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Lucas Strabko
Emprestado ao Mallorca, da Espanha, o zagueiro Hugo Gomes se destaca e ganha visibilidade no futebol europeu. Chance de voltar ao Tricolor é pequena
Hugo Gomes sonhava ser caubói quando criança, mas acabou como xerife do São Paulo nas categorias de base. Considerado uma das promessas do Tricolor, o zagueiro de 21 anos foi emprestado na metade do ano passado para o Mallorca, da Espanha, e abriu portas na Europa. Agora, pode nem mais voltar ao Tricolor. Segundo o agente do jogador, Werder Bremen, da Alemanha, e Malága, da Espanha, têm interesse em contratá-lo. A diretoria do São Paulo ainda não recebeu propostas.
O período em que Hugo permaneceu no São Paulo o auxiliou na adaptação à Espanha. O atleta não sabia nada da língua local, mas conseguiu se virar graças às aulas de inglês que teve por quatro anos no CT de Cotia. Mas quando teve de falar espanhol…
– Eles falam muito rápido. Estava perto dos caras e não entendia nada. Então, comecei a ver televisão aqui só para me adaptar à língua. Vi escrito “pastelaria” em Mallorca. Pensei: “Pô, não acredito, é hoje que como um pastel”. Cheguei lá e pedi, mas a moça me deu um bolo. Discuti com ela. Queria muito um pastel. Ela não entendeu nada – lembra o jogador, que não sabia que pastelaria significa doceria.
Se não teve pastel, o zagueiro ao menos conseguiu uma selfie com Bastian Schweinsteiger, do Manchester United e da seleção alemã, neste ano. Recuperando-se de lesão, o alemão estava usando as dependências do Mallorca para tratamento no joelho. Quando encontrou o meia, Hugo lembrou a derrota brasileira para a Alemanha na Copa de 2014.
– Ele tem casa em Mallorca. Foi um encontro bacana. Ele estava conversando com a gente, tranquilo. Então, eu disse: “7 a 1 nunca mais”. Ele perguntou: “Você é brasileiro?”. Falei que sim e pedi para ele chegar devagar quando enfrentasse o Brasil de novo. Ele, sério, pediu desculpas pela goleada.
No Tricolor, Hugo tornou-se o primeiro jogador a se formar em uma faculdade com bolsa integral bancada pelo clube. Em 2014, obteve licenciatura em Educação Física.
– Quando apareceu a chance da faculdade, sabia que ninguém tinha se formado como jogador do São Paulo, então ficou o desafio. Nunca fui aquele nerd, mas gostava de estudar. Como está na minha área, ajudou na profissão. Aprendi musculatura, fisiologia e mecânicas de movimento do corpo. No começo, os companheiros me zoavam, mas tinha o fator que eu era capitão. Se os caras zoassem, tomariam porrada no treino.
A história do zagueiro, porém, poderia ser totalmente diferente se não fosse um bezerro. Quando criança, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, Hugo tinha o sonho de ser caubói e participar de rodeios. Mas foi atacado e nunca mais quis saber de montar.
– Eu vim da fazenda, era bicho do mato. Sempre quis ser caubói. Eu montava mesmo nos bois. Fazia rodeio com meus amigos. Parei quando tomei coice de um bezerro no rosto. Rasgou toda minha orelha, então foquei no futebol – recorda.
Fica ou volta?
Após atuar por oito anos no São Paulo, Hugo Gomes mudou de clube em seu primeiro ano como profissional. Pelo Tricolor, o atleta jogou três Copas São Paulo de Futebol Júnior. Como ele não seria aproveitado na equipe então dirigida por Juan Carlos Osório, a diretoria do Tricolor decidiu emprestá-lo.
Ao chegar no Mallorca, Hugo passou a treinar com o time principal, mas, como não tem passaporte europeu, demorou para conseguir o visto de trabalho. Nos três meses que levou para regularizar a situação, o time mudou de treinador e fechou o elenco. A diretoria espanhola deu a ele uma escolha: permanecer no time A e jogar pouco ou descer para a equipe B e ser titular. Hugo ficou com a segunda opção.
– Vim buscar bagagem. Sabia que na Europa eu estaria no centro do futebol e poderia ser visto. Esses três meses sem jogar foram muito difíceis, mas consegui encaixar bem na filial. Enquanto estamos brigando para subir à segunda divisão, o principal está lutando para não cair à terceira. Os caras gostam de brasileiros aqui, sempre dizem que jogamos bonito – afirma Hugo Gomes.
O empréstimo ao Mallorca vai até o final desta temporada. A chance de permanecer na equipe após o contrato é quase nula, já que o clube espanhol não pretende exercer o direito de compra. Voltar ao São Paulo para jogar na equipe principal não é descartado, mas é bem difícil neste momento pela concorrência de zagueiros. Por isso, a ideia de um novo empréstimo é levada em conta.
O contrato de Hugo com o São Paulo vai até o fim de 2017 e a multa rescisória é de aproximadamente R$ 20 milhões. Embora, segundo seu empresário, ele tenha propostas para seguir na europa, o zagueiro diz que sua prioridade do zagueiro é retornar ao São Paulo para realizar o sonho de jogar entre os profissionais do clube.
– Tenho o sonho de poder retribuir em campo tudo o que o São Paulo fez por mim. Quero muito ser ídolo e ter um papel para jogadores mais jovens assim como o Miranda (zagueiro hoje na Inter de Milão) teve para mim. Acompanho quase todos os jogos do São Paulo pela Globo Internacional. Se eu seguir na Europa, fico feliz também, mas queria mesmo voltar.