GloboEsporte
Carlos Eduardo Mansur
É possível apontar algumas diferenças entre São Paulo e Corinthians a esta altura da temporada. A justa vitória do tricolor, que vai à final para tentar o bicampeonato paulista, não foi exatamente produto de um massacre, de um jogo absolutamente desequilibrado, mas de uma superioridade que pode ser atribuída, por exemplo, a um trabalho mais maduro. Rogério Ceni fez seu time evoluir ao longo das últimas semanas, o sistema parece mais compreendido pelo time, enquanto Vítor Pereira tem apenas seis jogos no comando. Mas a maior diferença, neste momento, está na capacidade de competir.
Alisson gol São Paulo x Corinthians — Foto: Marcos Ribolli
É como se o Corinthians fosse, o tempo todo, um cobertor curto. A junção dos talentos contratados pelo clube raramente resulta em virtudes que se complementam, há quase sempre alguém desconfortável. Não significa que não vá funcionar conforme o trabalho de Vítor Pereira ganhe maturidade. Mas quando Sylvinho caiu, e aqui não se trata de defender o trabalho ou julgar a justiça da demissão, um dos alertas era de que montar este Corinthians é um trabalho mais complexo do que se imagina.
Ceni havia imposto imensas dificuldades ao Corinthians na fase de classificação a partir de encaixes individuais de marcação. Talvez isso tenha levado Vítor Pereira a colocar Renato Augusto novamente partindo do centro do ataque, tentando confundir a marcação rival, mudar as dinâmicas ofensivas. Mas, novamente, Renato ficou desconfortável – como já ocorrera com Sylvinho. Tanto que, após 30 minutos, o técnico português voltou ao desenho habitual, com Renato pelo meio, Roger Guedes no centro do ataque e Willian e Giuliano partindo dos lados. Willian começou pela direita, mas como este Corinthians ainda tem dificuldades para desarmar na frente, era obrigado a se desgastar demais em funções defensivas. Em especial após a saída precoce de Fágner. Nos minutos em que Giuliano ocupou a direita, na parte final da primeira etapa, a situação piorou: o time perdeu profundidade e ofereceu muito pouco na recomposição.
Vitor Pereira diz buscar um Corinthians capaz de pressionar com intensidade para ficar com a bola. Não é simples transformar o time que tinha, no último Brasileiro, os piores índices de intensidade e pressão, num time capaz de sufocar sistematicamente seus rivais. E Rogério Ceni soube aproveitar o cenário. Primeiro porque, enquanto o Corinthians parecia pesado para fazer transições ao recuperar a bola e sofria para reagir rapidamente quando a perdia, o São Paulo tem esta agilidade. E foi ela que terminou por fazer a diferença. Em algum momento, a diferença de intensidade seria sentida. É questão de característica dos jogadores, não só de média de idade. E muito menos de vontade, não se trata disso.
Era um jogo de poucas oportunidades, tendendo ao equilíbrio, quando Wellington acertou o belo chute do primeiro gol. O lance surge de uma jogada construída, primeiro com profundidade pela pela direita, depois pela esquerda, onde Wellington, Éder e Alisson sobrecarregavam um setor mal protegido do Corinthians. No segundo tempo, a capacidade de recuperar a bola e atacar com rapidez resultou no grande contra-ataque do gol de Alisson. É o tipo de jogada que o Corinthians ainda não tem em seu repertório. Vitor Pereira ainda tentou alternativas, terminou o jogo com Júnior Moares e Jô junto a Roger Guedes na frente. Até criou chances, mas achou o gol num erro de Jandrei.
Vai à final um São Paulo que tem virtudes importantes. Em seu 4-1-3-2, acumula opções por dentro, para toques curtos, tentando compensar a falta de tantas opções de velocidade. E além do acerto tático, algumas opções de Ceni começam a premiar o treinador. Wellington é ótima opção para ocupar o corredor esquerdo e acabou abrindo o placar do clássico. Mas, acima de tudo, o time tem uma construção de jogadas em que duas revelações do clube se destacam. Pablo Maia deu nova ordem ao time desde que Rogério Ceni o pinçou para a equipe titular. O que permitiu adiantar Rodrigo Nestor, autor do brilhante passe do primeiro gol no Morumbi. A partir deles, o São Paulo funciona. Não é uma equipe pronta, mas vai terminar o Paulista melhor do que iniciou.
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