GazetaEsportiva
Marcelo Baseggio
No dia 25 de setembro de 2021, em uma reunião do Conselho Deliberativo, Turíbio Leite de Barros foi homenageado pelo São Paulo. O ex-fisiologista do clube retornava ao Morumbi para colaborar de forma voluntária com a modernização do Reffis, criado por ele em 2003.
Como um dos profissionais mais renomados da área no Brasil, Turíbio Leite de Barros usaria sua influência para costurar parcerias com fabricantes de modernos equipamentos dispostos a cedê-los ao Tricolor com descontos ou até mesmo de forma gratuita em troca de propriedades de marketing.
Nove meses se passaram, e nada do que era previsto se cumpriu. O Dr. Turíbio garante que quatro empresas se dispuseram a negociar com o São Paulo para modernizar o Reffis, mas a Divisão de Excelência Médica (DEM) do clube não deu prosseguimento às tratativas, alegando que não há comprovação científica da eficácia de alguns dos aparelhos oferecidos., além de contratos desfavoráveis para a instituição.
DEM
A Divisão de Excelência Médica (DEM) do São Paulo foi criada no ano passado para integrar e coordenar a área de saúde do São Paulo, que inclui preparação física, fisiologia, fisioterapia e departamento médico. O DEM era composto inicialmente por nove membros, sendo três conselheiros, três executivos do clube e três profissionais da saúde.
Conselheiros: Dorival Decoussau, Daurio Speranzini Júnior e Jaime Franco.
Executivos: Roberto Armelin, Márcio Carlomagno e Érika Podadera.
Profissionais da saúde: Dr. Turíbio Leite de Barros, Dr. Fernando Fernandes e Dr. Marcos Knobel.
A Divisão de Excelência Médica também contava com um Conselho de Notáveis composto por sete profissionais de diferentes áreas da saúde que teriam a função de auxiliar em tomadas de decisão para melhorias e definir processos no São Paulo, além do ex-atleta Kaká.
Profissionais da saúde:
Dr. Turíbio Leite de Barros (phd em fisiologia)
Dr. Julio Serrão (phd em biomecânica e professor titular da USP)
Dr. Cláudio Kater (phd em endocrinologia e professor titular da Unifesp)
Dra. Gerseli Angeli (phd em fisioterapia e nutrição esportiva)
Dr. José Roberto Jardim (phd em pneumologia e professor titular da Unifesp)
Dr. Fernando Fernandes (phd em pediatria e diretor médico da Biolab) – DEM
Dr. Antonio Lancha Júnior (phd em nutrição e professor livre docente da USP)
Turíbio x São Paulo
O Dr. Turíbio Leite de Barros contava com o auxílio de sua esposa, a Dra. Gerseli Angeli, para formar parcerias que pudessem modernizar o Reffis não só com equipamentos, mas também com certos processos.
A dupla chegou a promover algumas visitas de empresas e profissionais de fora ao CT da Barra Funda para exibir aparelhos e práticas diferentes das que existia na área de saúde do São Paulo.
Internamente, o comportamento de Gerseli Angeli no CT da Barra Funda desagradou algumas pessoas do clube. Segundo relatos, a esposa do Dr. Turíbio Leite de Barros passou a pedir diretamente à presidência a compra de certos equipamentos e produtos, além de transitar com liberdade exacerbada nas instalações que recebem o elenco profissional.
O São Paulo também não ficou satisfeito com os termos de alguns contratos, que divergiam de acordos iniciais, fazendo com que o clube tivesse de pagar por certos aparelhos após pouco tempo de uso.
Ainda de acordo com pessoas do clube, Turíbio Leite de Barros teria externado o desejo de gerir a Divisão de Excelência Médica, o que não foi possível pelas normas de compliance implementadas pela atual gestão – o filho de Turíbio, Fernando Leite de Barros, é fisiologista do São Paulo. Por isso, o pediatra Dr. Fernando Fernandes foi o escolhido para exercer a função.
Acordos de Turíbio para modernização do Reffis
Logo em sua apresentação como membro da DEM e do Conselho de Notáveis do São Paulo, o Dr. Turíbio Leite de Barros anunciou que o clube receberia, sem custos, quatro novos aparelhos: uma câmara hiperbárica, um simulador de corrida, uma cadeira flexora e um rotary calf. Também havia sido revelado que, em breve, o Tricolor ganharia um equipamento a laser usado na NBA (liga de basquete) e NFL (liga de futebol americano) que abrevia em 50% o tempo de recuperação de lesões. Nenhum deles foi instalado.
