Antes mesmo de começar sua carreira como atleta profissional, Hugo Gomes, formado nas categorias de base do São Paulo, já foi chamado muitas vezes de professor. Não por ter treinado alguma equipe, mas sim por dar aulas em escolas para crianças e adolescentes.
Isso aconteceu quando o garoto, primeiro jogador com formação superior paga pelo clube do Morumbi, cursava educação física e precisou fazer estágio por alguns meses no Colégio Objetivo, em Cotia.
“Era muito bacana porque eles sabiam que era jogador do São Paulo e achavam o máximo. Eu me divertia muito. Lembro de um dia chegar para dar aula e muitas crianças abrirem os caderninhos para pediram autógrafo pra mim”, contou aos risos o defensor, ao ESPN.com.br.
“Eles queriam saber quando poderia ver um jogo meu e eu disse que naquele dia ia ter a Copa do Brasil Sub-20 e eles poderiam ver na ESPN Brasil. No dia seguinte, todos assistiram e foi aquela festa na sala (risos). As crianças são muito legais e foi um período bem bacana da minha vida”, recordou.
Com apenas 19 anos, Hugo já ministrava aulas, pois estava um ano adiantado na escola e entrou direto no ensino superior. Mesmo com a pouca diferença de idade, ele garantiu que conseguia impor respeito.
“Curioso que dei aula no ensino médio e os alunos tinha um ou dois anos a menos do que eu (risos). Conversei de forma tranquila e eles me respeitaram e foi uma troca de experiências bacana. Gostaram pelo fato de ser um professor jovem.”
O zagueiro precisou se esforçar bastante para conciliar o futebol, quando estava terminando as categorias de base em Cotia, com os estudos.
“Foi um pouco difícil porque treinava dois períodos e estudava à noite. Foi bem diferente. No ultimo ano tinha de fazer estágio e dar aulas em colégio. Ninguém antes fazia faculdade e comecei por conta própria. Geralmente só treinava e ficava com muito tempo livre de noite. Por isso, fiz vestibular”.
“Depois que viram que dava para conciliar, vários colegas de clube começaram a fazer também. O São Paulo pagava a mensalidade de forma integral e bancava todos os custos. Me formei em três anos e se fizer mais um ano serei bacharel e poderei ser personal trainer e tudo mais”, contou.
HERÓI DO ACESSO NA 4ª DIVISÃO ESPANHOLA
Natural do Mato Grosso do Sul, Hugo começou no futebol em uma escolinha de um projeto social montado por seu pai, que trabalha com fazendas. Com 14 anos foi atuar no São Paulo e passou a morar nos alojamentos de Cotia.
“No começo foi complicado ficar sem meus pais, até o jeito de falar das pessoas era diferente. No começo eu senti, mas como tinha objetivo, tudo foi superado e ficou mais fácil”.
Na equipe do Morumbi, o defensor atuou ao lado de Ademílson, Matheus Reis, João Schmidt e Auro, que jogaram também entre os profissionais. Mesmo tendo sido capitão da Copa São Paulo de futebol júnior de 2015, ele não conquistou seu espaço na equipe de cima. Por isso, o atleta parou os estudos e aceitou jogar na Europa no meio do ano passado, quando foi para o Mallorca B.
“Queriam me emprestar para ganhar experiência. O Mallorca estava na segunda divisão da Espanha, mas como não tinha passaporte europeu minha documentação atrasou muito. Quando cheguei, o time estava fechado e depois trocou de treinador”, recordou.
“O clube então me falou para jogar pelo time B que jogava na quarta divisão – e como era empréstimo e meu objetivo era ganhar experiência – resolvi aceitar”, relatou.
Hugo atuou por 23 partidas na Terceira Divisão B (equivalente a quarta) e marcou o primeiro gol no playoff que deu o acesso para sua equipe diante do Zaragoza B, na vitória por 2 a 0.
“Não fiquei decepcionado porque o nível é alto. Peguei uma bagagem que não teria no Brasil. A disciplina tática na Espanha é muito grande e o posicionamento importante.”
COBIÇADO POR CLUBES EUROPEUS
Mesmo atuando por divisões inferiores na Espanha, Hugo despertou o interesse de diversas equipes pela Europa. Como ainda tem contrato com o São Paulo, ele deverá definir sua próxima aventura nos próximos dias.
“Tenho propostas do Werder Bremen-ALE e do Málaga-ESP. Voltarei ao Brasil de férias e depois vou conversar sobre o meu futuro. A minha prioridade é ficar no São Paulo e se caso eles não me queiram, irei buscar uma nova oportunidade”, disse.