Em entrevista, goleiro admite incômodo com situação no São Paulo e cogita sair se não tiver mais oportunidades; ele será titular contra o Ituano, sábado, no Morumbi
Por Marcelo Hazan – GloboEsporte.Com
“Quero jogar”, “preciso jogar”. Essas foram as frases mais usadas por Renan Ribeiro durante os cerca de 30 minutos de entrevista ao GloboEsporte.com. Quando o goleiro conversou com a reportagem, na última segunda-feira, em sua casa na capital paulista, havia recebido apenas uma sinalização de que poderia ser titular contra o Ituano, sábado, no Morumbi. A entrevista de Rogério Ceni, após o empate com o ABC, quarta-feira à noite, trouxe a confirmação.
Renan quer mais. Nos planos do técnico, ele entrará num rodízio que já contemplou Sidão e agora tem Denis como protagonista. O goleiro, porém, pensa mais longe. Quer uma sequência para, enfim, se firmar no São Paulo.
– Tive sondagens de dois clubes do Brasil e dois de fora. Estou há quase quatro anos aqui e quero jogar. Quem não é visto não é lembrado. Acaba caindo um pouco no esquecimento. Isso me incomoda. Eu deixo de evoluir. Não adianta só treinar e não colocar em prática. Como vou saber o que tenho de melhorar? Sou ser humano – disse Renan.
Ele e Ceni foram companheiros de junho de 2013 até o fim de 2015. Depois da aposentadoria do ídolo, o goleiro viu Denis virar titular, em 2016. Em 2017, permanece no banco diante da concorrência reforçada por Sidão.
Renan Ribeiro soma 14 partidas nesses três anos e nove meses. Estatística que ele resume como “esquecimento”. O goleiro vê sua carreira atrapalhada por não jogar, e chegou a levar propostas para sair do Tricolor no início do ano, justamente para buscar espaço em outros clubes. Mas não foi liberado, segundo ele, sob a promessa de ter chances.
A intenção de Ceni era vê-lo em ação no Torneio da Flórida. Mas uma lesão na coxa esquerda, no início da pré-temporada nos Estados Unidos, atrapalhou o plano do técnico. Em 2016, o goleiro fraturou um dedo da mão esquerda e sofreu uma fratura por estresse nas costas. Somados, os problemas o tiraram de combate por mais de três meses. Recuperado, ele treina há pouco mais de um mês sem restrições. E agora é a bola da vez.
O erro de Denis na derrota por 3 a 0 para o Palmeiras, no clássico do último sábado, e a lombalgia de Sidão, que também acumula falhas nesse início de ano, contribuem para a torcida pedir o nome de Renan. Nesta entrevista exclusiva, ele fala abertamente do desejo de jogar ou, em último caso, sair do clube, se não receber oportunidades.
GloboEsporte.com: Você teve a chance de jogar contra o Atlético-MG, no fim do ano, e sofreu a fratura no dedo da mão. Como foi aquele momento?
Renan Ribeiro: Foi uma fatalidade, né? Porque eu vinha me preparando. Sempre falo que desde que cheguei estou me preparando para a oportunidade. Quando acionado, sempre procurei fazer o meu melhor, colocar em prática tudo o que trabalhei e a experiência do Atlético-MG (onde foi formado e disputou 81 jogos) para contribuir e ver a evolução dos treinos. Depois disso, pensava em me recuperar rapidamente e deixar as coisas nas mãos de Deus. Não cabia a mim questionar, mas sim recuperar, trabalhar e esperar uma nova oportunidade.
Vem a virada do ano e o São Paulo contrata o Sidão, depois de se considerar bem servido na posição de goleiro. Como viu isso?
Estou em um time grande e concorrência tem de existir. Você tem de estar bem a todo instante, porque sempre tem alguém querendo o seu espaço, ainda mais se tratando de São Paulo, né? Quem não quer jogar no São Paulo? É um clube referência, muito grande mundialmente. Não cabe a mim questionar a decisão da diretoria de contratar um novo goleiro. Cabe a mim trabalhar cada dia mais forte, sabendo que a escolha sempre vai estar na mão do treinador e da diretoria.
Houve propostas para sair do São Paulo de quais clubes? E por que decidiu ficar?