Ao longo dos meses seguintes, Turíbio Leite de Barros aproximou quatro empresas do São Paulo: BTL (aparelhos de fisioterapia), Oxy (câmaras hiperbáricas), i-Motion (roupas de eletroestimulação) e Casa do Fitness (aparelhos de academia).
A ideia era conseguir equipamentos dessas empresas em troca de propriedades de marketing, entradas de camarote e camisas autografadas.
Dessas quatro empresas, o São Paulo só continua negociando com a Casa do Fitness, já que os aparelhos de academia do CT da Barra Funda não são modernizados há bastante tempo. Porém, não há qualquer previsão da chegada de novos equipamentos fitness para o Reffis.
Por que as negociações com outras empresas não avançaram?
i-Motion
A i-Motion, fabricante de roupas de eletroestimulação, doou ao São Paulo um pack completo com três coletes, software e transmissor, avaliado em R$ 100 mil. A única contrapartida imposta pela empresa eram propriedades de marketing, sem custos financeiros ao clube.
O São Paulo alega que não há comprovação científica desse aparelho, embora clubes como Fluminense e Real Madrid façam uso do equipamento.
A roupa de eletroestimulação tem a tarefa de gerar um alto índice de recrutamento de fibras, possibilitando ao profissional selecionar o tipo de fibra que deseja trabalhar. O equipamento é ideal para fortalecimento e recuperação muscular, contribuindo tanto para prevenção como para tratamento pós-lesão.
Oxy
A Oxy é a única empresa que comercializa câmaras hiperbáricas no Brasil. A empresa já vendeu o equipamento, que custa R$ 494 mil, para clubes como Flamengo, Red Bull Bragantino, Cuiabá, Corinthians e negocia com o Palmeiras.
Funcionários da Oxy chegaram a visitar o CT da Barra Funda para avaliar a estrutura necessária para a instalação de uma câmara hiperbárica e sugeriram adaptações para que o local pudesse receber o equipamento, como instalação de oxigênio, por exemplo.
Após a visita, o São Paulo não entrou mais em contato com a empresa. Procurado, o clube também respondeu que não há comprovação científica da eficácia do equipamento, de acordo com o gestor do DEM, o pediatra Dr. Fernando Fernandes, e que o custo de manutenção era alto.
BTL
A empresa fabricante de aparelhos fisioterápicos chegou a negociar com o São Paulo um comodato, que seria o empréstimo de equipamentos por cerca de seis meses a um ano. Após esse período, o clube teria que comprá-los, mas com um desconto de 30%. O pacote era avaliado em R$ 1 milhão.
De acordo com o São Paulo, os termos do contrato não eram muito mais favoráveis à empresa que ao clube. Por isso, a diretoria acabou barrando o acordo. O clube também alegou que algumas das aquisições não são prioridade no momento.
Procurada, a BTL garantiu a procedência de seus equipamentos.
“Os nossos equipamentos são de tecnologia europeia, alguns possuem FDA, todos possuem seus registros regulamentados e de forma legalizada no Inmetro e na Anvisa. São equipamentos utilizados por vários nomes importantes na reabilitação física e medicina do esporte”, escreveu a empresa à reportagem.
O que há de novo no Reffis
Apesar de as parcerias costuradas pelo Dr. Turíbio não terem sido concretizadas, o São Paulo fez alguns investimentos em equipamentos para o Reffis. O clube adquiriu aparelhos portáteis de terapia combinada que podem ser usados em viagens e botas pneumáticas (sem custos, apenas com parceria 100% em marketing).
Há ainda negociação com uma empresa para a aquisição de um equipamento de ondas de choque radial, no valor de R$ 85 mil. O Dr. Turíbio pedia um equipamento de ondas de choque focal, de R$ 250 mil.
Além disso, o São Paulo contratou um profissional fixo de ultrassom, Alexandre Galeno, para ir ao CT da Barra Funda periodicamente fazer exames de ultrassom no elenco. O profissional, inclusive, havia sido indicado pelo Dr. Turíbio Leite de Barros, mas acabou sendo admitido após Rogério Ceni também ter manifestado sua importância.
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