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Maior ídolo da história de um clube. Goleiro. Carreira longeva, passando dos 40 anos. Aposentadoria e, quase em seguida, um retorno como técnico para dar esperança aos torcedores. O Netflix, com a série mexicana Club de Cuervos, fabricou, sem querer, uma cópia de Rogério Ceni. E a torcida do São Paulo, graças aos spoilers que, perdão, virão a seguir, só espera que o são-paulino tenha mais sorte do que Rafa Reina.
“Rugero Cena? – tenta replicar, em entrevista por telefone com a reportagem do LANCE!, o ator Antonio de la Vega, um dia antes do primeiro treino de Rogério Ceni no CT da Barra Funda – marcado para as 9h desta quarta-feira.
O mexicano ganhou o papel nos acréscimos da montagem do elenco para o seriado que estreou no Netflix em outubro de 2015, ganhou a segunda temporada no último mês de dezembro e já tem filmagens em andamento para uma terceira parte. Vega não conhece Ceni, mas se impressiona com a quantidade de semelhanças com seu personagem. Os 131 gols chocaram e a identificação com o Tricolor fazem com que ele aposte em sucesso do Mito como técnico. Para não repetir os passos de Rafa Reina, em Club de Cuervos, o são-paulino não precisará de muito.
“É um personagem que me deixou muito feliz de interpretar. E acredito que sendo um goleiro veterano, de tanta experiência, é um salto natural a transformação em treinador. Tanto na ficção quanto na vida real. É uma posição totalmente distinta, há uma visão diferente, um contato maior com frequência com o treinador. Acredito em sucesso mais fácil de um goleiro que vira técnico. Eles sabem posicionar a equipe e aplicar melhor as situações de jogo. Têm mais tempo e campo de visão. E no caso de Rogério é muito importante esse conhecimento que teve na carreira, ainda mais com essa identificação que você disse que ele tem com o clube”, opina.
Rafa Reina – uma vez mais, perdão pelo spoiler, mas vocês já deveriam ter visto a primeira temporada – se aposentou em 2015 aos 40 anos como ídolo maior dos Cuervos, da cidade de Nova Toledo. O clube, em crise devido à desastrosa gestão de Chava Iglesias, sempre em pé de guerra com a meia-irmã Isabel – esposa do ex-goleiro, chorava a saudade do patrono Salvador Iglesias, não mantinha nenhum técnico seguro e beirava a zona de rebaixamento do Campeonato Mexicano. A solução foi recorrer ao “Cuervo Mayor”, apelido de Rafa Reina, que nunca havia sido treinador. Qualquer semelhança com a realidade do Mito no Tricolor Paulista é mera coincidência. Sério.
“Não conhecia Rogério Ceni antes dessa entrevista, então baseei meu personagem naquele goleiro italiano, que tem tanta classe, que é o Buffon. Ceni parece ser um goleiro muito importante para o futebol mundial e agora estou louco para vê-lo. As pessoas sempre nos perguntam das referências usadas pela série, que normalmente saem do futebol nacional ou da Europa. E assim, para Rafa Reina, eles nunca me deram referências de Ceni”, explica.
Vega tentou ser jogador de futebol e desistiu por não ter “qualidade suficiente”, mas praticou o esporte intensamente dos 11 aos 25 anos. Esse foi um dos pré-requisitos para ser selecionado para a série, mas não resultou em menos trabalho. O ator precisou de aulas de goleiro, já que os produtores queriam cenas realistas nas cenas de jogos, algumas delas filmadas durante o intervalo de jogos da Primeira Divisão do México.
Os adversários dos Cuervos são as equipes conhecidas do futebol mexicano, como os Pumas, time pelo qual Vega torce. A primeira temporada da série termina com Rafa Reina tentando salvar o clube do rebaixamento em partida contra o Tijuana e basta você abrir a lista de episódios da segunda temporada para descobrir que o futuro não é nada animador para os Iglesias e a cidade de Nova Toledo. Para o ídolo e técnico, restará ainda o desgosto de ser, bem, demitido pela própria esposa, a nova presidente dos Cuervos.
Confira bate-papo exclusivo com o ator Antonio de la Vega:
Como foi a seleção para o papel de Rafa Reina?
Gosto demais de futebol. Vivi minha vida até certo ponto pensando em ser profissional, mas nunca tive a qualidade suficiente para isso. Era muito difícil achar um ator para esse personagem. Me chamaram quase no fim dos testes eu estava fora do México, me apresentei no último dia, na última hora. E logo me chamaram para ser Rafa Reina. Eu nunca joguei como goleiro, então tive que treinar algumas técnicas. Sempre fui lateral, zagueiro e às vezes volante. Há muito futebol de verdade na série. Filmávamos no intervalo dos jogos, com lances reais, então eu precisava saber um pouco da técnica da posição.
Acha que é possível um técnico ser casado com a presidente de um clube, como seu personagem, na vida real?
É algo de ficção, não me lembro de nenhum exemplo como esse no México ou em qualquer lugar. Mas tento mostrar no meu personagem que ele chegou ali por méritos, pela competência. E pode ser assim também na vida real, um parente ter um cargo pelos próprios méritos. Na segunda temporada, Rafa Reina começa como técnico, foi demitido e seguiu com ela. Mas melhor parar com os spoilers, senão quem ler a entrevista ficará bravo (risos).
O que espera da sequência da série? E de Rafa Reina?
Estamos gravando a terceira temporada e esperamos que haja uma quarta, quinta e que se torne uma grande franquia. Quero que o Rafa chegue à presidência do clube, acho que ele merece isso. Está estudando (o personagem se matricula em curso de gestão esportiva na série) e torço pelo sucesso dele, mas como se envolveu com a moça da cafeteria, não sei (risos).
Qual sua relação com o futebol brasileiro?
Me encanta! Foram jogadores que me atraíram muito, como Zico, Sócrates, Ronaldo, Romário, Bebeto e até Dunga. E, mais recentemente, Kaká. O futebol brasileiro tem uma qualidade impressionante. É um jogo vistoso, alegre e que exporta muitos jogadores a todas partes do mundo, sempre campeões.