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Apenas santistas vão assistir o duelo entre Santos e Palmeiras, na Vila Belmiro, em Santos, no próximo domingo, pela semifinal do Campeonato Paulista. Novidade no Estado, os clássicos com torcida única foram realidade em Minas Gerais entre junho de 2010 e fevereiro 2013, quando Atlético-MG e Cruzeiro ficaram órfãos do Mineirão (estava em obras). Adotada para combater a violência, a medida não é vista como capaz de intimidar os brigões na opinião de quem acompanhou a operação no estado mineiro.
“A verdade é que a segurança dentro do estádio não é problema já tem alguns anos. O problema sempre esteve fora dos estádios, no deslocamento das torcidas. Acredito que fazer os clássicos com torcida meio a meio seja até mais seguro”, disse o tenente coronel da Policia Militar de Belo Horizonte, Gianfranco Caiafa, para a ESPN.
“A avaliação é simples: dá menos trabalho ao policiamento quando há forças equivalentes do que quando um lado tem 90% e outro 10%. Com forças iguais, os torcedores sentem se inibidos naturalmente. Já quando a divisão é desigual quem está ao lado da maioria sente-se mais forte e o ambiente fica naturalmente tenso”, completou Caiafa.
Atlético-MG e Cruzeiro disputaram dez partidas com apenas torcedores da equipe mandante. Oito vezes o confronto foi no interior (sete em Sete Lagoas e uma em Uberlândia) e em duas em Belo Horizonte, no Independência.
Partidas com torcida única não significaram tranquilidade para a polícia. A necessidade de monitorar os torcedores e escoltar os grupos organizados continuou presente.
“O que ocorre em São Paulo também ocorre em outras cidades. As brigas acontecem a quilômetros de distância do local do jogo. Há grupos, especialmente aqueles ligados as subsedes das torcidas organizadas, que marcam brigas pela internet. O jogo não significa nada para eles e é preciso pensar em medidas para inibi-los”, avaliou Caiafa.
“Mesmo nos jogos com torcida única vai ocorrer confronto. Faz parte da ideologia desses grupos. O estádio não é problema, mas eles usam estações, os bairros para se encontrarem. Mesmo sem palmeirenses na Vila Belmiro não se espante se eles brigarem com santistas em São Paulo”, completou.
ONDA DE VIOLÊNCIA, FALTA DE PUNIÇÃO
Caiafa citou o último duelo entre Atlético-MG e Cruzeiro, em 27 de março deste ano, no Independência, quando havia maioria de atleticanos (90%) no estádio para exemplifcar os problemas de violência cada vez mais comuns no Brasil.
Segundo ele, boa parte da torcida organizada do Cruzeiro (Máfia Azul) preferiu ver o duelo em um telão no bairro de Barro Preto, no centro de Belo Horizonte e a quase 8 km do estádio, por causa de um desentimento com a diretoria do clube celeste.
Mesmo o deslocamento deles não sendo em direção ao estádio, a PM mineira escoltou o grupo de cerca de 500 torcedores até o local indicado por eles.
“Demos toda a segurança necessária e mesmo assim a Galoucura [torcida organizada do Atlético-MG], que nada tinha de fazer naquela área, tentou uma emboscada contra uma parte do grupo. Cerca de 200 atleticanos tentaram atacar 40 cruzeirenses, mas a PM conseguiu evitar a briga. Houve confronto da Galoucura com a polícia. Eles jogaram pedras, rojões, foguetes, destruíram algumas viaturas. Cento e setenta e três foram presos nessa operação, mas somente nove vão seguir inquérito”, disse Caiafa.
Segundo o comandante, isso é muito comum e ocorre porque para o inquérito atingir todos os detidos é preciso discriminar o que cada um vez individualmente. O que não ocorre. Ainda assim, Caiafa defende outras medidas que não a prisão.
“É possível aplicar penas como a proibição da entrada de instrumentos e bandeiras, algo que afeta o ritmo da torcida ao apoiar o time. O Atlético-MG sente muito. Ao mesmo tempo tentamos inserir alguma medida sócio-educativa. Ano passado aceitamos rever a pena se eles doassem sangue para hospitais que necessitavam. O mesmo ocorreu com a torcida do Cruzeiro. Eles tinham sido punidos e para terem a pena retirada nós exigimos que eles ajudassem a região de Mariana. Eles encheram dois caminhões com roupas e mantimentos e distribuíram na região. Isso tem ajudado a conscientizá-los”, disse.
“Outra medida que funciona para coibir os confrontos fora do estádio é um termo de ajustamento que exsite em Minas segundo o qual quando joga um time as torcidas organizadas rivais não podem abrir a sede. Assim, se joga o Atlético-MG a Máfia Azul tem de fechar, caso contrário há penas pesadas. Isso tem ajudado mais do que estádio com torcida única”, completou o comandante do Batalhão de Choque da PM.