16 anos da conquista do Rio-São Paulo que revelou Kaká

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Com a vitória por 2 a 1 sobre o Botafogo, de virada, o Tricolor obteve um título inédito na história do clube

Michael Serra / Arquivo Histórico do São Paulo FC

Até o dia 7 de março de 2001, há 16 anos, o Torneio Rio-São Paulo era sinônimo de leve frustração para os são-paulinos. Em 21 participações até então, o máximo posto obtido fora o segundo lugar em quatro ocasiões (1933, a única edição nos anos trinta, 1962, 1965 e 1998 – em 2002 foi, novamente, vice-campeão). Mais do que o simples baixo desempenho – explicado pelo fato da competição ter existido, basicamente, durante o difícil período de construção do Estádio do Morumbi – tudo parecia acompanhado por altas doses de azar ou ironias do destino.

Exemplo disto é que, em 1949, disputou-se um torneio que ressuscitaria o RJ-SP em 1950, o chamado “Torneio Relâmpago – Taça R. Monteiro”, onde os quatro grandes de São Paulo enfrentaram Botafogo e Fluminense, do Rio de Janeiro. O São Paulo foi declarado campeão, embora – por falta de datas – não tenha ocorrido a última partida do certame.

Posteriormente, esse novo torneio interestadual seria batizado com o nome do ex-goleiro e ex-presidente do São Paulo, Roberto Gomes Pedroza, depois do falecimento dele em 1954. Nem com esta homenagem póstuma o Tricolor passou a ter melhor sorte na competição. De 1950 a 1966, até a Portuguesa ganharia a Taça por duas vezes (1952 e 1955), e pior, no único ano em que não foi realizado, o São Paulo vencera a competição similar disputada em seu lugar: Em 1956 o Torneio Roberto Gomes Pedroza teve duas fases, a internacional – vencida pelo Santos –, e a nacional, a qual os clubes do Rio de Janeiro desistiram de participar.

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Ainda que oficialmente o São Paulo tenha vencido a mesma competição dos anos anteriores (Era o mesmo torneio, com o mesmo nome e a com a mesma taça em disputa), não é possível afirmar que era um Rio-São Paulo sem os clubes do Rio, não é mesmo? Vida seguiu e em 1967 o torneio entre clubes de dois estados se expandiu com convites a algumas equipes de outros pontos do Brasil. Passou a ser conhecido como Taça de Prata, mas tecnicamente continuava sendo o mesmo torneio, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Daí Robertão).

Logo abandonado – substituído por um verdadeiro campeonato nacional, em 1971 – a competição só voltou à disputa nos anos 90. Em 1993 (sem a participação do São Paulo, então sem data alguma disponível para disputar mais outro título) falhou, mas em 1997 reviveu em sua fase definitiva e derradeira. O Tricolor bateu na trave no ano seguinte, e em 1999 e 2000 caiu nas semifinais. 2001 foi diferente. Tinha que ser…

O regulamento previa três fases distintas (primeira, semifinais e finais). No início: dois grupos: um com times do Rio, outro com times de São Paulo. Seriam somente quatro partidas, onde as equipes de um grupo enfrentariam as do outro, classificando-se para as semifinais as duas melhores colocadas ao fim. O Tricolor não andava muito bem das pernas, financeiramente falando – seus melhores jogadores haviam sido vendidos ao exterior para sanar as contas. Nomes como Marcelinho Paraíba, Edu, Fábio Aurélio e outras promessas.

Tal situação se agravaria até o final do torneio, pois a patrocinadora de camisa encerraria seu vínculo com o clube (o que proporcionou a peculiar e rara camisa da partida decisiva, com um patrocínio de um único jogo). A aposta então era nas jovens promessas que, ano antes, conquistaram a Copa São Paulo de Juniores.

Na primeira fase, a irregularidade deu o tom. Vitórias de 2 a 0 contra Vasco e Flamengo, na primeira e última rodada, empate em 1 a 1 com o Botafogo, em casa, pela terceira, e a sofrível derrota por 5 a 2 para o Fluminense, em Niterói, com três jogadores do Tricolor Paulista expulsos (Rogério Pinheiro, Gustavo Nery, Wilson).

A desforra veio nas semifinais. Classificando-se em segundo no grupo paulista, com sete pontos (e atrás do Santos, com 10), enfrentou o mesmo Fluminense, então campeão invicto do grupo carioca, com oito pontos – três a mais que o segundo colocado, Botafogo. Na partida de ida, Morumbi, vitória simples (gol de França).

O segundo jogo foi dramático. Ao fim do tempo regulamentar, 2 a 1 para o Fluminense. Novamente o gol são-paulino veio por intermédio de França. A situação previa decisão por pênaltis – gol marcado fora de casa não era critério de desempate. Rogério Ceni, que já exibira uma de suas melhores partidas com a camisa do São Paulo no tempo normal, se consagrou mais uma vez na marca da cal naquelas cobranças alternadas. Três pênaltis defendidos (de Roni, César e Jorginho) e 7 a 6 no placar final para o São Paulo!

