Em 2011, Edson Ramos Silva, popularmente chamado de “Ratinho”, foi contratado pelo São Paulo depois de indicação de Rivaldo, seu ídolo, e realizou o sonho de infância de estar no clube que torcia desde ‘criancinha’. Menos de seis meses depois, porém, a euforia virou uma grande decepção.
Sua passagem teve apenas 57 minutos jogados em um empate por 1 a 1 com o Oeste no Campeonato Paulista. O jogador não tem dúvidas ao apontar a razão de não ter conseguido atuar sequer em uma partida completa.
“Sempre fui são-paulino, desde moleque, era um sonho jogar lá. Creio que não tive oportunidades porque o Carpegiani não gostava do Rivaldo. A única explicação era essa porque eu era amigo do Rivaldo e ele ter sido contra a contratação dele”, disse o jogador, atualmente no Paysandu, ao ESPN.com.br.
“Antes de acertar eu falei com o Carpegiani, o presidente [Juvenal Juvêncio] e o Milton Cruz e todos deram ok. Cheguei com a expectativa de jogar porque o São Paulo não tinha lateral de ofício. Eu tinha vindo do campeonato mais visto e disputado o mundo que era o Espanhol. Não tinha laterais e não tive oportunidades. Quando não jogava o Jean improvisado, era o Xandão ou Rhodolfo que são zagueiros, sendo que eu era da posição”, prosseguiu.
Com a falta de chances, Ratinho deixou o clube do Morumbi triste pela situação. “No começo do Brasileiro eu pedi para ir embora porque não aguentava mais tanta sacanagem. Eu não estar nem sendo relacionado, isso para mim foi uma situação muito difícil. Entrei e um acordo e rescindi o contrato”, desabafou.
O lateral havia desembarcado no São Paulo depois de ter atuado no Mallorca, da Espanha. Na Liga das Estrelas, em 2011, jogou contra Real Madrid e Barcelona e marcou alguns dos melhores jogadores do mundo como Iniesta, Messi, Kaká e Cristiano Ronaldo.
Um duelo contra o time merengue em pleno Santiago Bernabéu, aliás, é o que Ratinho guarda com mais carinho.
“O Cristiano Ronaldo foi mais o cara mais difícil de marcar porque jogava pelo lado esquerdo do ataque. Eu tinha duelo com ele o tempo todo, mas o marquei muito bem. Foi uma partida difícil e perdemos por 1 a 0. Foi até nesse jogo, meu último na Espanha, que estava sendo observado pelo São Paulo. O Milton Cruz estava me vendo e deu ok na minha contratação”, recordou.
AMIZADE COM PENTACAMPEÃO
Depois de se destacar com a camisa do Mogi Mirim na Série A2 do Campeonato Paulista de 2007, o jogador foi para o AEK, da Grécia, clube no qual conheceu o amigo ilustre.
“Quando me concentrei com o Rivaldo no quarto a primeira vez numa pré-temporada na Holanda nem sabia que o falar. Nem acreditava que estava ali com ele. Disso nunca me esquecerei, um momento único, só o via pela televisão”, relembrou.
“Foi um sonho realizado porque é um grande ídolo. Quando comecei minha carreira eu era camisa 10, meia esquerda, naquela época ele era o melhor do mundo. Na Copa de 2002 eu acordava de madrugada para vê-lo e cinco anos depois tudo mudou. Ele virou um grande irmão na minha vida e aprendi coisas positivas”.
Um dos maiores ensinamentos do melhor jogador do mundo de 1999 mudou a fé do atleta do Paysandu. “Ele sempre me contava do passado, que tinha superado muitas coisas para ser jogador. Ele falou de Jesus Cristo para mim, virei cristão por causa dele”, garantiu.
Depois dessa passagem na Grécia, os dois foram comandados por Felipão no Bunyodkor, do Uzbequestão. Ainda atuaram juntos por São Paulo, São Caetano e Mogi Mirim.
“Ele nunca foi meu empresário, mas sempre me orientou. Todo mundo sempre pensou nisso por nossa amizade e termos jogados em cinco clubes juntos. Tenho o meu próprio passe e não tenho nenhum empresário na minha carreira”, garantiu.
Mesmo depois da aposentadoria do craque e da distância por causa da carreira, Ratinho permanece leal ao amigo. “Tenho muito contato ainda com ele, passamos férias juntos com nossas famílias. É um irmão que tenho para a vida”, disse.
VENDEDOR DE JOGO DO BICHO
O garoto que era pequeno e corria tão rápido quanto um ratinho fez jus ao apelido. Isso porque antes de se profissionalizar, o lateral trabalhou por um ano em sua adolescência nas ruas de João Pessoa vendendo jogo do bicho.
“Jogava em um time amador da minha cidade e tinha um amigo meu treinador que trabalhava com isso. Como ele gostava muito de mim e conversou com o dono. Foi uma coisa diferente, mas eu vi que não era aquilo que queria para minha vida. Queria se jogador de futebol profissional”.
“Quando era moleque ainda eu via as pessoas da minha escola ou os amigos e tinha vergonha. Quando alguém chegava perto eu me escondia para ninguém me ver passando o bicho (risos). Todo mundo sabia que jogava na base, mas não era remunerado e precisava de um trabalho”.
Depois de passar por Auto Esporte-PB, Botafogo-PB, Mogi Mirim, São Caetano, Internacional e Joinville, ele chegou ao Paysandu neste ano. Destaque na vitória do diante do Vasco em São Januário com uma assistência, o jogador comemora a fase.
“Estou num momento bom da carreira. É uma experiência diferente e muito boa aqui no norte, estou feliz por ser um clube de massa e de camisa forte. Tenho objetivo de ter o acesso e colocar o Papão na Série A.”