Em entrevista exclusiva, presidente diz que zagueiro é “novo mito”, que decisão de romper com torcidas foi dos são-paulinos, rasga elogios a Bauza e fala em reforços
Por Alexandre Lozetti, Diogo Venturelli e Marcelo Hazan
GloboEsporte.Com
Leco recebeu a reportagem do GloboEsporte.com em sua sala, no estádio do Morumbi (Foto: Marcelo Hazan)
Carlos Augusto de Barros e Silva assumiu a presidência do São Paulo em outubro de 2015, logo depois da renúncia de Carlos Miguel Aidar. Na época, o clube vivia caos financeiro, havia perdido seu técnico para a seleção mexicana e acumulava manchetes quase policiais, com agressões entre dirigentes, conversas gravadas e comissões investigadas.
Nove meses depois, o clube voltou a ter patrocínios e conseguiu, graças a eles e a um novo contrato de TV, colocar pelo menos os salários em dia. Dentro de campo, o São Paulo disputa nesta quarta-feira a vaga na final da Libertadores, um estágio inimaginável no início do ano. A missão é difícil: precisa vencer o Atlético Nacional, em Medellín, por 2 a 0 para levar a decisão aos pênaltis (de 3 a 1 em diante o triunfo por dois gols de diferença classifica o Tricolor no tempo normal em razão do gol fora de casa) ou vantagem ainda maior. Leco acredita.
Em entrevista ao GloboEsporte.com realizada no estádio do Morumbi, antes ainda do primeiro jogo da semifinal, a derrota por 2 a 0, e atualizada depois do resultado, da expulsão de Maicon e do rompimento com as torcidas organizadas, o dirigente abriu o jogo: rasgou elogios ao técnico Edgardo Bauza, ao diretor executivo Gustavo Vieira de Oliveira pela contratação de Maicon, a quem chama de “novo mito”, disse que a decisão de romper foi da torcida são-paulina, falou sobre reforços, a situação do goleiro Denis, as contas do clube, medidas para o futuro…
Leia abaixo um retrato do São Paulo de Leco:
Você acredita na classificação para a final da Libertadores?
Claro que sim. Mesmo diante de um adversário reconhecidamente competente, o São Paulo vai lutar muito para reverter isso e conquistar uma classificação histórica.
A expulsão do Maicon te decepcionou? Ela fez você refletir, pelo menos por um minuto, sobre o investimento na contratação dele?
A expulsão me preocupou na hora, haja vista o que aconteceu depois, mas não me decepcionou. E obviamente, em momento algum, eu repensei sua contratação. Ele tem muito a agregar para esta equipe durante os próximos quatro anos.
A contratação do Maicon foi uma “loucura”? Compromete o São Paulo financeiramente a curto, médio ou longo prazo?
Não tem nada de loucura. Loucura seria não fazer. Foi uma contratação com muito critério, cuidado, seriedade e sucesso. Foi muito bem feita e o Gustavo (Vieira de Oliveira, gerente executivo de futebol do São Paulo) tem muito a ver com isso. A competência e a dedicação dele, a característica discreta e serena de sua personalidade, do seu modo de fazer as coisas. Ele é um ótimo negociador. Eu ou nenhum outro diretor meu seríamos capazes de negociar tão bem. Ele descobriu o Maicon, o Calleri, o Cueva. O Porto precisava cumprir algumas obrigações por conta do fair-play financeiro, e nós ajustamos os interesses ao nos comprometermos a pagar seis milhões de euros, além de 50% de dois jovens atletas. Os clubes acordaram por Lucão, conhecido e de reconhecida qualidade, com boa passagem pela equipe principal, e o Inácio, que nem sequer jogou na equipe principal. Cada um deles foi avaliado em seis milhões de euros, uma coisa extraordinária a engenharia que o Gustavo conseguiu. E esses moços vão dar certo lá porque o Porto revela jogadores para o mercado europeu. Podemos ainda reduzir o valor a ser pago em 1 milhão de euros, porque o São Paulo poderá exigir do Porto, se assim desejar, o abatimento mediante a entrega de mais 10% dos direitos dos atletas após eles terem disputado 15 jogos na equipe principal.
E o pagamento é parcelado?
Vamos pagar um milhão agora e depois em cinco semestrais. Temos dois anos e meio para pagar cinco milhões de euros, e em dois anos e meio já teremos vendido pelo menos 30 ou 40 milhões porque essa é a dinâmica natural, é nossa história, é assim que vai acontecer. O mercado internacional já está interessado em jogadores nossos. Teremos como pagar tranquilamente, não foi nenhuma loucura, nada irresponsável, foi tudo muito cuidadoso, sabendo que faremos um dispêndio agora e daqui a pouquinho teremos reposição.
