Prancheta Tricolor – As cobranças devem se estender a todos

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Na entressafra de informações sobre o São Paulo FC gerada pela data Fifa aliada à folga de três dias concedida ao elenco, o assunto em pauta nos debates de setoristas e comentaristas envolvendo o clube é a situação do treinador Luis Zubeldía. Não que ele esteja na corda bamba, mas o tema “queda de treinador” sempre rende audiência.

De toda forma, a avaliação do trabalho de Zubeldía, especialmente nos últimos jogos, não é boa. O time não rende, pouco finaliza e menos ainda marca gols – foram seis nos últimos oito jogos, dos quais três contra o Corinthians com jogadores a menos. Mas ainda está longe de a torcida demonstrar muita insatisfação com o trabalho e pedir sua cabeça.

O que dizem os setoristas e comentaristas é que há insatisfação da diretoria com o trabalho do argentino e não está descartada a sua dispensa no fim da temporada, apesar de existir contrato firmado até o final de 2025. Creio que, caso o Tricolor não se classifique para a Libertadores, Zubeldía está fora; caso classifique na pré, não está 100% garantido; caso classifique para a fase de grupos, pode carimbar sua permanência.

Mas o tema que quero levantar aqui é que as cobranças pelas eliminações nas Copas e pelo desempenho nas últimas partidas não devem ficar restritos a Luis Zubeldía e seus jogadores, embora eles tenham, sim, sua parcela de culpa. Devemos direcionar críticas também aos movimentos da diretoria. Vejamos:

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Reforços

Após negociações com nomes como Alex Sandro e Thiago Mendes, chegaram na janela do meio de ano Marcos Antônio, Ruan, Jamal Lewis e Santi Longo. Nenhum com status de titular incontestável. Pior: Lewis e Longo chegaram aos 45 do segundo tempo da janela, quase sem tempo de treinar e entrosar com o elenco, já às vésperas de duas decisões importantes. A diretoria ficou devendo neste tema.

Ausência do Morumbi

Neste caso o imponderável apareceu: por causa das chuvas no Rio Grande do Sul as datas dos jogos foram remanejadas e os shows do Bruno Mars coincidiram com dois jogos em casa, Corinthians e Vasco. Aí entra o que, ao meu ver, foi a decisão equivocada da diretoria: transferir os jogos para Brasília.

Não tem cabimento tirar os jogos do Estado de São Paulo, especialmente o clássico. Se a atuação do time foi fria, também foi frio o tratamento da torcida com o time no Mané Garrincha vazio. Clássico contra o Corinthians tem que ser perto de São Paulo. Ou vocês acham que o estádio não lotaria em Campinas, em Araraquara ou em Ribeirão Preto, por exemplo?

Contra o Vasco o jogo foi transferido para Campinas a contragosto da diretoria, que precisou cumprir o regulamento do campeonato que impede a mudança de mando de campo para fora do Estado de origem nas últimas dez rodadas. Menos mal.

Vazamentos para a imprensa

Nós jornalistas sabemos que algumas informações não chegam à imprensa à toa. Se a insatisfação com Zubeldía, bem como o bafafá a respeito do interesse (?) do Boca Juniors e o posterior “não dificultaremos a sua liberação” foram publicados, com todo o respeito aos jornalistas que conseguiram a informação e fizeram o seu trabalho, é porque alguém lá de dentro tinha o interesse.

Balão de ensaio? Fritura? Independentemente das razões, a blindagem ao treinador e ao elenco não funcionou. A diretoria os entregou aos leões. E o tiro saiu pela culatra.

Conclusão

Colocar nas costas do Zubeldía e dos jogadores toda a responsabilidade pelas eliminações e más atuações, portanto, seria injusto com eles. A diretoria, que agora cobra mais, também deixou a desejar em seu papel de dar condições para competir, ainda mais diante do cenário de diversos rivais se reforçando e tornando o Brasileiro cada dia mais difícil.

Este elenco e Zubeldía estão inclusive, na minha avaliação, entregando mais do que se esperava. Quinto colocado restando nove rodadas, mesmo brigando em três frentes até as últimas semanas e com jogadores importantes contundidos – Pablo Maia, Alisson e Ferreira – é um desempenho acima do esperado.

O elenco atual é para brigar por G6. E é o que está fazendo.

A nós resta torcer. Pelo time e para que a diretoria faça seu trabalho – e não faça nenhuma besteira ao fim da temporada.

André Barros é jornalista e são-paulino, não necessariamente nesta ordem. Apresenta o Manhã SPNet nas redes sociais da SPNet e participa do Boteco SPNet, o pós-jogo mais divertido da internet.