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Alexandre Lozetti
Papel garante ao clube a possibilidade de um futuro promissor, mas amadurecimento precisa ser completo: da gestão Leco, responsável pela mudança, até seus opositores.
Por mais espinhosos que tenham sido os últimos anos futebolísticos do São Paulo, nenhum adversário foi tão tinhoso e cruel quanto sua própria política, mesquinha e predatória. A aprovação do novo estatuto é um belo gol, o mais bonito de 2016, quiçá dos últimos anos. Mas o momento ainda inspira cuidados. Já que o técnico Rogério Ceni prega o jogo ofensivo, a hora é de aproveitar e golear, e não se acomodar ou segurar esse 1 a 0.
O papel garante ao Tricolor a possibilidade de um futuro prodigioso. O veto à reeleição impede projetos pessoais de poder. As mudanças nas eleições para o Conselho colocam, na pirâmide, a meritocracia acima de hierarquias tolas que privilegiavam idades ou matrículas. Mais eleitos, menos vitalícios, e torna-se mais importante trabalhar pelo São Paulo do que “agregar status”.
Outro destaque, talvez o maior deles, é a criação de diretores profissionais com “notório conhecimento em suas áreas de atuação”. As metas da gestão, bem como sua fiscalização, serão de responsabilidade de um novo Conselho de Administração.
É uma “conquista de todos”, como tem proclamado a cartolagem tricolor, mas o feito é da gestão Leco. E um feito determinante para um clube que vinha levando voltas e mais voltas dos principais adversários. Assim como são dessa mesma gestão os erros que culminaram numa temporada medíocre de futebol, já citados , a redução das dívidas, a evolução no marketing, entre outros tantos méritos e deméritos que não podem ser sequestrados.
Para se chegar ao novo estatuto, o primeiro passo foi referendar o anterior numa votação que a oposição tentou boicotar, pois pretendia sustentar uma ação que anulava atos administrativos dos últimos 12 anos, cujas consequências ninguém, nem mesmo o autor, conseguia explicar.
Nesse ponto, foi essencial a participação do presidente do Conselho Deliberativo, Marcelo Abranches Pupo Barboza, que bancou o movimento ao lado de Leco. Agora, com aprovação interna e pública, há uma tentativa geral de apropriação do estatuto. O contexto explica:
Opositores dedicam-se a agradar o empresário Abílio Diniz, em busca de apoio para candidatarem-se à presidência em abril próximo. Para tal, repetem, em gestos e posts, mantras do ilustre são-paulino, que há muito defendia um novo estatuto, como “profissionalização”, “gestão”, “governança”, “profissionais remunerados” etc, etc, etc.
O “novo São Paulo” tem tudo isso no papel. Um amadurecimento que precisa ocorrer em todas as instâncias. O documento, criado por uma comissão formada por membros de diversas correntes políticas, e elogiado por quem entende do assunto, na bola e no mercado corporativo, não combina com invejinhas e guerrinha por holofotes, do tipo “Ai, falou dele, mas não falou de mim”. Senhores grisalhos que agem como crianças mimadas.
É preciso amadurecer agora na diretoria, que terá a responsabilidade de escolher e contratar tais profissionais para elevar os patamares tricolores; na oposição, que precisa existir, mas não conseguiu ainda elaborar um projeto que vá além de críticas. Nos processos de fiscalização, nos estudos previstos pelo estatuto, como a separação entre futebol e área social ou a possibilidade de votação aberta no futuro, para sócios e sócios-torcedores.
A participação dos associados foi ínfima, muito pequena, na aprovação do estatuto. Pode-se interpretar que não estão nem aí para além da piscina e das quadras de tênis, ou que é um clube desacostumado à democracia total. O voto não anda em alta no Brasil, os números mostram.
No último sábado, o São Paulo venceu a si mesmo, seus ranços, grupos políticos e rebeldias sem causa. Mas o jogo não acabou. Os 21 capítulos e 180 artigos do estatuto precisam de boas cabeças para cumpri-las.