Ex-zagueiro Fabão pratica a modalidade há 10 anos e chegou ao tatame “por acaso”; conheça a rotina que funciona como espécie de terapia para ele
Fabão estava no fim de uma vitoriosa carreira no futebol quando a insistência de um colega apresentou uma nova vida para o hoje ex-zagueiro. Aos 47 anos, o campeão da Libertadores e do Mundial de 2005 pelo São Paulo completa uma década de jiu-jitsu, arte marcial na qual ostenta atualmente o grau um da faixa preta.
Era 2013, ano em que Fabão defendia o Sobradinho, do Distrito Federal, e conheceu o jiu-jitsu em meio às aulas de musculação na academia. Um professor insistiu até o ex-zagueiro se convencer sobre a modalidade, algo que atualmente não sabe viver sem.
– É uma terapia, não dá para descrever o que significa. É um esporte que me acalmou, que é bom para a autoestima e que me dá confiança. Dá muito respeito do tatame para fora, de como abraçar o ser-humano. É uma coisa sem explicação – comentou o antigo defensor tricolor, em conversa com o ge.
– Só quem faz sabe: ele (jiu-jitsu) doma o animal que tem dentro de você. Tem gente que não tem controle emocional, que de repente se coloca, sabe se defender. O animal dentro de você fica bem enjaulado – acrescentou Fabão.
O jiu-jitsu ativa o lado tranquilo de Fabão, um zagueiro que não aliviava enquanto jogador para os atacantes adversários e formou ao lado de Lugano e Alex Bruno (na Libertadores) e Edcarlos (no Mundial) um histórico trio de zaga no clube tricolor.
Com a camisa do São Paulo foram 171 jogos e 15 gols, em uma trajetória que rendeu quatro títulos. Além da Libertadores e do Mundial de 2005, Fabão ainda levantou os troféus do Paulistão (2005) e do Brasileirão (2006).
Esse período no São Paulo rendeu amizades que perduram até hoje. Fabão gostaria, inclusive, de ver alguns nomes daquele time dividindo o tatame em sessões de treinos no futuro.
– Cada pessoa tem o estilo para cada esporte. O Lugano tem para o boxe, parece ter mais facilidade. Tem um monte de gente que seria bacana, como o Grafite. Esse aí gosto demais, talvez ele nem saiba o quanto gosto dele (risos) – disse.
Fabão treina sob os ensinamentos do mestre Miogre Tavares na Gracie Barra de Goiânia, onde mora. A faixa preta veio em 2020, depois de muitas horas acumuladas no tatame.
– Sempre falo para os meus amigos: quando você chega na faixa azul, não pare. Eu fiquei três anos parado, e falaram para voltar. Quando voltei, não parei mais. São dez anos já praticando – comemora.
Vai competir? Foco é no churrasco
A competitividade demonstrada nos tempos de São Paulo, entretanto, acaba relegada a último plano nessa trajetória de jiu-jitsu.
A “tatameterapia” ajuda Fabão a relaxar e, sem as obrigações dos tempos de jogador, manter a saúde em dia para aproveitar a vida de uma maneira tranquila.
– Não disputei competição ainda, mas sempre falavam para mim. Cara, minha vida era competir, quero agora me reunir com amigos e família para ir em um barzinho, assar uma carne… – comentou o ex-são-paulino, que quase chegou a 20 anos como profissional da bola.
Apesar de descartar qualquer chance de uma carreira competitiva, Fabão leva o esporte a sério. Os ganhos na saúde são perceptíveis e enumerados pelo zagueiro do tricampeonato mundial do São Paulo.
– Além do jiu-jitsu, eu faço também funcional na academia. Ganhei 8kg de massa muscular. Hoje queimo e ganho muita massa muscular – contou Fabão, que atualmente incorpora três sessões de treinos semanais.
“Aquele é o Fabão?”
Fabão recebe olhares curiosos no dia a dia de academia. A fama de zagueiro do São Paulo não entra no tatame, e o jogador aposentado atua como “mais um”, misturando-se com anônimos que saem dos empregos para a prática do esporte.
– Tem gente que passa e fica me olhando, falando: “Será que é ele?”. Aí treinam e veem que é o Fabão mesmo. A porrada rola solta na academia, é um treino competitivo – comenta Fabão, ainda com alguns objetivos no novo esporte (nada ligado a uma competição, claro).
– Tem tanta gente com quem gostaria de dividir o tatame, amigo. Sou fã do meu mestre (Miogre Tavares), em primeiro lugar, Melqui Galvão, Buchecha…o Charles do Bronx, que é top para caramba, o Demien Maia – encerra Fabão, antes de partir para mais um dia de “tatameterapia”.
Globo Esporte