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Por que o Maicon vale uma engenharia tão cuidadosa como essa?
O Maicon é hoje um dos grandes zagueiros do futebol brasileiro, um homem que já está sendo olhado para saltos maiores como a convocação para a seleção brasileira, que tem uma atitude e uma personalidade fundamentais. É o novo mito (risos).
Nas últimas Libertadores que o São Paulo disputou, as eliminações causaram mudanças mais drásticas nos rumos da equipe. Dessa vez, se o São Paulo for eliminado, haverá mudanças drásticas ou a diretoria está convicta de estar no caminho certo?
Não, seguramente não será preciso mudar. Certamente, vencendo ou não, vamos aprimorar. Buscaremos reforçar ainda mais nossa equipe, dar ao nosso futebol uma estrutura técnica e de personalidade muito forte e capaz de sempre participar de uma forma que nosso torcedor se sinta feliz.
O contrato do Bauza vai até dezembro. O que passa por sua cabeça em relação ao técnico do São Paulo?
Renovar o contrato dele. Não vejo nenhuma razão que não justifique isso. Acompanho de forma muito presente o futebol e constato com meus próprios olhos e meu próprio sentir que o trabalho é muito bem feito, correto e sério. Não tem atitudes dissimuladas, as conversas são verdadeiras. No domingo retrasado, ficamos por mais de uma hora sozinhos no banco de reservas do CT. Uma conversa muito agradável, sincera, a respeito do que precisamos, do que temos de bom ou a aprimorar, e surgiu de forma muito natural. Não foi uma reunião marcada, mas foi um encontro muito rico.
Nem sempre a diretoria tem no técnico um parceiro da gestão. Às vezes o técnico joga para a torcida, faz cobranças públicas, não segue o que a diretoria imagina. O Bauza é um parceiro da sua gestão?
Ele é, sem dúvida, um parceiro da gestão. Indiscutivelmente. Temos uma relação muito correta, fluente, sabemos os limites da nossa conduta, como podemos abordar as coisas. Ele é um homem de grande experiência, tem conhecimento admirável do futebol sul-americano, de disputas de Libertadores, eu tenho aproveitado muito isso. Encaro nosso relacionamento como sincero, verdadeiro, e isso é fundamental.
Por que há essa crença no Bauza para um trabalho de longo prazo?
Porque ele efetivamente tem essa característica. É um trabalho de quem conhece futebol e tem disposição muito grande de dar ao clube todo o seu conhecimento, além da gana de querer ganhar, própria do argentino. Ele tem uma atitude de desagrado e desconforto com o mau resultado que é sincera e impressiona. É o tipo do homem que não gosta de perder, como eu e o torcedor em geral. Isso é bom. A soma da energia brasileira com a do grupo de argentinos que trabalha conosco, e uruguaios, chilenos, peruanos, faz a coisa ficar forte.
Na semana passada, a imprensa argentina listou o Bauza entre os cotados para assumir o cargo de técnico da seleção. Acha que ele recusaria esse convite para ficar no São Paulo?
Acho muito difícil porque mexeria com uma coisa fundamental, seu vínculo de nacionalidade, seu amor pela pátria, o significado de ser convidado a tão honroso cargo. Não sei te dizer. Sei que ele já rejeitou a seleção paraguaia, a Costa Rica duas ou três vezes. Ele não tem interesse em coisa pequena e tem a exata medida do que é o São Paulo. Ele tem o São Paulo na mais alta conta e isso também é impressionante. Até acho que ele não seria capaz de ir antes de terminar um ciclo conosco, ele é muito correto, firme, mas teríamos que aceitar.
Ele nos disse em entrevista, na semana passada, que espera ter mais um ou dois reforços para o Campeonato Brasileiro. É o que você também imagina?
É, provavelmente, dois ou no máximo três. Estamos preocupados, mas amanhã ou depois, no mês que vem, em 15 dias, vão acontecer coisas.
O substituto do Calleri está entre essas coisas?
Claro que sim. O substituto do Calleri, o Calleri e qualquer coisa desse bom nível.
É muito difícil manter o Calleri no São Paulo?
Depende do grupo econômico que detém seus direitos econômicos receber uma proposta que seja suficientemente vantajosa para que ele vá. Ele tem o desejo de jogar no futebol europeu, o desejo dos investidores que o adquiriram do Boca é o mesmo, mas vai depender do que vai acontecer. Assim como tivemos dificuldades com o Maicon, porque o São Paulo o valorizou, também teremos com ele, que provavelmente já chamou atenção de outros mercados.