Tive sondagens de dois clubes do Brasil e dois de fora. Estou há quase quatro anos aqui e quero jogar. Joguei muito cedo no Atlético-MG, entendo que para um goleiro foi cedo, mas também saí de casa muito cedo (13 anos). Quero jogar. Quem não é visto não é lembrado. Acaba caindo um pouco no esquecimento. De uma forma que isso me incomoda, porque eu deixo de evoluir. Não adianta só treinar e não colocar em prática. Como vou saber o que tenho de melhorar? Sou ser humano. Preciso aperfeiçoar sempre. Só vou colocar em prova no jogo, que é o mais gostoso, onde todos estão vendo. Tive algumas oportunidades para sair, trouxe a proposta, ficaram sabendo da proposta e decidiram não liberar, porque falaram que me dariam oportunidade de jogar. Só que eu preciso jogar. Só treinar para mim chega a um certo ponto que começa a atrapalhar o seguimento da minha carreira, de conseguir meus objetivos que são grandes… de ser conhecido, ganhar títulos, de alcançar títulos maiores. Então preciso jogar. Preciso de uma oportunidade.
Quando levou proposta você conversou com quem: presidente? diretor? Ceni?
Foi para o presidente. Eles conversaram e decidiram não me liberar, que não haveria negociação. Eles me viam com oportunidade de virar titular do São Paulo. Da mesma forma que me contrataram, gostaram de quando joguei. Mas falei: “Preciso jogar”, se não vou ficando para trás e caio no esquecimento. Deixo de evoluir. Só treinar para mim é uma situação que me atrapalha. Deixo de alcançar as coisas, porque o tempo vai passando, né?! Antes tinha 18 anos estreando e hoje vou fazer 27. Estou novo? Estou novo, mas quero jogar.
Quando você argumentou que queria jogar e recusaram a sua liberação o que foi dito? Que teria chances?
Sim, falaram que eu teria oportunidade se continuasse agindo da mesma maneira, de ser o primeiro a chegar, cuidar de alimentação, fazer academia e me esforçar… que a chance chegaria. Da mesma forma como outros esperaram e chegou, que não seria diferente para mim. Mas falei que fiquei quatro anos no São Paulo. Tive algumas oportunidades. No meu ponto de vista fui bem, pude corresponder à altura do que esperavam, porque também estava sem ritmo. Preciso de uma sequência para colocar tudo em prova e me sentir melhor dentro de campo para contribuir com o time.
Chega o Rogério Ceni como técnico. É um símbolo muito grande para o torcedor do São Paulo, talvez o maior ídolo da história. Era goleiro, então há uma atenção especial com a posição. O que o Ceni conversou com você quando não houve a liberação?
O Rogério sempre foi referência desde antes de chegar ao São Paulo. Sempre admirei. É muito observador, dentro de campo e agora como treinador. Vai se dar cada vez melhor. Tem noção do que está falando. Ele me fala para continuar trabalhando sério, desde que cheguei no São Paulo. “Renan, continua trabalhando. É da forma que venci. Trabalhando. Não tem palavra melhor para dizer do que trabalho. Uma hora vai acontecer e você precisa estar bem, porque está em um grande clube, onde será exigido”. Eu falei: “Trabalho, não estou de brincadeira. Não vou para o clube brincar. Não é porque estou no São Paulo que vou me acomodar”. É o que sempre falo: o São Paulo é muito bom, desde que eu tenha oportunidade e jogue. Não adianta ser conhecido como um cara que só passou e não conquistou nada no São Paulo. Não vim para ter só uma passagem. Vim para conseguir títulos, que é o que marca. Almejo coisas grandes para as pessoas reconhecerem o meu trabalho.
Foi falado em rodízio de goleiros?
Quando chegou da viagem (Estados Unidos), foi falado que eu era o único que não tinha tido oportunidade… porque estava tendo rodízio no gol e no time, para formar um elenco forte. Foi dito que eu entraria nessa rotina. Foi quando o Denis ficou fora de uma, depois o Sidão ficou fora da outra e aí era a minha vez e passou…
Passou por quê? Estava machucado ou por opção?
