Diretor explica “trabalho de formiga” que mudou ambiente no São Paulo

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Marcelo Prado- GloboEsporte.com

Luiz Antônio Cunha assumiu o cargo de diretor de futebol do São Paulo há um mês e meio. Chegou para substituir Ataíde Gil Guerreiro, que já não contava com a mesma simpatia dos jogadores e era muito criticado pelo torcedor são-paulino. O CT da Barra Funda virou sua segunda casa. Com conversas individuais, ele se tornou “paizão” de alguns jogadores.

Ao convencer o presidente Carlos Augusto de Barros e Silva a demitir Milton Cruz, funcionário com mais de 20 anos de casa, Cunha surpreendeu. Suas ações levaram a um ambiente melhor, refletido em campo: nesta quarta-feira, o São Paulo pode perder por até três gols de diferença para o Toluca, ou quatro se fizer pelo menos um gol, que estará nas quartas-de-final da Libertadores. Cenário improvável após tropeços contra os fracos The Strongest e Trujillanos.

Ele não se considera salvador da pátria, apenas um são-paulino que “mudou o sofá de lugar” e “fez o trabalho de formiga”. Na entrevista concedida ao GloboEsporte.com em Acapulco, o dirigente diz o que se pode esperar da equipe, fala sobre a conversa reservada com Michel Bastos, no auge da crise, sobre o trabalho do técnico Edgardo Bauza e o planejamento para a sequência da temporada. Leia:

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Luiz Cunha São Paulo  (Foto: Marcelo Prado)Luiz Cunha conversa com a reportagem do GloboEsporte.com na concentração em Acapulco (Foto: Marcelo Prado)

GloboEsporte.com – Quando o senhor assumiu o comando do clube, a situação era muito ruim. O time acumulava insucessos em campo e chegou a ficar perto da zona de rebaixamento no Campeonato Paulista. Hoje, vem de vitórias importantes e está perto das quartas da Libertadores. Qual foi a mágica que o senhor fez nesse período que está à frente do futebol do clube?
Luiz Cunha – Não há mágica, existe trabalho. Foi apenas uma sequência do que vinha sendo feito. Tenho certeza de que se o Ataíde e o Moreno (ex-vice e ex-diretor de futebol) tivessem continuado, o progresso também existiria. São coisas feitas com naturalidade. Você vê o que teu sentimento mostra e trabalha de acordo com aquilo. Felizmente, o resultado tem sido positivo. Atribuo o bom momento à sequência do trabalho, à comissão técnica e aos jogadores. Fórmula mágica não há.

Que diagnóstico o senhor fez quando assumiu o departamento de futebol do São Paulo?
Achava que o ambiente do CT não estava saudável. Pequenas ações que você toma no dia a dia, como cumprimentar as pessoas, falar por mais tempo com elas, olhar nos olhos, fazem a diferença. É como chegar numa sala e ver que aquele ambiente não está de acordo. Você muda o sofá de lugar, modifica o tapete. Quase não faz investimento, mas o ambiente passa a ser mais agradável para todos. Foi só isso que fiz, mudar pequenas coisas, o trabalho da formiga.

Achava que o ambiente do CT não estava saudável. Pequenas ações que você toma no dia a dia fazem a diferença. É como chegar numa sala e ver que aquele ambiente não está de acordo. Você muda o sofá de lugar, modifica o tapete. Quase não investe, mas o ambiente passa a ser mais agradável para todos
Luiz Cunha, diretor de futebol do São Paulo

A saída do Milton Cruz surpreendeu muita gente quando aconteceu….
Ele é um grande profissional, tinha um salário à altura de sua competência, só que não estava sendo utilizado segundo esse salário que ganhava. Na época, falei que ele estava sendo subutilizado. Como não havia modos dele voltar para o cargo que exercia antes, a solução empresarial encontrada, e eu sou um homem da indústria, foi tirar o custo. O custo infelizmente naquela hora era o Milton.

Na chegada a Acapulco, o Michel falou sobre a boa situação vivida por ele e atribuiu tudo que está acontecendo ao senhor. Você pensou que o Michel iria embora do São Paulo?
Do jeito que as coisas vinham acontecendo, não estava bom para ninguém. Diagnostiquei que o Michel precisava de uma conversa. Estávamos recebendo muitas propostas por ele e fiz duas perguntas muito claras: “Você está feliz?”. Ele disse que não. “Você quer sair do São Paulo?”. A resposta também foi negativa. Disse que time A o queria, time B também. Mas deixei claro que eu também o queria no São Paulo, só que o Michel de antes, produtivo, dinâmico, o que não estava sendo. Ele estava carregando um peso que não era dele. Tivemos uma conversa franca, amiga. Hoje, ele está melhor, solto, rendendo. Eu me sinto um pouco responsável por isso.

