Julio Casares diz que não quer uma ‘caça às bruxas’, mas sim entender os motivos
LANCE
O presidente do São Paulo, Julio Casares, disse que não quer abrir uma caça às bruxas com a investigação aberta no Conselho do clube para apurar as causas que levaram à dispensa de Endrick de suas categorias de base. Segundo ele, o objetivo é entender os processos que levaram a decisão.
– Eu coloco esse tema lamentando muito. Claro que ninguém precisa culpar ninguém. Ele (Endriclk) tinha 9, 10 anos quando aconteceu. O que eu quero é saber qual o tipo de protocolo que existiu na época – destacou Casares, em entrevista à ‘TV Gazeta‘.
O mandatário se referia ao assunto que veio à tona em meados de dezembro, quando dirigentes tricolores anunciaram a abertura da investigação para apurar a dispensa de Endrick de Cotia, que ocorreu em 2016.
O assunto veio à tona em páginas de torcedores são-paulinos após confirmada a venda de Endrick para o Real Madrid, da Espanha, por 72 milhões de euros (aproximadamente R$ 405 milhões). Uma comissão montada pelo Tricolor levantará documentos e ouvirá funcionários para apurar os motivos que levaram o clube a dispensar a joia, então com 10 anos.
O L! apurou que Casares foi duramente cobrado por conselheiros aliados. Além do prejuízo financeiro após o órgão ver quanto o rival vai arrecadar, o pedido de investigação cita o episódio como ‘fundamental para afetar a credibilidade do processo de formação de atletas’ do Tricolor.
O São Paulo era presidido por Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, antecessor do atual mandatário. A reportagem não conseguiu contato com ele até a conclusão desta reportagem. O episódio da dispensa de Endrick é recorrentemente lembrado pela joia e seu estafe. Recentemente o atacante provocou o Tricolor com a publicação de uma foto nas redes sociais.
– São Paulo: não conseguimos arcar com moradia e emprego ‘pro’ (sic) seus pais, você está liberado – escreveu a joia na legenda da imagem, em que aparece em Cotia, vestido com um uniforme do clube do Morumbi.
Douglas Ramos, pai do atacante e principal responsável por cuidar das coisas envolvendo a sua carreira, relembrou o ocorrido em entrevista ao LANCE! no início do ano, após Endrick conquistar a Copa São Paulo de juniores pelo time do Parque Antártica.
– Pedimos o básico: uma casa para podermos morar com ele (Endrick) em São Paulo e um emprego para eu poder me sustentar aqui. Eles falaram que não tinham como arrumar nenhum dos dois. Foi aí que a gente viu que não tinha mais como manter um vínculo com o São Paulo.
– Hoje o garoto que vai fazer um teste e é dispensado, ele tem uma nota de avaliação de vários observadores, se segue um protocolo para entender os motivos, o que aconteceu. É isso que queremos, não é apontar culpas, é entender o processo. No caso do Enrick não descobrimos esse processo, quem avaliou, quem autorizou, quem dispensou… – completou Casares.
– Eu não quero culpar ninguém, não é esse meu objetivo. Eu só quero entender se houve esse protocolo de avaliação – destacou o presidente são-paulino.
ENTENDA O CASO
O São Paulo foi o primeiro grande clube do país a monitorar Endrick, quando ele ainda tinha 7 anos e jogava em escolinhas de futebol de Brasília (DF), onde nasceu. Conforme relembrou Ramos ao L!, por três anos o Tricolor custeou viagens do garoto e sua família para a Grande São Paulo, apresentando a estrutura do CT de Cotia e fazendo avaliações.
Assim que Endrick completou 10 anos, idade limite para que os clubes alojem jogadores de fora das cidades onde moram, o São Paulo ofereceu uma vaga para Endrick em Cotia e ajuda de custo mensal de R$ 150.
Ramos, contudo, recusou a oferta. Fez uma contra-proposta para que o São Paulo pagasse o aluguel de uma casa e lhe arrumasse um emprego, para que toda a família acompanhasse Endrick. O pedido foi rejeitado e o atacante foi dispensado.
Sem desanimar, Ramos produziu vídeos com lances do filho e começou a postar na internet. Logo atraiu a atenção de outros clubes, como Santos e Flamengo, mas foi o Palmeiras quem aceitou as condições por ele. O pai então passou a trabalhar na Academia de Futebol e a morar em uma residência paga pelo clube alviverde na Lapa, zona oeste paulistana, bairro vizinho da sede social do Verdão.