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José Eduardo Martins
Apresentado como técnico do São Paulo nesta quinta-feira (8), Rogério Ceni disse que deixou de lado uma formação ideal como técnico para realizar o sonho de comandar seu clube de coração. De acordo com o ex-goleiro, a interrupção dos estudos foi guiado pela paixão e a impossibilidade de recusar a chance.
“O coração diz que, o São Paulo me chama para uma oportunidade como essa, jamais poderia recusar”, disse o treinador, “É um desafio que seja satisfatório, emocionante, fascinante, preocupante. Essa é a graça da vida: grandes desafios, e foi isso que me trouxe. Osorio falava que tem coisas que você faz por dinheiro e coisas em busca da glória. Eu vim em busca da glória”.
“Não consigo me ver como treinador desses times [rivais]. Sempre manifestei desejo de treinar o São Paulo. Não me veriam [em outros times] como um bom nome para ser treinador. É uma coisa simples de se analisar, existe incompatibilidade. Espero poder ficar muito tempo no São Paulo. Sabe como é a vida de treinador. Talvez não fique dois, mas posso ficar quatro, cinco anos”, comentou.
A intenção de Rogério Ceni era completar o cronograma de cursos que havia estipulado. Mas ele explicou o que fez mudar a rota.
“Fui para a Inglaterra, fiz um curso pela FA para aprimorar o inglês e o aprendizado. A minha intenção era fazer a Uefa A e B e depois o Pro. Mas surgiu essa oportunidade. Em conversas com o técnico do West Ham, Slaven Bili?, ele me disse que, na vida, a gente idealiza o que é tão perfeito e que não acontece. Daí interrompi os estudos para seguir meu coração, minha paixão, para assumir o São Paulo”, disse.
Rogério Ceni afirmou que espera que seu passado glorioso pelo clube fosse deixado de lado na avaliação de seu trabalho. E que, para triunfar na nova profissão, não vê um lugar mais adequado do que o São Paulo.
“O que me moveu foi mais ou menos o que me fez bater faltas como goleiro, o que ninguém tinha feito. Vejo São Paulo como grande desafio onde tive carreira completa, da base a capitão, passei por todas situações. Glórias, títulos, derrotas. Meu pai dizia que só erra quem decide. Não espero ser julgado como atleta e sim como treinador. Tentei montar uma equipe de trabalho boa para isso. Vamos tentar em conjunto ter elenco cada vez mais forte”, disse.
Anunciado há duas semanas, Rogério Ceni assinou por dois anos como técnico do São Paulo. O ídolo já começou a trabalhar com reuniões internas e no planejamento para 2017, mas só estreará na Florida Cup, nos Estados Unidos, em janeiro.
Confira outras declarações do novo técnico do São Paulo:
Exigência e trabalho contra do corpo mole
“Sempre fui exigente comigo mesmo. O coração, a alma, já estão inseridos no profissional. Deveria existir em cada profissional. E vejo que existe isso na grande maioria. Há um ou outro problema, mas foge do meu conhecimento”.
“Acredito que um dos motivos da minha chegada seja meu perfil como atleta do clube. Entendo que isso não será necessário. Se for necessário, vamos trabalhar na psicológica, incutir isso na mente de cada um. É tão natural a alma, desejo, coração para cada profissional. Espero que seja assim. E será, de uma maneira ou outra”.
Relacionamento com os jogadores
“Profissão de técnico não se trata de conhecimento de jogo, mas sim de gestão fora dele. É a principal função de um treinador, de uma equipe de treinamento, aliado às pessoas que dirigem. Sem simbiose e união é impossível ter bom planejamento. Quando partes caminham juntos, mesmo pensamento, tudo pode acontecer de melhor”.
“A lealdade, sinceridade, objetividade, falar no olho no olho. Sempre gostei que fosse assim. Te dou um exemplo: o Mario Sergio, em 1998, me chamou e falou que não gostaria que batesse faltas. Disse ‘tenho você como goleiro, organize a defesa, mas acho que isso não é função para você’. Eu entendi, respeitei. No tempo que trabalhei com ele, não bati falta. Foi sincero, olho no olho”
“A partir que fala a verdade, de maneira verdadeira. Mesmo gostando ou não. Nem sempre vai agradar todos, mas acredito em senso de justiça pela meritocracia. Espero lidar com todos, todos possam estar a disposição”.
Importância de seu trabalho na função de treinador
“Não tenho como avaliar percentual porque não exerci função. Me considero apenas uma parte de um todo do clube, incluindo comissão, atletas, pessoas que trabalham direta e indiretamente. É importante em um ambiente, independentemente da função, que todos se sintam importantes. Encontrei Ratinho, sei o quanto ele é importante. Esse reconhecimento vale a pena. Uma peça que possa contribuir com atletas”.
“Não ousaria dizer que vou mudar algo no futebol, seria pretensão da minha parte. Treinador é figura central e responsável. Sou favorável sempre de distribuir tarefas, delegar desde que tenham competência. Não sou pessoa que vai querer os louros, glórias para mim”.
Críticas de Renato Gaúcho aos ‘técnicos estudiosos’
“Acho quem vence tem mais histórias para contar. Admiro o Renato como atleta que foi, jogador campeão mundial. Não só através da conquista, ele demonstra toda capacidade como profissional da área para dirigir não só Grêmio. Acho que qualquer profissional que tenha conhecimento tem chance de ser treinador. É como os jornalistas: existem os mais velhos, com mais experiência de dia a dia, e aqueles mais jovens e que têm a mente diferente. Respeito os dois tipos de profissional”.