Luiz Cunha Carlos Augusto de Barros e Silva Leco São Paulo (Foto: Afonso Pastore/saopaulofc.net)Luiz Cunha (à esq.) conversa com o presidente Leco no Morumbi (Foto: Afonso Pastore/saopaulofc.net)

Você teve conversas com outros atletas?
Estamos tendo com vários. Não como o caso do Michel, mas preciso conquistar as pessoas, entrar no coração delas. Quando a pessoa passa a confiar em você, tudo fica mais fácil. Quando você atende às expectativas do profissional, o ambiente ruim vai embora. Hoje está tudo muito melhor do que antes, o que se reflete em campo. Os jogadores começaram a formar um grupo mais interessado no resultado, passaram a ter algo a mais. O futebol está muito nivelado. O preparo físico nivelou o cabeça de bagre e o craque. Quando você tem um grupo interessado e unido, sempre garante uma vantagem.

Como é sua rotina à frente do São Paulo?
O São Paulo recebe de mim 24 horas por dia. Eu vou para casa dormir pensando no que precisa ser feito no dia seguinte, levo para minha cama, acordo com resoluções e as coloco em prática. Chego ao CT todos os dias por volta de nove da manhã e vou embora entre sete e oito da noite. Minha esposa e meus filhos cuidam da indústria de embalagens plásticas que temos.

O senhor é mais mão de ferro ou paizão? 
Depende. Tem hora que precisa da mão de ferro, tem hora que precisa da luva de pelica. Se precisar ser enérgico, serei, mas não é meu estilo. Prefiro a inteligência e a delicadeza.

Diagnostiquei que o Michel precisava de uma conversa. Fiz duas perguntas muito claras: ‘Você está feliz?’. Ele disse que não. ‘Você quer sair do São Paulo?’. A resposta também foi negativa. Deixei claro que também o queria no São Paulo, mas queria o Michel de antes, produtivo, dinâmico
Luiz Cunha, diretor de futebol do São Paulo

Qual sua opinião sobre o trabalho do Bauza?
Quando eu cheguei, as coisas não estavam saindo como esperado. Estávamos fora da zona de classificação no Campeonato Paulista e a três pontos da zona de rebaixamento. Nem sei se o professor Bauza sabe disso, mas a primeira coisa que me perguntaram é se eu iria trocar o treinador. Eu disse que não, iria dar todo o respaldo para que ele pudesse fazer um bom trabalho. Digo que ele ainda está no processo de maturação. Além disso, o São Paulo trocou de treinador cinco vezes no ano passado e não adiantou nada, só andou para trás. Não vou repetir o erro. Felizmente, a coisa parece que está se encaminhando bem.

O Bauza terá os reforços que pediu para a sequência da temporada?
Nós vamos conseguir reforçar, não sei se é como ele espera, é cedo para dizer. Estamos observando muitos nomes, alguns indicados por ele. Se vamos conseguir ou não, vai depender da nossa condição financeira. Não gastaremos um centavo além do que arrecadamos. O pé no chão é fundamental nesse momento.

Mas serão cinco reforços como ele vem falando?
Não sei. De repente, os cinco reforços podem ser três contratados e dois da base, ou dois vindos de fora e três da base. Podemos até dar mais do que ele precisa, temos um time campeão da Libertadores Sub-20 repleto de bons valores e temos de criar espaço para eles. Precisamos que o Bauza nos ajude nessa questão.

Além da questão do Ganso, outro assunto que causa apreensão no torcedor é o caso do Maicon, cujo empréstimo termina em 30 de junho. Existe a possibilidade dele ficar?
Estamos trabalhando muito para isso. Mas é bom você perguntar porque muita coisa está sendo falada e não é verdade. O Porto ainda não se manifestou sobre o assunto, são terceiros, intermediários que estão se metendo na história, se lançando e falando em nome de jogadores. Se eu pudesse, pediria para nosso financeiro fazer um cheque para contratar o Maicon, tamanha a má vontade que tenho de ceder jogadores nossos em uma negociação.

Mas já houve uma conversa com o Porto?
Já tivemos sim. O Gustavo esteve em Portugal recentemente. Ele foi para a Europa para um evento de homenagem ao pai dele (o ex-jogador Sócrates, falecido em 2011) e depois passou por lá. Mas a viagem foi em vão, já que o Porto estava passando por eleições. Você nem sabe quem é o dirigente, como vai negociar?

Após tantas frustrações, o que o torcedor do São Paulo pode esperar para o futuro? 
O São Paulo foi ferido em sua alma, na sua essência, e espero resgatar tudo em muito pouco tempo. Só isso que posso dizer. Estamos procurando soluções, já é possível perceber uma melhora e isso se deve ao trabalho do Leco e sua diretoria, da comissão técnica e dos jogadores.

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