Do metrô à falta de temaki: cria do São Paulo retoma confiança no Japão

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globoesporte.com

Lucas Strabko

Artilheiro do Gamba Osaka na temporada, Ademilson não sabe se quer voltar ao Tricolor e conta histórias inusitadas que ocorreram do outro lado do mundo

Ademilson Gamba Osaka (Foto: Divulgação)

Pelo Gamba Osaka, Ademilson fez quatro gols e é o artilheiro do time na temporada (Foto: Divulgação)

Ademilson precisou cruzar o mundo para retomar a confiança para jogar futebol. Questionado pela torcida do São Paulo e sem espaço no clube, o atacante pediu para ser emprestado no começo de 2015 e foi parar no futebol japonês, onde obteve regularidade e destaque, além de ter aprendido que andar de metrô é possível e que sua comida japonesa favorita não tem no Japão.

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Por intermédio do City Football Group, que administra uma rede de três clubes – Yokohama F. Marinos, New York City (EUA) e Melbourne City (AUS) – sob a tutela do Manchester City, Ademilson chegou ao pais asiático para ser observado pela potência inglesa.

Ao fim do empréstimo de um ano com o Marinos, o City não quis exercer a prioridade de compra. Como se destacou no campeonato local, o atacante foi procurado pelo Gamba Osaka, e um novo empréstimo foi selado pelo São Paulo. Nesta temporada, o jogador é o artilheiro e destaque do time de Osaka com quatro gols.

– Quando chegou a proposta para mim, eu pensei em falar não, porque é do outro lado do mundo. Tinha proposta do Sport, mas quis vir por essa questão do City. Estou bem confiante, jogando e feliz. O Japão é um país de povo muito educado, onde você realmente vive, consegue ter suas coisas, sai a hora que quiser. A rua pode estar vazia, na hora que for, o japonês não atravessa se o farol estiver vermelho para ele. Uma vez atravessei com farol fechado e me olharam feio – afirma Ademilson.

Não é só alegria e noções de uma diferente cultura que tomaram conta de Ademilson no Oriente. Fã da culinária japonesa vendida em São Paulo, o jogador descobriu que no Japão não tem uma de suas comidas favoritas: o temaki de cream cheese com cebolinha. O outro problema é quando tem que fazer pedidos nos restaurantes…

– Temaki é quase impossível de achar aqui, sinto falta de comer. Sushi tem bastante. No restaurante, pede no computador e um carrinho vem entregar. Eu arrebento na comida japonesa, é melhor que a feita no Brasil. Só na hora de pedir que complica. Sei pouco de inglês, os japoneses também, então coloco no Google Tradutor, e ele pede para mim – ri o atacante.

Boschilia e Ademilson - São Paulo (Foto: site oficial / saopaulofc.net)
Pelo São Paulo, Ademilson fez mais de 100 jogos, mas não se firmou no time (Foto: saopaulofc.net)

Outro hábito de Ademilson que mudou foi a maneira de se locomover. Na agitada cidade de São Paulo, o jogador não largava o carro. No Japão, passou a andar frequentemente de metrô, onde é reconhecido por torcedores, que evitam ao máximo serem inconvenientes na abordagem para fotos e autógrafos.

– Não tirei carta para dirigir ainda. Todo mundo só anda de trem. Todos os celulares daqui fazem barulho quando tiram foto, então eles evitam tirar sem você saber. Quando pedem foto, é com calma. Ficam do seu lado um tempão para ver se tem abertura. Uma vez, fiquei parado na frente da placa do metrô porque não tinha ideia de onde ir. Um cara chegou e pediu para ver a passagem. Falei o nome da estação e ele ficou esperando o trem comigo. Quando chegou, eu entrei. Ele, não. O trem dele era outro, mas ele ficou esperando eu entrar – relembra Ademilson.

Um dos principais sustos do jogador no Japão ocorreu em junho do ano passado, quando ainda atuava pelo Yokohama Marinos, clube pelo qual até assinou uma linha exclusiva de bonés. Contra o Gamba Osaka, um terremoto de 8,5 graus na escala Richter interrompeu a partida.

– O jogo parou do nada. Eu não entendi. Apareceu no telão uma mensagem em japonês. Achei que o árbitro estava passando mal. Tinha outro brasileiro, o Lins. Perguntei para ele, que respondeu: “Foi terremoto”. Cheguei no banco de reservas, perguntei para o intérprete e ele confirmou. Nem senti no campo, mas minha família estava na arquibancada e desceram correndo. Os japoneses ficaram parados. Quando meus parentes subiram, os japoneses começaram a rir deles. Para eles, é normal já.

Ademilson Gol Yokohama  (Foto: Divulgação/Fanpage Oficial do Yokohama F.Marinos)Na temporada 2015, Ademilson foi indicado para a seleção do campeonato japonês (Foto: Divulgação)

Emprestado pelo Tricolor até o final deste ano, Ademilson não pensa ao certo se pretende voltar ao São Paulo, apesar de acompanhar os resultados do clube no outro lado do mundo. Formado no Tricolor, teve oportunidades de jogar entre 2012 e 2014, mas não conseguiu se firmar neste período. De acordo com ele, o principal motivo foi por ser cria do clube.

– Eu tive muitas chances no São Paulo, com momentos bons e ruins. Nunca fui de ficar reclamando que ia para o banco. Por eu ser de casa, sempre que tivesse que sair alguém, era eu. Não importa se era atacante, meia ou volante. Era difícil. Eles sabiam que eu não iria reclamar se eu saísse. Pedi para sair porque eu queria jogar. Quando acabar o contrato aqui, não sei o que vai acontecer comigo. Se eu voltar para o São Paulo, vou querer jogar – finaliza o atacante que mantém contato com João Schmidt, Rodrigo Caio e Michel Bastos.

*Colaborou sob supervisão de Juliano Costa.