ESPN.com.br
Um atacante ex-São Paulo fez o gol mais bonito até aqui da fase preliminar da Uefa Champions League. No duelo diante do tradicional Estrela Vermelha – campeão europeu em 1991 – Jonathan Cafú passou por nada menos que cinco marcadores antes de balançar as redes na vitória por 4 a 2 e despachar o adversário.
Faltando apenas dois duelos para garantir o Ludogorets, da Bulgária, na fase de grupos, o jogador de 25 anos mal consegue acreditar na transformação que vivenciou.
“Achei que nunca chegaria a disputar o torneio que só fica atrás da Copa do Mundo em importância. A gente está a dois jogos de entrar na Champions, estou vivendo o melhor momento da minha carreira”, contou o atleta, ao ESPN.com.br.
“Agora estamos muito focados porque a gente veio de quatro jogos bem difíceis. Não se pode errar nas eliminatórias. Estamos garantidos na Liga Europa, mas pensamos só na Champions”, prosseguiu.
Com 29 partidas e nove gols pelo clube búlgaro, ele revelou sua inspiração para viver essa fase artilheira. “Eu sempre vi o Lucas [atacante do PSG] jogar e gostava muito das arrancadas em direção ao gol em velocidade. Estou treinando muito para isso e consegui marcar um belo gol. Agora quero fazer muitas outras mais”.
Jonathan Cafú está em sua segunda temporada na Europa, depois de passar o primeiro semestre do ano passo no São Paulo.
“A proposta do Ludogorets chegou de surpresa quando eu estava em casa. A primeira a gente não aceitou. Passou mais um mês e a segunda oferta foi muito boa para mim e o São Paulo. Tinha perdido um pouco de espaço no clube e isso facilitou a transação”.
O atacante chegou a um clube que tinha mais sete brasileiros: Júnior Quixadá, Marcelinho, Cicinho, Natanael, Lucas Sasha, Wanderson e Gustavo Campanharo.
“Eles viraram meus amigos. Os caras são fenomenais e trabalham demais. O clube está crescendo muito nos últimos anos. É muito complicado chegar a um novo país, mas eles ajudam a me sentir muito à vontade”.
‘VAI UM PANFLETO AÍ?’
Natural da periferia de Piracicaba, interior de São Paulo, o menino Jonathan Renato Barbosa virou Cafú quando ainda era bebê. “Uma tia minha que colocou porque nasci em 1991 e o Cafú tinha até ido para seleção brasileira. Isso ficou até hoje. É um honra ter o apelido dele”.
Como tinha mais sete irmãos e foi criado sem o pai, ele precisou ajudar em casa na adolescência. “Eu sempre gostei de jogar bola, mas ajudava em casa como entregador de folheto. Minha família era bem pobre à época. Era muita gente em casa (risos). Não tivemos pai e minha mãe e meu irmão mais velho que tocavam tudo. Tinha que ir para a luta”.
“Eu entregava de casa em casa nos bairros. Andava pra caramba, tipo um carteiro. Isso já ajudava na minha preparação física (risos). Era panfleto de todo tipo de empresa, os que mais entregava era dos supermercados que chegavam na região”.
Enquanto trabalhava, conseguia se destacar no futebol amador. Foi assim que chegou à base do Rio Claro e do Desportivo Brasil, em Porto Feliz. Com o clube da empresa Traffic, ele foi disputar uma competição na Espanha e foi chamado para treinar no PSV Eidhoven, na Holanda.
“Fiquei pouco tempo por lá, eu tinha uns 19 anos. Joguei com os brasileiros Jonathan dos Reis e o [goleiro] Cássio por lá. Foram dois meses, mas não deu certo e voltei ao Brasil”.
“Eu já estava me acostumando com o estilo europeu de jogar quando voltei comecei a ‘quebrar’ a bola. Falaram que tinha desaprendido a jogar bola (risos). O jogo é muito diferente daqui do Brasil”, disse.
O primeiro campeonato profissional de Cafú foi o Paulistão da Série B (Quarta Divisão), em 2009, pelo Desportivo Brasil. “Era bem complicado jogar nos campos que eram ruins. Nosso time era bom, mas muitas vezes as oportunidades não aparecem para todas as pessoas e muitos jogadores não vingam”.
Ele voltou para sua terra natal para defender o XV de Piracicaba, no qual permaneceu por três anos. “Não tinha muito espaço porque tinha o Paulinho [atualmente no Santos] na minha posição. Pelo fato dele já estar no time já tinha mais moral, sempre o respeitei porque é um grande jogador. Esperei meu momento e oportunidade. Ganhei mais espaço quando ele foi ao Flamengo”.
Após se destacar no time durante o Estadual, ele foi contratado para jogar o Brasileiro de 2014 pela Ponte Preta.”Foi um clube que abriu as portas para mim e não é fácil jogar por la. Fui muito bem recebido e tive todo apoio da torcida e funcionários. O grupo de jogadores era muito bom”.
As boas atuações despertaram a atenção do São Paulo, no começo de 2015. “Chegar ao São Paulo foi um dos sonhos realizado. Você vê jogadores que só via apenas pela televisão. Conhece a história de cada um para chegar ao topo e fica impressionado. O Rogério Ceni, Luis Fabiano, Michel Bastos, Luis Fabiano, Ganso. São ídolos do futebol e um orgulho imenso viver esses momentos”.
O principal momento vivido pelo atacante durante o pouco tempo em que ficou no time da capital paulista foi durante a Copa Libertadores da América. O jogador fez um gol na vitória por 4 a 0 diante do Danubio-URU no estádio Morumbi, pela primeira fase da competição.
“Não é para qualquer um. Todos que vêm de baixo têm um sonho desses. Na hora passou um filme na minha cabeça. Hoje, claro que fica um pouco de saudade do Brasil e jogar no São Paulo. Para mim, foi muito gratificante”, vibrou.
Depois de jogar a principal competição de clubes da América do Sul, Cafú se prepara para um novo desafio: estar entre os maiores clubes da Europa. Para isso, precisará passar pelo Viktoria Pilzen, da República Tcheca. A primeira partida dos playoffs será nesta quarta-feira, na Bulgária, às 15h45 (de Brasília).
“Foi uma reviravolta muito boa na minha vida. Sempre mantenho a humildade e sei que vim lá de baixo. Hoje, sou muito grato por tudo isso que me aconteceu”.