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Eduardo Rodrigues e José Renato Ambrósio
Em entrevista ao ge, zagueiro fala de sua liderança dentro e fora de campo, importância da Sul-Americana e rebate críticas: “Todos os jogos que atuei estive em alto nível”.
Miranda pode viver seu último grande ato com a camisa do São Paulo no próximo sábado, às 17h, na final única da Copa Sul-Americana, contra o Independiente del Valle, do Equador, em Córdoba, na Argentina. Isso porque o zagueiro e ídolo do Tricolor não sabe se continua no clube em 2023.
Em entrevista ao ge, o jogador de 38 anos revelou uma reunião que teve com a diretoria. Nesse papo, os dirigentes deixaram nas mãos de Miranda a decisão de renovar ou não o contrato que vence em dezembro. No entanto, essa escolha será feita somente após a final do torneio continental.
– Eu me imagino vencendo sábado, terminando a temporada bem, porque o meu objetivo é colocar o São Paulo novamente no cenário mundial. E a partir disso é dever cumprido e pensar o que vamos fazer no ano que vem. Ainda não tenho uma ideia, meu pensamento é fazer o São Paulo vencedor. Esse é meu objetivo – afirmou.
Miranda, do São Paulo, em entrevista ao ge — Foto: Eduardo Rodrigues
Tricampeão brasileiro com o Tricolor em 2006, 2007 e 2008, Miranda sabe bem como o título da Sul-Americana pode ser importante para o São Paulo se recolocar no trilho das grandes conquistas, justamente dez anos após a última taça internacional: a edição de 2012 do torneio.
De lá para cá, o clube viveu uma carência de títulos, encerrada com a conquista do Paulistão de 2021, coincidentemente o ano de retorno do zagueiro ao Morumbi.
– O São Paulo tem que ser campeão pela dimensão. Tem que ser campeão porque chegou por méritos. Tem que ser campeão porque é mais experiente, mais rodado. Tem uma mescla de juventude com experiência muito boa. Tem harmonia no vestiário muito boa – comentou.
– O São Paulo está preparado para esse título, porque lutou muito, batalhou muito, passou por diversas dificuldades para chegar onde chegou. É maduro, cascudo e vai fazer por merecer esse título – emendou Miranda.
Assista à entrevista exclusiva com Miranda, do São Paulo
Na entrevista ao ge, o zagueiro ainda falou sobre sua liderança em um elenco repleto de jovens, elogiou os companheiros de zaga Diego Costa e Léo e rebateu críticas sobre seu nível técnico:
– Vejo que esse momento de “não dá mais para mim” longe. Porque todos os jogos que atuei estive em alto nível. No ano passado eu estive na seleção brasileira, nas eliminatórias. Dei minha pequena contribuição e mostrei minha qualidade.
Leia a entrevista:
Como é voltar a viver uma semana de decisão com a camisa do São Paulo?
– Uma semana importante. No meu retorno sempre falei que voltei para recolocar o São Paulo no caminho das vitórias, dos títulos e fico feliz. Mais uma semana como essa, queremos dar essa alegria ao nosso torcedor. Com certeza vamos fazer nosso melhor para sair de lá campeão.
A torcida promete lotar a avenida em frente ao CT no dia da viagem a Córdoba para apoiar o time. Como é essa expectativa?
– Emocionante! E a gente poder retribuir esse carinho é satisfatório. A gente sabe da importância desse título para o São Paulo. Voltar a ser campeão internacional. Isso traz muita credibilidade. Esse é o nosso objetivo e vamos fazer por merecer para levantar esse caneco.
Quase dois anos se passaram do seu retorno, como se sente hoje?
– Sabia que as minhas palavras na apresentação seriam fortes, porque o São Paulo já fazia tempo que não ganhava nada. Mas hoje vejo que estou no caminho certo. São dois anos praticamente e três finais. Consegui meu objetivo e com certeza o time vai voltar para o caminhos das glórias.
Miranda em partida pela Sul-americana — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Valeu a pena esse retorno?
– Estou feliz. Muita gente vinha me falar para não voltar para o São Paulo, porque a situação não era das melhores. Tinham outros clubes interessados em fazer negócio comigo. Procurei sempre dar prioridade para o São Paulo. Antes mesmo de o presidente Julio vencer a eleição, ele ligou para mim e disse “se eu for presidente eu quero você, você fará parte do meu projeto”. E eu já tinha dado minha palavra que voltaria. Fico feliz com esse retorno. Vejo que minhas palavras foram cumpridas e agora espero continuar conquistando.
O que foi mais especial nessa sua segunda passagem?
