Fonte: UOL – Pedro Lopes e Ricardo Perrone
O UOL Esporte apurou que parte da diretoria são-paulina – que inclui Aidar – já não mantém o mesmo entusiasmo pelo trabalho de Muricy. A dura derrota da última quarta diante do Corinthians intensificou a pressão sobre o comandante. Por outro lado, o treinador mantém no vice de futebol Ataíde Gil Guerreiro e no gerente Gustavo Vieira de Oliveira seus principais pontos de apoio dentro do clube.
O desgaste começou a ficar evidente nas cobranças públicas de Aidar, quando o mandatário disse à imprensa que, com seus pedidos de reforços atendidos, Muricy agora devia um título ao São Paulo. Visivelmente contrariado, o treinador rebateu.
“Eu já vi tudo no futebol. Agora, você mesmo se pressionar, nunca tinha visto. A gente está se pressionando. Não é a torcida, é a gente, um negócio chato, não ajuda em nada”, disse.
Antes do clássico, Aidar disse claramente que considerava o São Paulo favorito. O que se viu em campo foi bem diferente: com uma derrota contundente, sem sequer ameaçar o gol da Cássio, Muricy sofreu críticas internas após o jogo.
A derrota tornou evidente o mal estar do técnico com o presidente. Nos dias que antecederam o jogo contra o Corinthians, Aidar apareceu em desfiles de carnaval com membros da torcida organizada do clube, e financiou ônibus até o Itaquerão. Depois da derrota, a mesma torcida pediu a saída de Muricy e a chegada de Luxemburgo: “vá pescar”. Depois voltou atrás, apagou as postagens em redes sociais e incentivou o time.
Após bater o Audax por 4 a 0 no sábado, Muricy deixou claro que, em sua visão, o momento político do clube tem relação com a atitude da organizada. “Tem pessoas que querem fazer o torcedor pensar diferente. Mas estou há muitos anos aqui e conheço tudo. É difícil fazer a cabeça da torcida do São Paulo. Eles gostam de mim. As pessoas tentam, mas estou atento a tudo isso aí. Estou ligado”.
A turbulência política do São Paulo é fruto da briga entre Aidar e seu antecessor, Juvenal Juvêncio. Eleito com apoio de Juvenal, o atual presidente rompeu com seu mentor, começando por demití-lo da diretoria de categorias de base. Trocou também o gerente de Cotia, e até o escritório de advocacia que prestava serviços ao clube, do qual José Francisco Manssur, ex-assessor de Juvenal, é sócio.
No departamento de futebol, manteve Muricy, além de Gustavo e Milton Cruz – os dois, inclusive, também foram alvo de duras críticas da torcida organizada. O técnico mantém boas relações com Juvenal, e se irritou ao falar do assunto.
“Seu Juvenal… Trabalhei muitos anos com o Juvenal e gosto dele. A vida é minha e falo com quem eu quiser. Se tiver insatisfeito, eu vou embora e tudo bem. Mas comigo, não. Sou sério para caramba e vou continuar sendo correto”, desabafou no sábado.
Se as palavras não deixarem claro o suficiente, pessoas próximas de Muricy dizem que o treinador não está satisfeito com a situação. No final da entrevista de sábado, o recado foi claro: “Eu incomodo mesmo. O que me interessa é o São Paulo em primeiro lugar. Se me quiser fora, tem de mandar embora. É simples”. Existem duas pessoas no clube com autonomia para tomar essa decisão: Ataíde Gil Guerreiro e Carlos Miguel Aidar.
Oficialmente, o presidente do São Paulo mantém que dá total respaldo ao trabalho de Muricy Ramalho. O técnico, por sua vez, mantém a política fora dos muros do CT, como fez ao longo de sua carreira. O foco é no jogo de quarta, diante do Danubio, no Morumbi. Para ter paz no clube, pelo menos por algum tempo, o melhor remédio é a vitória.