No início do ano, sem dinheiro, o São Paulo só contratou por empréstimo. Agora, acertou com Maicon e Cueva por quatro anos. Já há condições de fazer um planejamento mais longo? A ideia é de montar um time para muito tempo?
Eu nasci para o futebol muito criança vendo um São Paulo de encantamento, que dava ao torcedor as condições de orgulho. Somos até considerados um pouco…
Soberanos?
Eu não gosto muito dessa expressão, mas altivos, e é verdade. Essa é a marca do São Paulo. Além da boa administração, correta, transparente, profissionalizada, séria, precisa ter força no futebol. E nunca na história do São Paulo nossa base foi tão aproveitada como agora. Tivemos sorte de contar com um universo de meninos de grande qualidade. Alguns certamente vão virar, e ainda tem o David Neres e o Lucas Fernandes (machucados). O Luiz Araújo é um super jogador, o Artur é ótimo jogador, o zagueiro Lucas Kal é bom.
Por que a base está sendo mais aproveitada agora?
Porque a filosofia de administração é essa. E porque o contingente é qualificado. Estive outro dia com o Casemiro (volante do Real Madrid), e lembramos de 2010, última vez que o São Paulo ganhou a Copa São Paulo. Eu convivi naqueles momentos de concentração em Jaguariúna (cidade no interior do estado). Jogavam ele e o Lucas, e hoje são dois grandes do futebol mundial.
E sobre goleiros, na base e no profissional, o que você pensa?
Entre os garotos temos dois meninos que são grandes promessas: Lucas Perri e Denis. E nossos dois goleiros principais (Denis e Renan Ribeiro) são muito bons. O goleiro sofre o percalço de às vezes, num momento adverso, ficar marcado, mas o Denis graças a Deus já superou isso. Estamos sempre de olho, fazemos avaliações permanentes no futebol do São Paulo.
O Denis disse no domingo que assinou a renovação por mais um ano e meio. É isso?
Sim, assinou (leia aqui o que disse o goleiro).
A decisão de romper com as organizadas foi apenas sua? É definitiva?
A decisão final foi minha, fruto de várias análises e estudos feitos com outras pessoas e diretores. Mas a decisão é da coletividade são-paulina como um todo. E dentro da atual configuração é uma decisão definitiva. Isso se deveu a reiteradas condutas equivocadas, e mediante reconhecimento de que era necessário dar uma resposta de desvinculação e repúdio a esses atos, seja às autoridades, seja aos torcedores. O são-paulino condenava esses atos de violência e exigia providências no sentido de coibi-los.
Pelo que conhece do São Paulo, acha que essa decisão pode ser explorada de alguma maneira por outros grupos políticos do clube?
A eventual exploração política de um fato de tamanha gravidade, se ocorrer, e espero que não ocorra, revelaria a forma oportuna e leviana que algumas pessoas usam para se aproximar do poder.
A saída do Luiz Cunha, ex-diretor de futebol, e a substituição dele e do Ataíde Gil Guerreiro no departamento pelo José Alexandre Medicis e pelo José Jacobson Neto deixaram sequelas?
Sem sequela. Não tenho tido contato com o Luiz Cunha, mas sei que ele está muito bem. O Medicis é uma figura centrada, respeitável, com muita dedicação ao São Paulo, e da mesma forma o Jacobson. As coisas aí vão bem. O Ataíde tem estado conosco em sua função institucional. Estamos cultivando bons relacionamentos, embora eu tenha que administrar egos todos os dias, o dia inteiro.
Esse gráfico entre bons relacionamentos e egos a serem administrados está positivo?
Sempre positivo.
Mas não assim quando você assumiu, em meio àquela confusão.
Mas é positivo, sabe por que? A vida me ensinou, ainda mais depois que assumi a presidência do São Paulo, que tenho de reduzir ou resolver problemas. Líder resolve ou reduz. Tenho conseguido fazer isso muito bem. As pessoas são inteligentes, sensíveis, e temos nossos impulsos. Eu fui observado por um diretor meu outro dia, ele disse que eu estava muito tenso num jogo. Perguntei o porquê, e ele respondeu: “Nossa, você estava muito nervoso, xingando o jogador adversário”. Eu também me comporto mal às vezes, o emocional aflora (risos).
E aquele grupo que vocês costumam chamar de “viúvas do Aidar”? É um problema resolvido ou reduzido?