Por opção. O que pude fazer é trabalhar. Não ficar questionando. É ruim a pessoa que se omite, reclama e murmurando pelos cantos. A verdade só é dita dentro de campo. Ali você tem de provar o potencial. Cabe a mim continuar trabalhando e deixando bem claro que quero jogar. Só essa situação de ficar olhando e esperando não é boa para mim. Se for dessa forma, prefiro seguir meu caminho, de continuar trilhando meu caminho no futebol. Não saí cedo de casa para brincar. Falo que para brincar estou com a minha filha, que sempre me dá amor. No futebol, não. Estou para trabalhar firme. É meu ganha pão. Quero trilhar o caminho dos meus sonhos.
Qual é o sentimento de quem só treina e não joga?
Sou muito grato ao São Paulo. Estava oito anos em um clube e tive uma perda familiar (a irmã, de 15 anos). O São Paulo abraçou minha situação quando cheguei. Fiquei um tempo parado lá. O sentimento que tenho é de que vim para cá para continuar trilhando meu caminho. Sabia que poderia evoluir. Venho de uma escola mais moderna, de saber jogar com os pés. Não estava acostumado. Nesses anos, ao menos cinco vezes na semana quando acaba o treino eu faço paredão.
Você aprendeu a jogar com os pés no São Paulo?
Não é que aprendi. O futebol se modernizou nesses quatro anos. Via a situação e tinha de me adaptar. Precisava acrescentar dentro do que sabia e aperfeiçoar. Vim para cá porque o Rogério sempre foi referência jogando com os pés. É um diferencial extremo. Hoje o goleiro precisa saber jogar com os pés. Era uma dificuldade que eu tinha e precisava melhorar. Vi que o Rogério treinou muito para bater falta e pênalti. Também tinha que treinar muito. Era uma situação que não ia cair do céu. Não era porque estava no São Paulo que iria aprender. Mesmo cansado e com perna doendo, ia no paredão para aperfeiçoar. Quando meu momento chegar, sabia que estaria pronto e preparado para dar o melhor, retribuir o carinho da torcida e me firmar.
O Sidão foi contratado também pela qualidade de sair com os pés. Você se sente preparado para ajudar com os pés, dentro desse novo estilo de jogo do São Paulo?
Eu me sinto tranquilo hoje. Trabalho para melhorar no dia a dia. Tenho de jogar para saber até que ponto estou preparado e como posso ajudar na saída de bola. Claro que há um meio termo no futebol. Sabemos que quando é algo forçado pode dar errado. Tem de fazer a coisa convicta, falando e orientando. Comunicação é tudo dentro de campo. Quando pega confiança junto com companheiros tudo fica mais fácil. Aí constrói um grande time.
É inevitável falar sobre o assunto: o Denis foi questionado pelo gol de cobertura sofrido contra o Palmeiras. Você estava no banco. Como viu o lance?
Foi uma situação bem rápida. No banco nem consegui perceber. Quando saiu todos estavam na frente. É delicado. Só quem está dentro de campo pode julgar. Quem está fora é fácil pontuar e falar. “Fulano errou”. É fácil. Quando está dentro de campo você sabe o que errou. Melhor para responder essa pergunta é quem estava lá dentro. É fácil julgar de fora. Tem de viver a situação. As pessoas sabem o que aconteceu, o que pode melhorar e ser feito.
Até por isso você sente falta de jogar para ter um parâmetro?
Sim, claro. Atmosfera de treino é diferente. Não tem torcida. Não é estádio. Não tem aquela preparação. É totalmente diferente. No treino você aperfeiçoa o que fez errado em campo e melhora o que tem de dificuldade. Se não joga, não tem um meio termo: “Putz, posso melhorar um pouco isso, aquilo, ser mais rápido, tempo de bola”. É só jogando. Quando só treina, treina, treina… fica mais difícil fazer autocrítica. Gosto de me julgar. Sou muito autocrítico. Sei muito bem o que erro e acerto. Sou pontual. Se errei é porque tenho de melhorar e treinar mais.
O Rogério costuma dizer que esperou quatro anos como reserva do Zetti até jogar. Ele usa esse exemplo com você?
Essa conversa não tivemos, mas acompanhei muito a carreira do Rogério. Se não me engano esperou quatro ou cinco anos, posso estar errado. Mas sabemos que esse momento é delicado. Só treinar é difícil, mas uma hora a oportunidade vai chegar. E se não for aqui que seja em outro lugar. O que tiver de ser vai ser. Da mesma forma que sei que foi difícil para ele. Quando teve oportunidade foi competente e deu sequência nessa linda carreira que escreveu no São Paulo.