Surpreendentemente, na outra chave, o invicto Santos tombou frente ao Botafogo. A final, então, foi contra o time da Estrela Solitária, o mesmo que vencera o Tricolor em 1962 e 1998 e havia um grande desfalque nas linhas são-paulinas: Rogério Ceni fora convocado para a Seleção Brasileira. A primeira partida, no Maracanã, só emplacou no segundo tempo, onde o Luís Fabiano, duas vezes, Carlos Miguel e França definiram o jogo e, praticamente, o título: 4 a 1.

No jogo de volta, 7 de março, 71.668 pessoas em um Morumbi eufórico viram a explosão de uma supernova. Ou seja, o nascimento de uma estrela. A partida corria equilibrada, após início sob pressão do Botafogo. Temiam que o São Paulo “entrasse de salto alto” e acabasse por estragar uma conquista praticamente vencida. E o temor se fez presente quando ao fim do primeiro tempo os alvinegros abriram o placar, com gol de Donizete.

Segundo tempo, quinze minutos: um garoto com o número 30 às costas entra em campo, sem chamar lá grande atenção. Vinte minutos depois, o franzino rapaz recebe a bola, dribla o adversário e chuta na saída do goleiro. Gol de empate! O primeiro gol de Cacá – futuramente Kaká – com a camisa do São Paulo. Não bastava para a consagração. Veio então o segundo poucos minutos depois, e o grito de “Campeão!” enfim desentalava-se da garganta do torcedor tricolor.

São Paulo Futebol Clube, Campeão do Torneio Rio-São Paulo de 2001. Agora sim a competição poderia se extinguir de vez. E isto não tardou a acontecer…

botafogo

 

O JOGO DECISIVO

07.03.2001
São Paulo (SP)
Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi)

SÃO PAULO Futebol Clube 2 X 1 BOTAFOGO de Futebol e Regatas

SPFC: Roger; Jean, Wilson e Rogério Pinheiro (capitão); Belletti (Reginaldo Araújo), Fabiano (Kaká), Claudio Maldonado, Carlos Miguel (Julio Baptista) e Gustavo Nery; França e Luís Fabiano. Técnico: Oswaldo Alvarez
Gols: Kaká, 34′/2; Kaká, 37′/2.

BFR: Wagner; Dênis, Valdson e Júnior; Fábio Augusto, Reidner, Alexandre Gaúcho (Souza) e Augusto; Donizete, Taílson (Daniel) e Rodrigo). Técnico: Sebastião Lazaroni.
Gols: Donizete, 39′/1.

Árbitro: Jorge Fernando Rabello
Renda: R$ 620.695,00
Público: 71.668 pagantes

2001c

 

A CAMPANHA

Primeira Fase
17.01.2001 – 2 X 0 – Club de Regatas VASCO DA GAMA (RJ)
25.01.2001 – 2 X 5 – FLUMINENSE Football Club (RJ)
01.02.2001 – 1 X 1 – BOTAFOGO de Futebol e Regatas (RJ)
07.02.2001 – 2 X 0 – Clube Regatas do FLAMENGO (RJ)

Semifinais
14.02.2001 – 1 X 0 – FLUMINENSE Football Club (RJ)
21.02.2001 – 1 X 2 – FLUMINENSE Football Club (RJ), 7 X 6 pen.

Finais
28.02.2001 – 4 X 1 – BOTAFOGO de Futebol e Regatas (RJ)
07.03.2001 – 2 X 1 – BOTAFOGO de Futebol e Regatas (RJ)

 

O ELENCO CAMPEÃO

JOGADORPJVEDGMGS
FrançaAT851260
BellettiLD851200
Rogério PinheiroZG750200
FabianoVL741210
WilsonZG750200
Gustavo NeryLE750210
Rogério CeniGL631208
Reginaldo AraújoLD641100
RenatinhoAT641100
JeanZG521200
KakáMC541020
AlexandreVL430100
Carlos MiguelMC430110
Fábio SimplícioVL411200
IlanAT411210
ReginaldoZG421100
SidneyVL311110
RogerGL220002
SouzaMC220000
Sandro HiroshiAT210100
MaldonadoVL220000
HarisonMC211000
OliveiraAT210100
Luís FabianoAT220020
Júlio BaptistaMC110000
AlemãoLE101000

 

A CLASSIFICAÇÃO FINAL

C.CLUBEPGJVEDGMGSSG
São Paulo FC (SP)16851215105
Botafogo FR (RJ)982331216-4
Santos FC (SP)1163211358
Fluminense FC (RJ)1163211385
SC Corinthians P (SP)54121880
SE Palmeiras (SP)4411236-3
CR Vasco da Gama (RJ)4411215-4
CR Flamengo (RJ)04004310-7