GloboEsporte
Thiago Lima
Clubes decidiram a Copa dos Campeões de 2001, e Beto lembra curiosidade: “A gente só jogava com salário atrasado”.
Finalistas da Copa do Brasil, Flamengo e São Paulo voltam a se enfrentar em uma final depois de 22 anos. E se for parecido com a última vez, não vai faltar emoção. Na Copa dos Campeões de 2001, os times protagonizaram dois duelos com uma vitória para cada lado, duas expulsões, 13 gols e 64.458 torcedores nas arquibancadas.
Jornal O Globo repercute final da Copa dos Campeões de 2001 — Foto: Reprodução / O Globo
Contextualizando: a extinta Copa dos Campeões era um torneio mata-mata organizado pela CBF, que reunia ganhadores de campeonatos regionais do Brasil e valia a quarta vaga do país na Conmebol Libertadores. Em 2001 foi a segunda edição (o Palmeiras conquistou a primeira), teve como sedes Maceió e João Pessoa e reuniu os times: Flamengo (campeão carioca), São Paulo (campeão do Rio-São Paulo), Corinthians (campeão paulista), Cruzeiro e Coritiba (campeão e vice da Copa Sul-Minas), Bahia e Sport (campeão e vice da Copa do Nordeste), Goiás (campeão da Copa Centro-Oeste) e São Raimundo (campeão da Copa Norte).
O Flamengo, de Julio César, Gamarra, Petkovic, Edílson e companhia, chegou à final passando por Bahia e Cruzeiro, enquanto o São Paulo, de Rogério Ceni, Belletti, Kaká, Luis Fabiano e Cia., eliminou Sport e Coritiba em seu caminho.
Em 2001, Flamengo derrota o São Paulo por 5 a 3, pela Copa dos Campeões
O primeiro jogo da final foi no Almeidão, em João Pessoa. Diante de um público de 37.750 pessoas, o Flamengo saiu na frente com Edilson aos 14 minutos, mas nem teve tempo direito para comemorar. Dois minutos depois, Luis Fabiano empatou. Só que Reinaldo, aos 25, e Beto, aos 36, recolocaram o Rubro-Negro em vantagem até o intervalo.
Aos 12 do segundo tempo, Edilson fez o quarto do Flamengo e parecia encaminhar o título. Mas o São Paulo reagiu dois minutos depois com Rogério Pinheiro, e Luis Fabiano marcou o terceiro do Tricolor aos 25. Faltava mais um para empatar, mas Rogério Pinheiro foi de herói a vilão: ao tentar cortar um cruzamento aos 34, fez o gol contra que deu boa vantagem ao Rubro-Negro para o jogo da volta.
– Olha, vou dizer uma coisa a você: um dos melhores jogos de futebol que já vi na minha vida. Pela coragem dos dois times, desprendimento, enfim, a jogada, velocidade, aplicação. Uma maravilha de jogo – disse o ex-comentarista Sergio Noronha na transmissão da TV Globo.
Em 2001, Flamengo torna-se Campeão da Copa dos Campeões
Três dias depois, a segunda e decisiva partida foi realizada no Rei Pelé, em Maceió, diante de 26.708 torcedores. E o São Paulo mostrou que não estava morto e saiu na frente com um gol de Kaká, aos 39 do primeiro tempo. O jogo foi para o intervalo com um placar de 5 a 4 no agregado, mas na etapa final o Flamengo virou com Juan, aos dois minutos, e Petkovic, em um golaço de falta aos 13.
Para piorar a situação do São Paulo, Luis Fabiano ainda foi expulso por reclamação. Quando o título parecia definido, o Tricolor mostrou que ainda estava vivo: empatou com França, de pênalti, aos 20, e virou o placar de novo com França, aos 43. Faltou mais um gol para levar a decisão para os pênaltis, mas Fabiano também foi expulso nos minutos finais por reclamação, e o Flamengo segurou a vantagem para ser campeão.
– É a volta do futebol romântico. Os dois times jogaram e deixaram jogar, como sempre foi no nosso país. O futebol brasileiro está pronto para ressuscitar e isso certamente chegará à seleção brasileira – vibrou o técnico Zagallo, que conquistava o título em sua Terra Natal, um ano antes do pentacampeonato mundial do Brasil.
São Paulo tinha Kaká e era o atual campeão do Rio-São Paulo em 2001 — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Já faz 22 anos, mas o capitão rubro-negro e responsável por erguer o troféu naquela época não esquece. Em entrevista ao ge, Beto lembra que foi uma final especial para ele e se surpreendeu com a quantidade de gols:
– Como vou esquecer? (risos) Para uma final, foi muito gol. Foi um jogo em que erramos pouco, e nas chances que tivemos matamos. Foi bem disputado, mas aquele campeonato ali era o nosso. A gente tinha um time muito bom: Pet, Edilson, Reinaldo, Julio César, Leandro (Ávila), Juan… O São Paulo também tinha uma grande equipe, e me marcou muito porque eu tinha acabado de voltar do São Paulo e ainda pude fazer um gol. Foi especial.
Uma curiosidade da conquista é que o título foi para a Gávea em meio a salários atrasados. Se o clube atualmente é exemplo de gestão no sentido de cumprir as obrigações, na época atravessava grave crise financeira:
– A gente só jogava com salário atrasado. Foi praticamente o campeonato todo, e outros campeonatos também. Mas nós falávamos um com o outro que precisávamos ganhar para cobrar. O que ajudava era o bicho que pagavam sempre depois dos jogos. Era aquele “cala boca” (risos).
Flamengo de Beto tinha sido tricampeão carioca de 2001 — Foto: Reprodução
Questionado sobre qual seu palpite para a final da Copa do Brasil, Beto apostou suas fichas novamente no Flamengo, apesar da má fase do time:
– Agora são dois jogos diferentes, porque os dois naquela época eram praticamente na casa do Flamengo por causa da torcida (risos). O São Paulo em casa não tem feito o resultado, foi eliminado na Sul-Americana, e o Flamengo cresce nas horas decisivas. No papel o Flamengo é favorito. Acho que tem tudo para ganhar: tem time, queira ou não tem treinador também, embora o Dorival também seja excelente. Mas o plantel do Flamengo hoje… Os caras só estão perdendo para eles mesmos. Se jogasse sempre como jogou contra o Grêmio fora de casa, não estaria nessas condições.
A segunda edição da Copa dos Campeões levou 192.738 mil pessoas aos estádios e foi considerada um sucesso, tanto que no ano seguinte ela praticamente dobrou de tamanho: passou de nove clubes para 16 e de duas para quatro sedes (Teresina, Fortaleza, Natal e Belém). Mas o formato não vingou, e o torneio foi extinto após 2002.
Beto emoldurou a camisa do Flamengo que vestiu em 2001 — Foto: Marcelo Barone
Flamengo e São Paulo se reencontram em uma final nesta domingo, às 16h (de Brasília) no Maracanã, pelo jogo de ida da decisão da Copa do Brasil. A partida de volta será no outro domingo, dia 24 de setembro, no mesmo horário, só que no Morumbi. Enquanto o Tricolor tenta o seu primeiro título na competição, o Rubro-Negro vai em busca do penta.
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