A equipe do São Paulo foi se moldando ao longo da pré-temporada. O sistema tático, os titulares, a maneira de jogar. Mas em momento algum se imaginou que ela não tivesse Thiago Mendes.
Considerado “jogador moderno”, daqueles que executam funções múltiplas num meio-campo, o volante é um dos mais animados com a chegada de Rogério Ceni. É verdade que nenhum jogador falaria mal do trabalho do técnico antes mesmo de o campeonato começar, ainda mais sendo esse técnico o maior ídolo da história do clube. Mas a empolgação é notória.
Thiago Mendes quer fazer do São Paulo um time com identidade em 2017 (Foto: Érico Leonan/saopaulofc.net)
Os laços foram estreitados durante a viagem para os Estados Unidos. Em pouco mais de duas semanas de treinos intensos, jogos-treinos e até título sobre o rival Corinthians, criou-se uma amizade coletiva que pode servir de base para o Tricolor se candidatar a conquistas em 2017.
Nas redes sociais, Thiago Mendes e o vizinho Maicon, que mora a quatro minutos de sua casa, deitaram e rolaram: tapas na cabeça, risadas, comemorações. Antes de receber a reportagem do GloboEsporte.com em sua residência, que está em reforma e vive em função das crianças Juan Miguel, de 4 anos, e Lize, recém-nascida de apenas um mês, o volante deu carona ao zagueiro.
– Dei tapa na cabeça dele. Se ele ficar bravo, a gente dá outro para ele ficar mais (risos).
Nesse espírito “leve”, Thiago Mendes disse o que espera do São Paulo em 2017:
Vi que você deu carona para o Maicon hoje, e também houve muitas fotos de vocês nas redes sociais durante a viagem aos EUA. Foi lá que vocês se aproximaram?
Com o tempo nos aproximamos muito. Quando eu preciso de alguma coisa ele me busca e vice-versa. Fizemos uma grande amizade na Flórida, não só nós dois, mas a equipe inteira do São Paulo. Estávamos sem as famílias, então a amizade prevaleceu bastante. O Rogério Ceni insistiu muito nisso. Ele queria isso e permaneceu na chegada ao Brasil. O time está focado apenas no objetivo de fazer um bom campeonato e levantar a taça.
Então podemos dizer que além de treinar a equipe seguindo o que quer o Rogério, essa viagem serviu para melhorar o time fora de campo também?
O São Paulo não era assim antes de o Rogério Ceni chegar, o grupo não era unido como está agora. Mudou muito depois da chegada dele. Vocês devem sentir o grupo mais unido, estamos querendo aprender com o Rogério Ceni, assim como ele também está querendo aprender com a gente. Isso é o começo de uma equipe que almeja alguma coisa.
Mas que poder tem esse cara para em um mês, sendo novato na profissão, unir um grupo?
Só de você falar o nome Rogério Ceni. Todos foram pegos de surpresa, ele não passou nem um ano longe do São Paulo e voltou como treinador. Ele tem história no clube, o coração dele bate pelo São Paulo. Ele fez contratações pontuais, acho que acertou nisso. O time todo queria um treinador que fizesse tudo que ele está fazendo, os treinamentos diferentes. Por isso a equipe está unida, ele pediu isso.
Você não ficou em dúvida quando ele foi anunciado técnico? Não achou que era cedo?
Eu me perguntei várias vezes se ele já estaria preparado, mas me surpreendeu. Esses meses em que ele viajou, aprendeu muito com outros treinadores. Ele ainda não repetiu nenhum treino. Acho que está ensinando tanto quanto está aprendendo. Isso é fundamental. A maioria dos treinadores repete treinamentos, ele modificou isso. E só dele participar com a gente, aumenta a autoestima do grupo, a motivação para buscar alguma coisa.
Às vezes não dá vontade de pedir para ele parar de gritar?
(risos) Ele não está falando tanto, mas tem que cobrar mesmo. A equipe tem que se doar muito.