– Até agora o momento mais especial foi o título (do Paulistão) em cima do Palmeiras, um rival que estava em um momento muito bom. Foi algo muito especial, para mostrar o nosso potencial, nosso caráter e que estamos fazendo um grande trabalho. Agora é especial, porque depois de dez anos colocamos o clube novamente em uma final internacional. Com certeza um momento que todo torcedor sonhava.
O quanto é importante o São Paulo voltar a vivenciar esses momentos?
–Acho que para um clube voltar ser grande tem que disputar esse títulos, disputar competições internacionais, jogar Libertadores… e estamos a um passo disso acontecer. Nunca abandonamos a Sul-Americana, com times que eram possíveis vencer. Com certeza chegamos por merecimento e temos que dar a alegria para o nosso torcedor que sempre apoiou nos jogos da Sul-Americana, fizeram festas impressionantes nas chegadas ao Morumbi.
Você foi um dos jogadores que mais atuaram nesta Sul-Americana. Como você viu a força do elenco? Em muitas ocasiões o São Paulo jogou apenas com garotos e você como um líder experiente…
– Foi a responsabilidade de conhecer o clube, conhecer o elenco, ter o carinho muito grande e dando ali a cara para bater. No meio de dez jogadores da base eu era o mais velho e experiente do grupo. Pedi para jogar e naquele momento virei para garotada e falei: “a responsabilidade do jogo é minha, vocês jogam tranquilos, façam o melhor de vocês, porque o que acontecer no jogo eu vou assumir a responsabilidade”.
– Fico feliz de ver aqueles jogadores mostrando suas qualidades, fazendo o seu melhor. O Caio, da base, fez seu primeiro gol naquele dia (vitória contra o Ayacucho, no Morumbi) e foi uma felicidade ver um garoto sendo destaque do jogo. Para isso que eu vim, para fazer esses garotos crescerem e fazer com que o São Paulo retorne ao caminho dos títulos.
Você é um “líder silencioso”. Em um elenco com tantos garotos, como é seu papel hoje no vestiário?
– Acho que tem vários tipos de líderes. O da parte tática, o líder da parte técnica, o líder na parte motivacional… Pela minha experiência, eu tenho um pouco de tudo. Sei o momento de falar, de cobrar, de dar moral para o jogador. Por tudo que vivi eu consigo saber o que precisa no momento. Essa é uma grande vantagem que nesse retorno eu pude agregar ao São Paulo.
Como reencontrar o Rogério Ceni em outra função?
– Foi curioso, Rogério é um cara muito inteligente, vem demonstrando isso. É um cara vitorioso, que conheço bem, tem a ambição de vencer. Então para mim foi tranquilo. No momento que a diretoria perguntou para mim sobre o Rogério, eu falei que era muito legal, que era inteligente e conhecia muito do futebol. Com certeza ele estaria em casa aqui, e ele faria o melhor. Se é melhor para o São Paulo é melhor para todos nós.
Rogério Ceni e Miranda conversam durante treino — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc
Onde você acha que o Rogério pode chegar?
– É um treinador moderno, que vem se atualizando, aprendendo, crescendo. Para mim tem tudo para ser um dos melhores do Brasil.
Como é esse diálogo entre vocês?
– Para mim é um pouco estranho, porque sempre vi o Rogério como um companheiros e agora o vejo de treinador. Às vezes tem até certa barreira, porque tem muito respeito um pelo outro. Para mim é diferente. Estou acostumando com a ideia dele ser meu treinador, porque fomos companheiros durante muito tempo.
Diego Costa é um zagueiro jovem que vem despontando no São Paulo e vem apresentando um crescimento muito bom. Como você analisa o futebol dele?
– Diego é um garoto especial, com muita ambição, muita energia para vencer. É um cara que eu converso bastante. Para mim, ele e o Léo são dois jogadores fantásticos, que estão aprendendo e evoluindo. Eles sempre estão conversando comigo, procuram orientação… São dois jogadores com a mente aberta para aprender, querem evoluir. Eles estão em um crescimento muito grande e tem tudo para se tornarem dos zagueiros tops mundiais.
Você se enxerga neles no começo da carreira?
– Eu me vejo, porque sei da ambição que têm dois garotos sensacionais como eles. Como pessoa e como atleta. Eu vejo com olhar de vencedor. Eu procuro ajudar muito eles com isso, dar ensinamento, cobrar quando tem que cobrar, corrigir, e eu vejo eles com muita aceitação no que falo. Fico feliz por ajudar.
Seu contrato vai até o fim deste ano. O que você pensa para o futuro, vai renovar?
