São Paulo vive crise de identidade, e Ceni adapta ideias para voltar a vencer

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Após início promissor, conceito de jogo do técnico não consegue se estabelecer: lesões, fases ruins e rivais mais fortes são “culpados”, e missão é encontrar soluções

O calendário aponta 18 de maio e a primeira rodada do Campeonato Brasileiro acabou, mas o São Paulo ainda não tem a identidade – palavrinha mantra da pré-temporada e dos primeiros meses – que esperava, baseada no conceito de jogo de Rogério Ceni. A verdade é que o técnico até esboça adaptar suas ideias para tentar construir uma equipe mais eficaz.

Isso ficou claro na derrota por 1 a 0 para o Cruzeiro. Apesar do placar, o desempenho não foi trágico como no empate por 1 a 1 com o Defensa y Justicia, três dias antes, que acarretou na eliminação precoce da Copa Sul-Americana.

Pela primeira vez em 2017, o Tricolor foi escalado no 3-4-3 (ou 3-4-2-1, ainda mais específico). Também adotou postura diferente quando perdia a bola. Em vez de pressionar e tentar recuperar logo no campo de ataque, a equipe se reposicionou no campo de defesa, protegendo-se melhor de contra-ataques do Cruzeiro.

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  Rogério Ceni ainda está em busca de uma identidade para o São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)

Rogério Ceni ainda está em busca de uma identidade para o São Paulo (Foto: Marcos Ribolli)

Depois de um início de ano promissor, em que praticamente todos os conceitos de Ceni ficaram nítidos nas partidas, até mesmo os riscos por uma defesa que sofreu muitos gols, mas foi compensada por um ataque implacável, o sistema parou de funcionar.

Por que?

Houve desgaste físico, lesões se acumularam, mas, essencialmente, o nível dos adversários cresceu e o São Paulo, além de ter se tornado mais previsível, passou a ter enorme dificuldade em criar chances de gol, item número 01 do manual de instruções do eterno camisa 01. Isso fez com que Rogério recuasse alguns passos naquilo que considera um funcionamento ideal da equipe.

Nas últimas seis partidas – as semifinais do Paulistão, quarta fase da Copa do Brasil, a queda na Sul-Americana e a estreia no Brasileirão –, o técnico tem tentado mudanças táticas e individuais para tentar retomar o padrão inicial.

O atacante de velocidade, por exemplo: Luiz Araújo teve início encantador, mas parou. Não faz um gol desde 8 de março. Nessas últimas rodadas, Ceni testou Wellington Nem, Morato, Neilton e Marcinho. A sorte também não tem sido amiga do treinador. Morato, aquele que se saiu melhor, teve lesão séria e só voltará a jogar em 2018 (detalhe: seu contrato é até dezembro deste ano). Nem também se machucou.

Luiz Araújo começou a temporada em alta, mas caiu de produção e não se recuperou (Foto: Marcelo Fim/FramePhoto/EstadãoConteúdo)

Luiz Araújo começou a temporada em alta, mas caiu de produção e não se recuperou (Foto: Marcelo Fim/FramePhoto/EstadãoConteúdo)

Na distribuição dos jogadores, a equipe teve dois centroavantes em vários momentos, inclusive desde o início da segunda semifinal contra o Corinthians. Ceni não gosta dessa solução, mas a má fase dos atacantes de lado e a dificuldade em fazer gols o levaram a escalar os dois artilheiros juntos: Pratto e Gilberto.

No Mineirão, Thiago Mendes foi ala pela direita no 3-4-3, já que Bruno teve atuação desastrosa diante dos argentinos, e Buffarini não tem bom rendimento ofensivo. E Cueva saiu no intervalo, uma mudança significativa para um time que chegou a ser considerado dependente dele no início. Desde sua lesão na seleção peruana, ele joga muito mal.

João Schmidt e Jucilei, que antes disputavam posição, atuaram juntos nos últimos dois jogos. A febre de Cícero, outro fator de azar de Ceni, foi a responsável.

Até mesmo jovens estão participando dessa tentativa de readequar a identidade do São Paulo de Ceni. Éder Militão estreou como zagueiro pela direita diante do Cruzeiro. Aos 19 anos, ele carrega muita esperança do clube num grande futuro. Sua atuação foi bastante boa. Ao contrário de Rodrigo Caio e Maicon, não cometeu erros individuais, mas foi substituído quando o técnico optou por voltar à linha defensiva de quatro, logo depois de sofrer o gol.

Com mais treinos entre as partidas, já que só tem o Campeonato Brasileiro pela frente, a missão da comissão técnica será aproveitar esse tempo para devolver a equipe a um caminho. A confiança, que os jogadores relatam ter perdido, passa também por esse fator.