A crise que assola o São Paulo fará o time terminar 2017 com o menor número de jogos em 15 anos: serão 64 partidas até o fim do ano. Esse cenário é fruto da eliminação tripla no primeiro semestre, ocasionada por uma série de fatores. Para o torcedor são-paulino tentar entender o que levou o Tricolor a essa situação, o GloboEsporte.com lista abaixo alguns dos motivos:
Desastre no mata-mata e fim da confiança
Dos quatro torneios que tinha para disputar, o São Paulo já está fora de três. Sobrou apenas o Campeonato Brasileiro. Eliminado do Paulistão pelo Corinthians, da Copa do Brasil pelo Cruzeiro e da Copa Sul-Americana pelo modesto Defensa y Justicia, o Tricolor mergulhou na crise. E perdeu confiança para se reerguer, como disse Rodrigo Caio esta semana. Esse é justamente um dos maiores desafios de Ceni: recuperar a autoestima do grupo.
Rendimento x resultado
As três eliminações do São Paulo se deram pelos jogos realizados no Morumbi. Perdeu de 2 a 0 do rival Corinthians, pelo mesmo placar do Cruzeiro e empatou por 1 a 1 com o time argentino. As atuações fizeram o torcedor esquecer aquele Tricolor que empolgou no começo do ano, com a melhor média de gols entre os times da elite.
O melhor jogo do São Paulo nas três eliminações foi na vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, no Mineirão, partida em que flertou com a classificação. Mas futebol não é justiça, como disse o próprio Rodrigo Caio na última segunda-feira. Os piores rendimentos foram contra o Defensa e no primeiro tempo da derrota para o Corinthians, desempenho que motivou a ira de Rogério no vestiário (leia mais abaixo).
Postura e cobranças
A atitude do time do São Paulo na eliminação para o Defensa y Justicia incomodou internamente. Jogadores, inclusive, avaliaram que a postura dentro de campo poderia ser mais aguerrida e a equipe de forma geral teria de ser mais competitiva. O resultado foi considerado desastroso.
Houve cobrança interna. Os relatos do vestiário após o jogo dão conta de “clima de velório”. A atitude dos jogadores no duelo seguinte, contra o Cruzeiro, no Mineirão, pela estreia do Brasileirão, foi considerada positiva e diferente da partida anterior.
Entrevista de Rogério Ceni
A coletiva dada pelo técnico do São Paulo depois da queda para o time argentino estreante em competições internacionais foi considerada descolada da realidade. O tom da entrevista foi criticado internamente. O comandante apresentou números do seu aproveitamento à frente do time para justificar o desempenho da equipe (veja abaixo).
A entrevista seguinte, depois da derrota para o Cruzeiro, na estreia do Brasileirão, teve tom diferente. Ceni considerou o jogo parelho e decidido no gol visto como “medonho”, sofrido em jogada criada após cobrança de lateral.
Queda de líderes técnicos
Luiz Araújo, Rodrigo Caio e Cueva, três dos jogadores mais importantes do time no início do ano e considerados peças-chave, caíram de rendimento. O atacante era o ponto de desequilíbrio pela ponta, com velocidade e habilidade, e agora com justiça ocupa a reserva.
O meia participava diretamente dos gols, com bolas na rede (sete) e assistências (quatro), além de passes que clareavam as jogadas. Mas tem perdido gols e por vezes pouco é notado em campo. O zagueiro costumava se destacar pela impressionante regularidade, mas falhou duas vezes contra o Cruzeiro em jogos distintos no Mineirão (Copa do Brasil e Brasileiro).
Lesão de Cueva e irritação de Ceni
Coincidentemente ou não, Cueva caiu de produção depois de sofrer estiramento na coxa esquerda. A lesão irritou Rogério Ceni. O técnico fazia planejamento minuncioso para tê-lo na melhor forma em abril, mês mais decisivo do primeiro semestre, e o poupava das partidas com substituições. Mas a lesão sofrida com a seleção peruana colocou tudo a perder.
Entenda: dos 11 jogos realizados até defender a seleção peruana na época, Cueva havia sido substituído em oito ocasiões. Ele atuou 90 minutos inteiros três vezes, em um espaço de um mês e meio: Audax (5 de fevereiro), PSTC (1º de março) e Ituano (18 de março). O peruano foi poupado da derrota por 3 a 0 para o Palmeiras justamente pelo risco de lesão.
Depois dos 90 minutos contra o Ituano, Cueva repetiu 90 minutos cinco dias depois (23 de março), contra a Colômbia, e estourou aos 44 minutos do primeiro tempo diante do Uruguai (28 de março). Ou seja, o meia não recebeu o mesmo cuidado para tratar da lesão na seleção. O que motivou a seguinte declaração de Ceni, depois de vencer o São Bernardo na última rodada da primeira fase do Paulistão:
– Vínhamos poupando porque estava sentindo justamente no lugar que sentiu. Segurei em alguns jogos, tirei contra o Palmeiras (derrota por 3 a 0). Talvez eu devesse ter usado mais ele. A lesão teria acontecido antes e aí ele não ia para seleção e ficava mais tempo com a gente. Mas você quer sempre, lógico, preservar o atleta… e nós escolhemos poupar e tirar mais cedo em alguns jogos justamente porque reclamava dessa dor. Espero só que não tenha sido um estiramento, que não haja uma lesão, porque aí perco no mês mais importante, com todos cuidados que tivemos para trazer até aqui. Perco por dois jogos da Seleção. Mas faz parte da vida.