Resolvido não é, reduzido também não, mas considerado na medida de seu tamanho e importância. Eles vão prosseguir tentando fazer o mal, perturbar, dificultando a administração, e se ela for sensível a isso, eles ganham campo. Se não for, eles se reduzem. A mim não incomoda que as pessoas façam coisas feias, e o que eles fazem geralmente é feio, porque quanto mais fazem, mais se revelam. E a comunidade está vendo. O único cuidado que eles precisam ter é que o único patrimônio efetivo, verdadeiro e respeitável que eu tenho é o moral. Foi o que eu constituí e é inegociável. Tomem cuidado para não mexer com a honra porque tem gente leviana que faz colocações que não deve. Não estão conseguindo desestabilizar e acho que não vão conseguir porque não vejo elementos para isso.
Os órgãos do São Paulo, a diretoria, o Conselho Deliberativo, o Consultivo, as comissões, estão alinhados? Há um entendimento entre eles?
Sim, o que é muito bom, né? Dá a ideia de que esse entrosamento é um reconhecimento de que estamos procurando fazer juntos as coisas boas para o São Paulo. Não significa adesões por interesse, mas estamos conseguindo consolidar um grupo, fazendo com que ele aumente e se qualifique. Isso dá mais tranquilidade e segurança porque o embate é duro e permanente.
E o departamento financeiro? Ele esteve muito em xeque nas últimas gestões, até pela alta dívida que o clube constituiu.
O financeiro está muito bem dirigido, com austeridade. Meu diretor financeiro (Adilson Alves Martins) e meu diretor administrativo (José Moreira) são pessoas chatas, com quem os outros diretores vivem bravos e irritados. Eu falei: “Maravilha!”. Na hora em que começaram a ser muito bonzinhos é porque a coisa está indo mal. Tem que ser chato e difícil mesmo, é como eu quero.
O futebol vive medindo forças com o financeiro para conseguir recursos.
Mas se ajustam, têm se ajustado bem. Até porque o Jacobson, agora diretor de futebol, foi vice-presidente administrativo, e a área financeira afetava a dele. Logo, ele tem vivência.
E a auditoria feita no clube? Prosseguiu ou parou por conta do rompimento do Abílio Diniz, que custeou o serviço, com sua gestão?
Foi totalmente para frente. Ela sofreu percalços e contratempos por conta dessas intervenções, de instabilidades emocionais e políticas, mas foi toda feita.
Apontou algo relevante?
Apontou que a administração vem sendo feita corretamente, nossa dívida está diminuindo, a perspectiva de solução dos compromissos financeiros tem uma linha muito clara de como pode ser alcançada, com alongamento e renegociação de dívidas. Tudo está sendo muito bem feito.
E apontou algo relevante nas gestões passadas que ainda não temos conhecimento?
Nós não nos preocupamos com isso.
Mesmo algo que possa ser lesivo ao São Paulo?
Nós recebemos um clube com determinada situação financeira, e passamos a administrá-lo dentro dessa realidade. Estamos nos organizando para zerar tudo em dois ou três anos.
De quanto é a dívida do São Paulo hoje?
Não sei, desculpa, eu não tenho os números exatos. Uma coisa que era trezentos e tanto hoje é de mais ou menos 120 (milhões de reais).
Então aquele cenário horripilante que o relatório do Banco Itaú apresentou já é diferente?
Esquece. É totalmente diferente. Aquele cenário alarmante também era usado, servia para justificar assim (pausa mais longa) entendimentos que não eram da exata realidade. Entendeu?
O São Paulo contratou Rogério Hamam, antigo secretário do futebol do Ministério do Esporte? Qual é a função dele no clube?
Está dentro da linha de governança corporativa, da ideia de lisura e transparência que a cada dia mais consolida a gestão. O Rogério Hamam é experiente, qualificado, teve há muitos anos uma passagem como diretor adjunto financeiro do São Paulo. Ele tem uma visão de futebol e governança muito moderna, tem muito bom relacionamento pela sua inserção no mundo político, e vem como uma pessoa capaz de me assessorar nos aspectos de planejamento e organização. É isso que ele vem fazendo.
O São Paulo teve uma reunião recente sobre compliance (série de medidas a serem seguidas no sentido de garantir boa gestão)? Vai adotá-lo?
Tivemos aqui outro dia uma ótima demonstração, por parte de professores especializados, da conveniência do compliance. Não pude ficar até o fim porque foi no dia em que fechamos a contratação do Maicon, e aconteceu a coisa melhor da vida. Minha neta (Luzia, de 15 anos) me passou uma mensagem à tarde assim: “Vovô, como andam as coisas com o Maicon?”.