Por que o Renan Ribeiro está preparado para ser o goleiro titular do São Paulo?
Estou pronto porque sou um cara batalhador, persistente no futebol. Sei reconhecer meus erros. Sou um cara trabalhador, que quando entrar em campo vai dar a vida. É o meu ganha pão, minha paixão e é que gosto de fazer. Estou pronto para dar o meu melhor em campo e colocar o São Paulo em lugares maiores.
Seu contrato vai até maio de 2018. Essa temporada de agora é o limite para ter oportunidade ou sair?
Estou em uma situação no São Paulo que passaram três anos. Estou em uma idade que deixei de ser menino. Joguei 95 partidas como profissional. Eu me considero um cara experiente. Estou em uma situação que preciso de chance para jogar. Porque isso acaba me atrapalhando. Tenho ambição de ganhar títulos, chegar em lugares maiores. Essa situação me atrapalha e me deixa desconfortável, de ficar só olhando. Quero jogar. Quero jogar. Só quero isso. Da mesma forma que encontro felicidade no treinamento, quero encontrar de novo dentro de campo.
Em uma enquete do GloboEsporte.com, perguntamos quem deveria ser o goleiro titular do São Paulo: você, Denis, Sidão ou contratar um novo. Você venceu com 73%…
Fico muito feliz com esse carinho do torcedor. Nas redes sociais, shopping, restaurante, da forma como abraçaram minha situação. Reconhecem que sou um cara batalhador, que treina sério e merece uma oportunidade. Quero poder retribuir todo esse carinho da torcida. A forma de agradar é fazendo o melhor em campo e conseguindo a vitória para o São Paulo. Além da atenção que dou, o melhor presente, a forma de retribuir é fazendo boas partidas e vencendo.
A impressão que temos fora do clube é de que a torcida não confia 100% em nenhum dos três goleiros: Denis, Sidão e você. É a sua impressão também?
O time vem nessa formação de fazer boas partidas. Fez uma boa competição nos Estados Unidos e agora no Paulista, Copa do Brasil e depois Brasileiro. A questão de confiança… a partir do momento em que entra em campo e vence é a melhor forma de dar resposta ao torcedor. O torcedor quer a vitória. Hoje me vejo como um cara que precisa passar essa confiança para o torcedor. Mas só existe uma forma de conseguir a confiança do torcedor: jogando. Não tenho como só em treino ou em entrevista me posicionar e mostrar personalidade. Só vou conseguir a confiança do torcedor jogando. Até aqui existe um limite. Para continuar passando confiança ao torcedor é a partir de quando entrar dentro de campo, conseguir vencer, fazer boas partidas e ganhar títulos. Aí a confiança vem e conseguimos coisas maiores.
O que significaria virar titular no gol do São Paulo com Rogério Ceni como técnico?
É um sonho realizado. Cresci vendo e olhando… o que ele teve de São Paulo (25 anos) é praticamente o que tenho de vida (26 anos). É gratificante saber que um cara que sempre olhei hoje está me olhando. Sempre vi os pontos fortes. Hoje ele vai ver os meus pontos fortes. Fico muito feliz. Vou esperar essa oportunidade. Da mesma forma que eu falei dele: “Ele é foda, o posicionamento dele é fodido. É um cara diferenciado”. Espero dele esse julgamento. Saber que é um cara que pode confiar, que vou conseguir corresponder e colocar em prática tudo que admirei para de alguma forma ele me admirar, conseguindo vitórias para o São Paulo.
Se receber a notícia de que vai jogar contra o Ituano, no sábado, será a coisa mais importante do ano até agora?
Preciso jogar. De uma forma ou outra preciso jogar, conseguir pegar uma sequência sabendo que estou um tempo parado. Mas não é uma forma de procurar argumento ou dar desculpa. Quando joga em time grande tem de corresponder, independentemente de ter paciência ou não. Não tem essa. Tenho de jogar, colocar em prática o que estou trabalhando, corresponder a expectativa de todos e botar a cara. Saber que sou um cara que posso ser titular, treinou muito e está esperando uma oportunidade.