Realidade financeira e a falta de um substituto à altura
Na mesma entrevista, Rogério explicou a escolha por Thomaz, à época contratado para ser o substituto de Cueva. Na prática isso nunca se confirmou. O atleta de 30 anos, ex-Jorge Wilstermann, foi a solução emergencial encontrada para corrigir um erro de planejamento no elenco.
Tudo porque o clube tinha poucos dias para o fim do prazo de inscrição no mata-mata do Paulista. Ceni disse que pensou em um nome adequado à realidade financeira do clube e na possibilidade real, mesmo não descartando interesse à época em Éverton Ribeiro.
O nome segue na pauta do São Paulo, mas é mais caro e não chegaria a tempo (o clube sabe que precisa de reforços). Relembre a declaração:
– É um jogador de 30 anos, com estilo de jogo parecido com o do Cueva, que é o que procurava, em condição financeira adequada à realidade do clube. Isso também não exclui, se alguém pensa sobre, o Everton Ribeiro. Também é sempre bem-vindo, há lugar para ele. Não tem problema nenhum, mas penso sempre na possibilidade real, porque precisava até sexta-feira de um jogador para esse mês de abril. Foi o melhor que pude encontrar. Gostei bastante.
Atrito no vestiário e elogios aos métodos
Vale ressaltar: os métodos de treino e a dinâmica de Ceni no dia-a-dia do São Paulo são elogiados pelos jogadores. O técnico é defendido publicamente pelos atletas (exemplos de Rodrigo Caio e Jucilei nos últimos dias), que acreditam no trabalho do comandante.
Houve, no entanto, dois atritos no clássico entre São Paulo e Corinthians, pela primeira semifinal do Paulistão. Ceni se irritou com o gol sofrido aos 47 minutos da etapa inicial, o segundo do rival, e teve seu momento de maior ira como treinador à época, segundo relatos de quem viu a cena.
Entre as cobranças aos jogadores, como Luiz Araújo, Ceni deu bronca em Rodrigo Caio pelo episódio do “fair play” e chutou uma prancheta, que, acidentalmente, pegou em Cícero. Ceni pediu desculpas pelo ocorrido. Apesar do episódios, os dois têm ótimo relacionamento.
Ou seja, não há um duelo do meia versus o comandante. Pelo contrário. Tanto que o atleta foi titular nas partidas contra Cruzeiro e Corinthians. Só não enfrentou o Defensa y Justicia por conta de uma gripe. E defendeu o comandante em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.
A polêmica escalação de Neilton
A escalação de Neilton como titular contra o Defensa y Justicia causou surpresa a muitas pessoas. Não para quem acompanhou os treinos fechados do São Paulo no CT da Barra Funda. O desempenho do atacante no jogo-treino com o Oeste e em outras atividades foi elogiado internamente. A ponto de até outros atletas defenderem a escolha de Ceni por Neilton como titular.
Sem Marcinho, Morato (não estavam inscritos) e Wellington Nem (lesionado), o técnico tinha Neilton e Araújo à disposição com características similares. Em campo, no entanto, o desempenho foi aquém do esperado e Neilton acabou substituído no intervalo. Sem corresponder desde o início do ano, o atacante está de saída. Ele segue treinando, mas o São Paulo negocia com o Cruzeiro um acordo. O Botafogo tem interesse no atleta.
Lesões atrapalharam
Além de Cueva, as lesões de Morato (lesão no ligamento, com operação marcada para quinta-feira), Wellington Nem (duas lesões), Wesley (duas lesões), Buffarini, Araruna, Bruno, Lucas Fernandes e Edimar foram obstáculos para Ceni em diferentes ocasiões. Por conta disso, inclusive, há críticas de torcedores nas redes sociais e conselheiros do clube em cima da preparação física, mas o departamento não é questionado internamente nesse momento.
Respaldo da diretoria
Apesar de alguns torcedores falarem sobre a saída de Rogério nas redes sociais, essa possibilidade não é sequer cogitada no momento. A direção confia no trabalho de Ceni. A permanência ou não do comandante não foi assunto na reunião do Conselho de Administração, na última segunda-feira, no Morumbi. Essa atribuição, aliás, não é do Conselho de Administração, mas sim do presidente Leco e do departamento de futebol.
A função dos integrantes do CA é cobrar os executivos das áreas. Vinicius Pinotti assumiu a gestão do futebol há menos de 15 dias e por isso a avaliação é de que não há como cobrá-lo nesse momento. Ainda assim, a situação do time e as eliminações preocupam.