da Copa Libertadores e do Mundial em 2005 pelo São Paulo, tornou-se torcedor comum, misturado entre outros milhares no Morumbi para assistir a vitória por 6 a 0 sobre o Trujillanos. Era Renan Teixeira da Silva, o volante Renan, cria da base são-paulina e que atualmente defende a Portuguesa, aos 31 anos.

Guilherme Palenzuela/UOL Esporte

No meio da arquibancada no setor azul do estádio, trajando a camisa comemorativa do jogo de despedida de Rogério Ceni, no qual esteve como jogador em, dezembro, Renan foi sozinho ao Morumbi como torcedor. E isso não é novidade para ele.

“Vim sozinho. Normalmente venho com meu irmão, meu primo, meu tio. Mas hoje não deu pra turma vir, então vim sozinho. E sempre que venho é a mesma rotina: vou na mesma barraca ali, tomo meu “guaraná”, fico ali tomando meu “guaraná”, como meu hot-dog e depois subo. Tranquilo. É o que faço sempre”, contou, ao UOL Esporte, durante o intervalo da partida, na arquibancada.

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A presença de Renan no Morumbi se faz curiosa por ser na arquibancada, e não num camarote, e porque ele ainda é jogador profissional. Membros do clube afirmaram mais tarde nem saber que o jogador costumava visitar o estádio como torcedor. Ao lado de tantos são-paulinos, o volante atraiu olhares, fotos e pedidos de autógrafos, mas se comportou como os outros 18.580 presentes: cantou, pulou, gritou, xingou e comemorou cada gol.

“Tenho o maior orgulho em dizer que este é o clube pelo qual torço, clube que sempre amei, e que uma das estrelas que está no escudo eu posso dizer que pelo menos indiretamente eu estava lá. Isso mexe muito comigo. Isso pra mim é muito importante. Poderia muito bem estar na minha casa esticando minhas pernas para ir treinar amanhã cedo, mas não. É uma coisa que não me peça pra explicar, porque eu não sei explicar. É um sentimento que a gente não explica”, falou Renan.

Renan aproveitou a folga concedida pela Portuguesa, desclassificada na Série A2 do Paulistão, para ir ao Morumbi. Explica que não frequenta tanto o estádio quanto queria porque o calendário do futebol, com concentrações, jogos e treinos, não lhe permite. “Venho sempre que dá, venho bastante, mas pela minha agenda, pelo calendário do futebol é bem complicado para mim. Mas sempre que dá venho. Como a Portuguesa não conseguiu a classificação pra Série A2, tive essa folguinha”.

“Jogador do São Paulo tem que ter consciência do que representa”

Renan diz que frequenta o Morumbi desde os 5 anos de idade. Relata que antes de entrar para as categorias de base do clube assistiu das mesmas arquibancadas que frequenta até hoje os títulos da Libertadores de 1992 e 1993, do time comandado por Telê Santana. Em 2005, ele foi escalado como titular no jogo contra o River Plate, na semifinal do torneio, e agora dá a receita para que o time de 2016 consiga vencer o mesmo clube argentino na próxima quarta-feira, no Morumbi.

“Minha carreira toda, até hoje, é guiada por perseverança, vontade. Naquela ocasião tinha aqui no Morumbi 70 mil torcedores. Eu carregava nas minhas costas uma pressão muito grande por ter vindo como torcedor a jogos do São Paulo em 1992 e 1993, semifinais, e agora eu estava dentro do campo. Com 20 anos, recém completos. Isso mexe muito com emocional. Os jogadores do São Paulo têm de ter consciência do que representam, e eu sentia que o nosso grupo de 2005 tinha muito isso. A gente tinha total consciência do que a gente representava para isso daqui (aponta para a torcida na arquibancada)”, afirma.

O campeão pelo São Paulo fez até piada ao comparar o que viveu há 11 anos como atleta no Morumbi e a realidade atual, na Portuguesa, ao falar sobre o jogo da próxima quarta-feira.

“O jogo contra o River é totalmente diferente. Um adversário muito mais capacitado, é o último campeão da Libertadores. E não adianta eu ter isso na minha cabeça, né, estando na Portuguesa e jogando contra o Atlético Sorocaba (risos), com todo respeito, claro. É o jogador do São Paulo que tem que ter essa consciência, do que eles representam ao vestir essa camisa”, falou.

“Eu cumprimentei o Geraldo Alckmin sem camisa!”

Renan defendeu o São Paulo até o fim de 2005 e depois, por decisão do então presidente Juvenal Juvêncio, teve de deixar o clube pelo qual torceu e ainda torce. Foi emprestado a clubes como Cruzeiro, Atlético-MG e Vitória até 2010. Apesar de não ter conseguido jogar tanto quanto poderia no Morumbi, o volante fala das recordações no clube com extrema felicidade.

Guilherme Palenzuela/UOL Esporte

“Vou citar um exemplo do Pintado: a gente já tinha sido campeão da Libertadores, e o Pintado era treinador de alguma equipe… não vou lembrar qual. Mas foi um desses jogos-treino, no CT, e depois da atividade o Pintado sentou no banco para conversar com a gente, jogadores do São Paulo, e falou assim: “Vocês têm ideia do que é andar na Marginal na contramão? Vocês têm ideia do que é parar uma cidade? Não? É o que é ser campeão mundial”, lembra o volante, que concedeu a entrevista ao UOL Esporte durante os 15 minutos do intervalo e só interrompeu para poder voltar a assistir à partida.

“E aí, quatro ou cinco meses depois nós fomos campeões no Japão e vimos tudo isso que o Pintado tinha falado. Eu entrei no Palácio do Governo sem camisa! Eu cumprimentei o Geraldo Alckmin sem camisa!”, completou.

“Lugano é importante para entenderem responsabilidade”

Fã declarado do zagueiro Diego Lugano, de quem foi companheiro entre 2004 e 2005, Renan disse que o uruguaio é peça fundamental para que o elenco atual entenda o tamanho da responsabilidade no clube. Ele usa Pintado, novo auxiliar técnico do clube, na mesma análise.

“Você ter o Lugano, que presenciou tudo isso, você ter o Pintado, que anos antes viu tudo isso, é muito importante. Os jogadores têm que entender o time que eles jogam, que é o maior do Brasil. É o maior vencedor de Libertadores e Mundial do Brasil. Eles têm que entender a responsabilidade que é vestir essa camisa e representar cada torcedor que aqui está. O jogador tem que saber que o torcedor abre mão de comprar uma coisa no mês para estar aqui”, avaliou.

Campeão vira atração na arquibancada e até ganha presente

Leitor UOL Esporte

Naturalmente, a presença do campeão mundial no Morumbi como torcedor comum chamou atenção de são-paulinos que o encontraram. Um grupo de torcedores que estava ao lado do volante na arquibancada contou que o encontrou sozinho enquanto comia um cachorro-quente minutos antes de entrar no estádio. Puxaram papo e decidiram subir juntos para assistir ao jogo.

Renan ainda ganhou uma camiseta com estampa do ídolo Diego Lugano de um grupo de torcedores intitulado “Órfãos de Edcarlos” – referência a outro campeão mundial não tão lembrado pelo torcedor, mas que em determinado momento virou exemplo de comprometimento com o clube, como Renan. Este grupo acompanhou Renan desde o início do jogo até a saída do estádio.

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