Rogério Ceni expulso e 3º goleiro em campo. SP também já perdeu por 7 a 1

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UOL

Diego Salgado

 

Clássico do futebol, derrota impiedosa por 7 a 1, com gol de honra no minuto final. O roteiro não é exclusivo da seleção brasileira diante da Alemanha. A goleada histórica também já fez parte da história do São Paulo: o fato se deu em  2001, contra o Vasco. No dia em que o 7 a 1 mais famoso completa um ano, paulistas e cariocas voltam a se enfrentar pelo Campeonato Brasileiro, em Brasília.

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Há 14 anos, o São Paulo também jogou contra o Vasco como visitante. Em campo, Rogério Ceni, Luis Fabiano, Kaká e França diante o time vascaíno de Romário e Euller. A partida disputada em São Januário teve um vilão: Alencar, terceiro goleiro do elenco são-paulino na temporada. Naquela tarde de domingo, o jogador entrou em campo após a expulsão de Rogério, logo aos seis minutos de jogo, quando o placar ainda apontava 0 a 0.

Àquela altura, em novembro de 2001, Alencar havia disputado apenas quatro partidas com a camisa do São Paulo, na terceira temporada no clube paulista, depois de despontar no Londrina e defender o XV de Piracicaba. O goleiro, porém, não imaginava que teria de substituir o titular naquele jogo.

“Faltou de experiência no momento. Eu vinha de uma lesão e não estava cotado para ficar na reserva, mas o Roger sentiu e fui convocado para a partida. Se eu tivesse a experiência que adquiri nos anos seguintes, não teria ido. Estamos sujeitos a isso. Tem dia que vira noite. Serviu de lição “, disse o ex-goleiro em entrevista ao UOL Esporte.

Do banco de reservas, Alencar viu Rogério evitar um gol de Euller ao defender a cabeçada do atacante fora da área. Mesmo sem cartão amarelo, o camisa 1 foi expulso pelo árbitro Carlos Eugênio Simon. “Não imaginei que o Rogério seria expulso no começo do jogo, com seis minutos”, disse o ex-companheiro do goleiro.

Alencar suportou a pressão por 12 minutos, até o chute de Gilberto de fora da área. No lance, o goleiro errou e praticamente pôs a bola para dentro. “Quis fazer a defesa pensando lá na frente. Na reposição, pois estava substituindo um cara que repõe bem. Quis mostrar que tinha condições de fazer isso rápido. O erro faz parte da posição. Fazemos tudo para não errar, mas às vezes acontece. Eu não me abati”, explicou Alencar.

Euller ampliou ainda no primeiro tempo. Depois, na etapa final, Romário, três vezes, Léo Lima e Dedé também marcaram — Alencar não falhou em nenhum dos seis lances. Atrás de um dos gols, Rogério, aos gritos, ainda orientava o time, gesticulando bastante.

Antônio Gaudério/Folhapress

Alencar é vencido por Romário, que marcou três gols contra o São Paulo em 2001

Nem isso acalmou os companheiros. O último gol vascaíno saiu logo após a expulsão do lateral são-paulino Gustavo Nery. Com 7 a 0, no placar, França marcou o gol de honra. Kaká, no lance seguinte, quase acertou um chute do meio-campo ao acertar a trave. Nada que apagasse o vexame.
Nos vestiários, Rogério consolou o seu reserva. “Ele me apoiou, veio, conversou comigo. Ele é bastante competitivo, não queria que o time tomasse sete gols. Ele entendeu, até porque não era a primeira vez que o São Paulo tinha tomado sete”, relembrou Alencar, referindo-se à goleada sofrida pelo São Paulo contra a Portuguesa por 7 a 2, em 1998 — Rogério, substituído por Roger, também não estava em campo (Nelsinho Baptista, em contrapartida, era o treinador são-paulino nas duas partidas).
Amizade e homenagem
Após a goleada, Alencar nunca mais vestiu a camisa do São Paulo. No fim da temporada, acabou deixou o clube e acertou com a União Barbarense. A convivência com Rogério no clube paulista, entretanto, virou experiência de vida. Depois, o jogador defendeu mais 12 clubes, até encerrar a carreira no Gama, aos 35 anos.
De volta à sua terra natal, Alencar passou a coordenar a base do Londrina. Depois, abriu uma escolinha de futebol, intitulada de “Escola de Goleiros 01”. O número ao fim do nome é uma homenagem ao ex-companheiro. “Eu já tinha um projeto para escola de formação de goleiros. O ’01’ é uma homenagem ao Rogério Ceni, que usa o número assim na camisa. Fiz a ele, pois convivi com ele por três anos e só tenho a agradecer, pois aprendi muito”, frisou.
Alencar lembra, por exemplo, dos treinos no CT do São Paulo, quando Rogério cobrava mais de 100 faltas ao fim das atividades. O ex-goleiro, no entanto, admite que não teve tantas chances como titular pois Rogério já vivia grande fase.
“Tive a oportunidade de ir para um time grande, mas sabendo da dificuldade de jogar. O objetivo foi alcançado, mas a questão da oportunidade de repente não foi o que a gente imaginava que seria. O Rogério já era ídolo da torcida, ele era convocado para seleção”, explicou o ex-goleiro, que é dois anos mais novo que o camisa 1 do São Paulo. .
Com a iminente aposentadoria de Rogério, Alencar acredita que os outros goleiros poderão ser mais aproveitados no clube paulista. “Hoje, quem estiver no São Paulo, vai ter uma motivação maior. Ele já consegue projetar algo mais, que será titular do São Paulo. Isso é legal.”
Quase 14 anos depois do 7 a 1, Alencar afirma que “o pior jogo a carreira” ficou para trás. E até planeja voltar ao CT da Barra Funda para rever o amigo e levar os goleiros da sua escola para um encontro com Rogério. “Quem sabe um deles será substituto dele”, finalizou.

Antônio Gaudério/Folhapress

Rogério dá lugar a Alencar no jogo contra o Vasco, marcado pela goleada por 7 a 1