– Eu me imagino vencendo sábado, terminando a temporada bem, porque o meu objetivo é colocar o São Paulo novamente no cenário mundial. E a partir disso é dever cumprido e pensar o que vamos fazer no ano que vem. Ainda não tenho uma ideia, meu pensamento é fazer o São Paulo vencedor. Esse é meu objetivo.
Ainda quer jogar ano que vem?
– Ainda não sei. Acredito que sim, tem essa possibilidade. A diretoria veio conversar comigo, deixou nas minhas mãos essa decisão. Mas falei para eles que não era o momento de decidir sobre meu futuro. É o momento do futuro do São Paulo, que passa por essa semana. Meu pensamento é o São Paulo, fazer ele campeão. A partir daí vamos começar a conversar.
O São Paulo está pronto para ser campeão?
– O São Paulo tem que ser campeão pela dimensão. Tem que ser campeão porque chegou por méritos. Tem que ser campeão porque é mais experiente, mais rodado. Tem uma mescla de juventude com experiência muito boa. Tem harmonia no vestiário muito boa. O São Paulo está preparado para esse título, porque lutou muito, batalhou muito, passou por diversas dificuldades para chegar onde chegou. É maduro, cascudo e vai fazer por merecer esse título
Jogadores do São Paulo comemoram classificação à final da Copa Sul-Americana — Foto: Marcos Ribolli
Um título assim coloca esse elenco em um patamar acima?
– Com certeza. Vai fazer esses jogadores entrarem para a história do clube. Um título internacional que há dez anos não conquista. O jogo mais importante dos últimos 10 anos. Temos por obrigação e dever voltar com esse título.
Essa sua última frase “jogo mais importante dos últimos 10 anos” está sendo falada por todo o elenco e pelo Ceni. É algo que está fixado na mente de vocês?
– A gente sabe da importância desse jogo. É o que a gente vem passando para a garotada. É um jogo importante, mas a gente tem que viver essa final. Tem que saber desfrutar. Temos a obrigação de ganhar, de sair de lá vencedor, mas temos que desfrutar. Ir lá, jogar, fazer nosso melhor para a gente voltar de lá com o título.
Em caso de título, qual seria a sua parcela de contribuição para essa conquista?
– Eu iniciei essa caminhada. Estive presente em quase todos os jogos, só não estive em um porque estava lesionado. Quando tive condição estive em campo. Contra o Atlético-GO acelerei meu retorno, mas não consegui jogar, mas mesmo assim estive no vestiário, fiz o que pude. Lá no Chile estive presente, acompanhei os garotos. Eu dei uma contribuição muito grande para chegar onde chegou. Então eu quero dar ainda mais essa contribuição na final para o São Paulo ser campeão.
Você deu uma declaração há uns meses sobre ter vindo para jogar, que estava bem e queria jogar. Aquilo foi um desabafo por ver que poderia contribuir mais dentro de campo?
– Acho que foi um alerta de que eu estava ali, de que eu não estava aqui só para ser um líder de vestiário. Também estou aqui para ser um líder dentro de campo. Queria demonstrar meu nível, que sempre esteve alto, e estou demonstrando isso dentro de campo. Mostrei isso em várias ocasiões, então foi um alerta, que não estou aqui só para ser líder de vestiário.
– Vejo que esse momento de “não dá mais para mim” longe. Porque todos os jogos que atuei estive em alto nível. No ano passado eu estive na seleção brasileira, nas eliminatórias. Dei minha pequena contribuição e mostrei minha qualidade.
Miranda, do São Paulo, em entrevista ao ge — Foto: Eduardo Rodrigues
Essa questão da Seleção… Foi um pouco surpreendente sua convocação naquele momento olhando de fora. Para você também?
– Você está no São Paulo, um dos maiores do Brasil, e você tem o sonho de estar na Seleção. Eu sempre almejei estar na Seleção, sempre quis contribuir para o meu país, então para mim não foi surpresa. Então eu sei o que posso contribuir para a Seleção, o que posso produzir pelo clube. E o Tite sabe que eu posso. Para mim foi mais uma conquista servir à Seleção naquele momento e mostrar o nível que eu ainda continuo jogando. Ninguém desaprende a jogar em um ano. E venho demonstrando isso.
Se em dezembro você decidir deixar o São Paulo, você acha que será dever cumprido?
– Se eu tiver que sair, com certeza com esse título, é um dever cumprido. Cheguei no São Paulo quando o clube não ganhava um título há dez anos e nesses dois anos joguei três finais e, se possível, com duas conquistas. Então é um dever cumprido. Se tiver que sair vou continuar na torcida, como sempre foi. Se eu continuar vou seguir buscando os títulos.
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