Rivais trocaram de técnicos na mesma semana, depois de Rogério Ceni ser demitido no Tricolor, e Fernando Lázaro deixar o comando técnico do Timão; veja como foi a dança das cadeiras
O técnico Dorival Júnior, que recuperou o São Paulo na temporada, poderia estar na Neo Química Arena nesta terça, para a partida de ida das semifinais da Copa do Brasil, no banco do time mandante.
Segundo relatos ao ge, o treinador foi procurado por um representante do Corinthians poucos minutos depois de aceitar a proposta do São Paulo. As duas equipes se enfrentam às 21h30 no primeiro dos dois jogos que definirá um dos finalistas da competição – a volta é no Morumbi, dia 16 de agosto.
Os dois times tiveram um começo de temporada com problemas e caíram precocemente nas quartas de final do Campeonato Paulista, em março. Ainda assim, Rogério Ceni, no São Paulo, e Fernando Lázaro, no Corinthians, ganharam sobrevida até o início do Brasileiro – foram cerca de três semanas sem jogos.
Após as eliminações para Água Santa e Ituano, ambos fizeram mais quatro jogos no comando de seus times antes de serem trocados.
O São Paulo voltou a campo no começo de abril e venceu o Tigre, na Argentina. Na sequência, empatou com o Ituano, na Copa do Brasil, e perdeu para o Botafogo na estreia do Brasileiro. Contra o Puerto Cabello, no dia 18 de abril, nada do que acontecesse em campo – e foi uma vitória – mudaria o destino de Ceni, que já tinha sua demissão decidida.
O período sem jogos foi turbulento no Morumbi. Ceni, num trabalho de um ano e meio, quase, já tinha relação desgastada com jogadores e direção, e uma discussão acalorada com o atacante Marcos Paulo, durante um treino, em frente ao restante do elenco, levou a situação ao limite.
No Parque São Jorge era diferente. Lázaro, profissional da comissão técnica alvinegra por anos, foi a solução encontrada pelo clube para a frustração de perder Vítor Pereira, que substituiria Dorival Júnior no Flamengo pouco depois.
Sem experiência no cargo de treinador, Lázaro contava com a boa vontade dos atletas, por quem era querido, mas com a desconfiança da torcida. Não resistiu aos resultados de abril. Foram duas vitórias, contra Liverpool (Libertadores) e Cruzeiro (Copa do Brasil), mas duas derrotas relevantes, para Remo (Copa do Brasil) e Argentinos Jrs. (Libertadores), a última na Neo Química Arena.
A agenda tricolor
No dia seguinte à vitória sobre o Puerto Cabello, pela manhã, o São Paulo informou Ceni que ele estava demitido. Pouco depois, enquanto o treinador ainda se despedia de funcionários no CT da Barra Funda, o presidente do clube, Julio Casares, pegou um avião até Florianópolis para se encontrar pessoalmente com Dorival Júnior, na casa do técnico.
A diretoria já estava decidida que Dorival era sua única opção.
O treinador havia feito trabalho elogiável no Flamengo ao substituir o português Paulo Sousa no meio da temporada. Foi campeão da Libertadores invicto e venceu o Corinthians na final da Copa do Brasil.
Mesmo assim, e apesar de ter praticamente acertado a permanência na Gávea, não teve seu contrato renovado pelo Flamengo, que decidiu apostar em Vítor Pereira, de saída tumultuada do Corinthians – o português depois cairia na semifinal do Mundial para o Al-Hilal e seria demitido no começo de abril.
Dorival era, então, o principal treinador entre os que estavam livres no mercado.
Casares chegou à casa do técnico à tarde e só deixou o lugar com tudo acertado com ele. Despediu-se e foi para um hotel – ele voltaria a São Paulo no mesmo dia, mas decidiu permanecer em Santa Catarina uma noite a mais para retornar no dia seguinte, já com Dorival.
O telefone do treinador tocou “15 minutos depois”, de acordo com o relato de uma pessoa que participou das negociações. Era um representante do Corinthians.
Uma das fontes consultadas pelo ge diz que esse contato partiu de Alessandro Nunes, gerente de futebol corintiano. Do lado alvinegro, porém, a alegação é que Dorival teria sido oferecido ao clube e que nenhum dirigente o procurou diretamente.
Fato é que a possibilidade de contratar o treinador entrou na pauta do Corinthians naquele momento. Internamente, a avaliação alvinegra era de que o mercado estava carente de opções e Dorival, atual campeão da Copa do Brasil e da Libertadores, era uma das possibilidades.
Apesar das conquistas recentes, Duilio Monteiro Alves, presidente do Timão, tinha restrições quanto a Dorival. Entendia que o técnico fazia um estilo “paizão” e que naquele momento, caso a troca de comando se consumasse, era necessário buscar alguém com mais autoridade perante o grupo.
Era dia 19 de abril, Lázaro ainda era o treinador e estava a poucas horas de colocar o time em campo contra o Argentinos Jrs. A desconfiança com seu trabalho já indicava a possibilidade de uma troca antes de ela acontecer – a eliminação no Paulista reforçou a sensação.
Após a demissão de Ceni, porém, rapidamente foi noticiado que Dorival, ainda desempregado, era o único alvo do São Paulo – e que logo deixaria se estar disponível.
A ligação do representante foi curta e chegou tarde demais. Dorival agradeceu e informou que já estava acertado com o São Paulo.
Naquela noite, o Corinthians foi derrotado em casa pelo time da Argentina, e o destino de Lázaro foi selado. No dia seguinte, pela manhã, o ge publicou que Dorival era o novo treinador do São Paulo. Cerca de quatro horas depois, o ge informou a demissão de Lázaro.
Daí para frente, os dois clubes tomaram caminhos distintos.
Turbulência em um, calmaria no outro
Naquele mesmo dia, o Corinthians anunciou a contratação de Cuca. A notícia gerou um terremoto no clube por causa da condenação do treinador por um estupro cometido na Suíça no final da década de 1980.
Cuca durou só dois jogos: perdeu para o Goiás, na estreia, pelo Brasileiro, e venceu o Remo na Copa do Brasil, classificando o time para as oitavas de final. Não suportou a pressão gerada pela repercussão de sua chegada ao clube, reconhecido pelo envolvimento em causas sociais.
O ex-meia Danilo dirigiu o time no clássico contra o Palmeiras e, no jogo seguinte, contra o Independiente Del Valle, na Libertadores, deu lugar a Vanderlei Luxemburgo, que resiste no cargo – ele passou os primeiros sete jogos sem vencer, conseguiu levar o time à semifinal da Copa do Brasil e na briga pelo tetracampeonato do clube na competição, mas vê o Corinthians a só dois pontos da zona de rebaixamento no Brasileiro (com um jogo a menos)
O Morumbi tem aproveitado momentos bem mais tranquilos desde a chegada de Dorival Júnior. Ele se manteve invicto nos primeiros 11 jogos, chegou a colocar o time no G-4 do Brasileiro (hoje é sexto colocado) e avançou na Sul-Americana com a melhor campanha da competição. Os relatos são de que o vestiário tricolor deixou a tensão dos tempos de Ceni para trás.
Dorival terá a missão agora de comandar o São Paulo em sua primeira vitória na Neo Química Arena – os dois times já se enfrentaram lá no Brasileiro, com Dorival e Luxemburgo nos bancos, em empate em 1 a 1 – e de comandar o time tricolor ao primeiro título da Copa do Brasil.
Globo Esporte