E você respondeu a ela ou nem deu bola, como costuma fazer conosco?
Eu disse que estavam indo bem, e ela: “Vai estender o empréstimo ou contratar?” (risos).
Aposto que ela teve a notícia em primeira mão.
Em total primeira mão, na hora em que tive a notícia liguei para ela. Luzia, minha querida. O interesse dela foi extraordinário.
Recentemente você almoçou com os presidentes de Corinthians, Palmeiras e Santos (Roberto de Andrade, Paulo Nobre e Modesto Roma Jr., respectivamente). Qual era o assunto?
Discutimos tudo. Estivemos com representantes dos departamentos jurídicos e tratamos, fundamentalmente, da liga sul-americana, de como nos encaixamos nessa liga que já vem sendo gestada e desenvolvida por uruguaios e argentinos. Na última reunião no Paraguai, nos colocamos contrários a participar na forma esboçada, mas agora os argentinos estão solicitando nossa entrada, entendendo que sem o futebol brasileiro a coisa não vai.
Essa liga compete com a Conmebol ou a Libertadores? Ela tem a pretensão de organizar um torneio paralelo?
Não compete, não é isso. Essa liga tem, mais do que tudo, uma visão negocial, comercial, de fortalecimento dos seus integrantes para todas as negociações que emanam do futebol e são fundamentais para os orçamentos dos clubes. O fundamental é que saímos da inércia, os clubes estão em movimento.
O São Paulo não tinha patrocínio…
(interrompe) Hoje tem cinco…
Pois é, inclusive um máster de camisa, além de outros parceiros, um bom contrato de TV e salários em dia. Como se chegou a essa realidade depois do baque do ano passado?
Gestão, credibilidade, compartilhar as ações, unir forças. E fazer pelo São Paulo. É pura gestão. As coisas vão dando certo porque muita coisa acontece. Eu fico impressionado como tem gente trabalhando pelo São Paulo. Aqui, na Barra Funda, em Cotia, e tudo isso bem conduzido dá resultado. E tem a emoção do nosso torcedor que é muito louco. No dia da contratação do Maicon, um cara que eu jamais vi, não sei quem é e vou continuar não sabendo, me mandou uma mensagem assim no WhatsApp: “Eu te amo presidente” (risos).
Fizeram isso, é?
É coisa que vem da alma. É o louco amor que aquela velhinha me falou. Vocês conhecem essa história? Eu estava outro dia no clube Pinheiros, havia acabado de almoçar e estava paradinho esperando minha mulher, aquela situação bucólica, e vinha vindo uma senhorinha velhinha, de cabelo branco, bengalinha. Nós havíamos perdido do The Strongest (na estreia da fase de grupos da Libertadores). Ela parou na minha frente e disse: “O senhor não me conhece, mas eu sei bem quem é o senhor. Quero lhe dizer, presidente, que não se abata muito, não fique muito triste, porque isso acontece, é assim mesmo. Há momentos melhores, outros piores, não sofra muito porque as coisas melhoram. Sabe, presidente, é um louco amor” (risos). Isso eu vou levar para o resto da vida.
Seu amor pelo São Paulo é louco?
Completamente, mas completamente. É sério o que vou te falar, não é jogo de palavras ou qualquer coisa assim. A primeira vez que eu chorei na vida, por sentimento, foi por causa do São Paulo, quando perdemos o tricampeonato para o Palmeiras, na final do Campeonato Paulista de 1947, em janeiro de 48. Eu tinha 10 anos. Comecei a ver o São Paulo em 46, quando fomos bicampeões com gol do Renganeschi. Em 47, o Palmeiras fez 3 a 0, nós empatamos e o empate era nosso, mas aos 41 do segundo tempo um tal de Osvaldinho, que tinha ido do Juventus pra lá, nos tirou o tricampeonato.
De que maneira o presidente do São Paulo espera concluir essa história, seja quando for, que começou nos anos 40?
É uma profunda história de amor que se coroou com a ascensão à presidência. Eu não projetei isso até o momento em que de repente me trouxeram para cá, em 1984. Comecei a ser diretor disso, daquilo, e a aspirar. E acabou acontecendo. É uma coisa muito honrosa e de muita intensidade afetiva. Eu tenho certeza que me ofendo menos se me atingirem do que se atingirem o São Paulo. O São Paulo vive mais forte em mim do que eu mesmo.