Com formação e jogadores diferentes, Rogério Ceni mostra que time pode ter repertório. Vitória sobre o Cruzeiro não classifica, mas se torna uma das melhores exibições deste time
O São Paulo pode não ter apresentado a velocidade ou as triangulações de jogos contra Linense, Santo André e ABC, mas esse nível de adversários acabou. Só em 2018. No Mineirão, exibiu aspectos até então adormecidos em confrontos desta dimensão: volume ofensivo, segurança, atitude, confiança. Somados, configuraram uma das melhores exibições do Tricolor em 2017.
A vaga ficou com o Cruzeiro, é verdade, mas ao vencer por 2 a 1 no Mineirão, o São Paulo recebeu uma injeção de autoestima e passou aos torcedores, e talvez aos próprios jogadores, a ideia de poder enfrentar qualquer um.
E mais: com alternativas táticas e de jogadores. Num híbrido do 4-3-3 da maioria da temporada com o 4-4-2 do segundo tempo do último domingo, a equipe teve mais movimentação e aproximação entre seus jogadores de frente. Ninguém se conformou em ficar de um lado só.
Rogério Ceni escalou Bruno, que voltava de lesão, deixou no banco Jucilei, melhor do time nas últimas rodadas, e apostou no estreante Morato, ex-Ituano, em vez de Gilberto, artilheiro da temporada, para atuar ao lado de Pratto.
Por trás das escolhas, obviamente, havia ideias. O técnico queria Cueva e Morato mais perto de Pratto. Com João Schmidt, retomou uma estratégia de sucesso: a saída de bola em linha de três, com o volante entre os zagueiros Maicon e Rodrigo Caio. Funcionou.
Ainda mais surpreendente é o fato de o São Paulo ter feito uma grande partida em noite terrível de seu melhor jogador. Cueva, ainda longe de seu ritmo normal, perdeu chance claríssima logo no início, mas o pior veio depois: erros de domínio, de passes, e participação nula sem a bola. É bom ressaltar que não costuma ser assim. Em forma, o peruano ajuda bastante.
Ao notar que Cueva estava presente de corpo e ausente de alma, o Cruzeiro deixou de reservar um homem de meio-campo para marcá-lo, preencheu o setor e equilibrou o jogo. O São Paulo já vencia por 1 a 0, assistência de Morato e gol de Pratto, os melhores em campo.
O centroavante pressionou, obrigou a zaga do Cruzeiro a quebrar bolas, segurou a bola até os parceiros chegarem ao ataque. E o novato driblou, se movimentou, finalizou, criou o lance que culminou no gol de Gilberto, e, de quebra, ainda peitou Rafael Sóbis. Não se intimidou. Personalidade é fundamental a essa equipe.
O Cruzeiro voltou mais compacto no segundo tempo, semelhante ao que foi no Morumbi, e o São Paulo reagiu da melhor maneira: trocando passes, tentando ganhar jardas pouco a pouco, sem desespero. Até Rodrigo Caio errar, e Thiago Neves empatar.
Houve 10 minutos de pânico e rearranjo com as entradas de Thomaz e Gilberto. O São Paulo montou uma linha de quatro no ataque: Thomaz pela direita, Morato na esquerda, Gilberto e Pratto centralizados. Numa pressão que, até então, a equipe não conseguia fazer nessas circunstâncias, o segundo gol saiu, e houve chances do terceiro, da classificação.
Não se pode dizer que o saldo foi positivo, obviamente, porque o maior desejo era a classificação, mas para quem havia perdido em casa sem demonstrar força, o São Paulo terá que pagar excesso de bagagem ao voltar de Belo Horizonte: autoestima reforçada, mais um sistema de jogo e novas opções como Wesley, que foi bem, e Morato.
A missão? Repetir o desempenho contra o Corinthians, domingo. Com ou sem a vaga.