Poucos dias após a demissão de Rogério Ceni e a contratação de Dorival Júnior para ser seu novo comandante, o São Paulo passa por mais uma de suas inúmeras crises nos últimos anos. O clube, que até pouco tempo atrás era conhecido como o mais organizado e com a melhor estrutura do Brasil, parece que parou no tempo, com o cenário atual marcado por muitas dívidas, poucos títulos e o medo de um eventual primeiro rebaixamento.
Tudo isso é fruto de administrações ruins, algo que pode ser estampado nas trapalhadas de Leco, na tentativa de Juvenal Juvêncio em se perpetuar no poder e também nas denúncias de corrupção contra Carlos Miguel Aidar.
Este último, que havia sido presidente do São Paulo entre 1984 e 1988, voltou a ser eleito o mandatário do clube em 16 de abril de 2014 e, depois de algumas polêmicas, como por exemplo a entrevista em que provocou o Palmeiras com um cacho de bananas, dizendo que o rival “estava se apequenando”, renunciou ao cargo após denúncias de furto mediante fraude e lavagem de dinheiro.
Segundo o Ministério Público, durante seu mandato, o clube havia feito contratos ilícitos com o escritório de advocacia de José Roberto Cortez, nos valores R$ 4.675.000,00 brutos e R$ 4.387.487,50 líquidos de honorários, pagos na conta da firma.
O caso que ficou mais famoso na época foi o de Iago Maidana. Na época, uma empresa de nome Itaquerão Soccer contratou o zagueiro, então promessa do Criciúma, por R$ 800 mil e depois fez seu registro por dois anos no Monte Cristo, da terceira divisão de Goiás. Em seguida, vendeu 60% dos direitos ao São Paulo, por R$ 2 milhões.
Hoje com 27 anos, Maidana retorna ao Morumbi neste sábado (21), com a camisa do América-MG, rival do Tricolor na 2ª rodada do Campeonato Brasileiro. E por mais que não tenha nada a ver com toda a situação, o atleta não esconde que aquele episódio o marcou de maneira negativa e detalhou que chegou a ser perseguido por algum tempo.
“Com certeza o que aconteceu no São Paulo atrapalhou a minha carreira. Ninguém pensou que no meio daquilo tudo estava um menino de 18 anos, iniciando uma carreira. Acho que muita gente teria desistido do futebol. Eu consegui me manter forte mentalmente por causa da minha base familiar. Mas eu e minha família sofremos muito com ameaças. Não desejo isso a nenhum atleta que esteja começando. Mas são águas passadas, já foi algo esquecido e que me fizeram evoluir como ser humano”, iniciou ele, em entrevista ao ESPN.com.br.
Até por conta de toda a repercussão que o caso ganhou na época, Iago Maidana defendeu o Tricolor apenas nas categorias de base e foi emprestado algumas vezes, antes de encerrar seu vínculo e procurar novos ares. Apesar disso, ele prefere guardar boas lembranças. “Muitos torcedores me apoiaram. Também tiveram as ameaças, mas quem sabe da história, sabe que fui vítima disso tudo. Os meus companheiros da época também me apoiaram muito, então foi algo que me deixou mais forte.
“Com passagens marcantes por Atlético-MG e Sport, Maidana atualmente é um dos pilares do América-MG. Com 1,95 m de altura, ele não se destaca apenas pela parte física, mas também por causa de sua técnica, algo que pode ser explicado por seu início de carreira.
“Todo menino, quando está iniciando a carreira, quer jogar de atacante, quer ser um jogador que faz gols. E eu não fui diferente. E joguei (no ataque) até os 13, 14 anos, quando eu decidi com meu treinador que eu queria ir para a defesa. Eu estava crescendo muito e achava que se eu quisesse ser jogador profissional, eu tinha que queria tomar essa decisão. Mas foi algo bem diferente. Um atacante virar zagueiro. Normalmente um volante vira zagueiro, um meia vira atacante, mas para mim foi importante ter essa base de atacante, eu aprendi muito, a técnica que tenho hoje é um diferencial.”
A qualidade de Maidana com a bola nos pés chama tanta atenção, que, por onde passa, ele costuma ser um dos batedores de pênalti, algo um pouco incomum para zagueiros: “Eu comecei a bater pênalti em 2020. Antes disso eu não gostava. Nem quando tinha disputa por pênaltis, eu não pedia para bater. A partir de 2020, com a pandemia, eu comecei a treinar muito para ter o aproveitamento que tenho hoje. Em cobrança de pênalti a gente tem um duelo mental com o goleiro. Isso é a parte mais desafiadora. Foi um desafio na minha carreira.
“‘Voltei por ter recebido uma ligação do América, mas ainda sonho com a Europa’
Titular absoluto desde o ano passado, o zagueiro vê no América uma oportunidade única. Tanto é que resolveu voltar da Europa por causa da proposta do clube. “Minha passagem na Europa foi muito rápida, mas muito proveitosa. Tive um treinador que me ajudou muito individualmente. Não tive uma sequência de jogos com ele, mas sempre fui muito profissional para ouvir. Voltei pelo fato de ter recebido uma ligação do América, que me queriam aqui. E receber essa ligação, na situação que o América está, elevando o patamar, indo jogar uma Libertadores, que para mim seria um diferencial, eu não pensei duas vezes. Mas ainda tenho o sonho de voltar para lá. Eu tenho o passaporte europeu, então é mais fácil de acontecer.”
Na volta ao Brasil, Maidana conheceu Vagner Mancini, técnico que, segundo ele, é um dos segredos de sucesso do time que se estabiliza cada vez mais no futebol brasileiro.
“É um treinador muito exigente, mas é um cara que foi atleta. É muito mais fácil a comunicação, a linguagem é igual a nossa. Ele sabe ganhar algum jogador que não está rendendo. Ele gosta de entender o jogador e isso para nós é confortável e nos dá confiança. Já tive muitos treinadores e o Mancini ajuda muitos atletas na parte individual, no quesito técnico, uma percepção tática. Ele coopera muito com os atletas. Ele já me ajudou muito e acredito que vá dar muitas alegrias para o América.”
ESPN