Qual foi o treino que você mais gostou até agora?
Até hoje foi o do futebol americano. Eu nunca tinha feito aquilo na vida, ele chegou com esse treinamento e achei muito legal. Ele divertiu a equipe, foi fundamental.
Esse treino tem algo que possa ser usado no jogo ou era só para integrar os jogadores?
O objetivo é de jogo, tudo que ele passa é de jogo. É bastante importante para a movimentação. Ele não estava escutando nossa voz em campo, e esse treino ajudou a se soltar mais. Serviu para mobilidade, arranque, freada. Ajudou bastante. No começo todo mundo fica meio tímido, então é fundamental para um time que não é de falar bastante em campo, mas se soltou.
Você gosta de futebol americano?
Não é muito minha praia, não. Eu gosto de assistir futebol mesmo. Meu filho vê comigo, ajuda ver a reprise dos nossos jogos, para ver onde errei e acertei e poder trabalhar no treino, tentar não cometer mais os mesmos erros do jogo.
Você faz isso a pedido da comissão técnica ou é uma decisão sua?
É uma coisa minha, faço desde a época do Goiás. Procuro ver mais meus erros do que os acertos, me cobro bastante. Minha mulher (Kelly) às vezes fala também, e o trabalho do dia a dia ajuda a não cometer os mesmos erros.
Sua mulher é corneteira, então?
Quando eu estou mal ela corneta, mas eu peço a opinião dela. “Você foi bem” ou “Você foi mal, deveria ter feito isso e aquilo”. É sempre bom ouvir de pessoas se erramos ou acertamos. Isso é importante na vida de um atleta.
E nessa autocrítica, o que você errou em 2016 que não quer repetir em 2017?
Não quero repetir tantas derrotas. Isso foi crucial no nosso desempenho no Brasileiro. O time estava tão bem na Libertadores, chegou à semifinal, mas depois caímos de rendimento. Eu não gostaria mais de brigar contra o rebaixamento na minha carreira, sempre gostei de brigar por títulos. Essa é uma coisa que preciso levar na minha cabeça.
Mas as derrotas ou vitórias não dependem unicamente de você. O time mudou depois da Libertadores, houve muitos fatores. Individualmente, que erros você precisa corrigir?
Os passes que eu errei ano passado. Tenho tentado acertar o máximo agora, o Rogério Ceni tem cobrado isso de mim.
Não acha que pela qualidade da sua finalização, você deveria chutar mais a gol?
Sim, e o Rogério Ceni deu um pouco mais de liberdade do que eu tinha, vou poder chegar mais à frente e finalizar de fora da área. Isso foi fundamental ano passado, nos momentos mais difíceis. Esse ano também vai ser para alavancar minha autoestima.
Aquele gol contra o Fluminense, por exemplo, foi importantíssimo, não?
É verdade, brigávamos para não entrar na zona de rebaixamento. Se perdêssemos afundaríamos ainda mais. Aqueles gols salvaram, o meu (do empate por 1×1) e do Rodrigo Caio (virada de 2×1) foram fundamentais (clique aqui e veja).
A equipe está fazendo uma pré-temporada de ótimo astral, bons treinos, mas a realidade ainda aponta os rivais estaduais mais fortes. O que esperar do São Paulo em 2017?
Temos que dar um passo de cada vez, mostrar a cara do São Paulo, que precisa de uma identidade. Em dois anos que estou aqui, ainda não vi isso. Temos que dar uma cara ao São Paulo e depois mostrar o futebol que estamos treinando. O Palmeiras tem um ótimo elenco, os outros também, e o São Paulo está recomeçando.
Que cara você gostaria que o São Paulo tivesse?
O São Paulo tem que voltar a ter a raça de antes, que é fundamental. Ano passado nosso time não demonstrou tanto isso. E bola também, só raça não adianta nada. Vocês podem esperar um São Paulo diferente. Acho que verão jogos diferentes do que estavam acostumados.