UOL – Pedro Lopes e Tales Torraga
Divulgação/Boca Juniors
Centurión sofre lesão durante treino do Boca Juniors
No final de abril deste ano, o futuro sorria para Ricardo Centuríon e para o São Paulo, que investiu 4 milhões de euros e viu o jogador passar longe de brilhar no Morumbi. Sob tratamento psicológico, o problemático jovem de Avellaneda explodiu com a camisa do Boca Juniors, gerando entre os torcedores xeneizes enquete surreal para qualquer são-paulino. Deveriam os argentinos investir cerca de 6 milhões de euros em Tevez ou tornar definitivo o empréstimo de Centurión?
Pouco mais de um mês depois, a queda do meia-atacante – e das expectativas do clube brasileiro dono de seus direitos econômicos – foi vertiginosa. Uma grave acusação de agressão à ex-namorada Melisa Tozzi revelou conversas chocantes, gerou um processo criminal contra Centurión, sepultou o interesse do Boca e foi a pedra a tampar o último pedaço de futebol que reluzia em meio a uma montanha cada vez maior de polêmicas, violência e indisciplina.
No último dia 23, Melisa veio a público acusar Centurión. Ela diz que foi “enforcada” e teve “três dentes quebrados”. Em um primeiro momento, advogados do meia negaram as acusações, mas foi pouco para conter o show de horrores que estava por vir. Uma Argentina na qual a violência contra a mulher é tema de crescente debate e importância desabou sobre o jogador.
Melisa apresentou provas: em uma conversa publicada pelo site “ratingcero”, Centurión pergunta como está o olho da então namorada, que responde que ele ainda está machucado. Em seguida, ela pede para que ele, antes de repetir o que fez, pense nos projetos juntos e no filho que pensavam em ter.
A mãe do jogador atacou Melisa verbalmente. A ex-namorada de Centurion divulgou áudios com ameaças e ataques da ex-sogra. “Vou te buscar na porta do baile, e você vai se dar mal, gata. Vai se dar muito mal”, diz parte da conversa, publicada pelo El Intrasigente.
A repercussão do caso gerou uma conversa entre Centurión e o comandante do Boca, Guillermo Schelotto. Pouco tempo depois, a previsível decisão: o meia não joga mais pelo clube argentino, que desistiu de exercer sua opção de compra do São Paulo.
Os advogados de Melisa Tozzi pedem a prisão de Centurión, mas a Justiça Argentina ainda não decidiu. A tendência é de que, no mínimo, o jogador seja impedido de deixar seu país, o que pode inviabilizar a reapresentação ao São Paulo quando o empréstimo ao Boca terminar, dia 1 de julho.
Boa fase em campo foi oásis em meio a indisciplina
A ascensão de Centurión dentro de campo foi apenas uma pausa em um noticiário pessoal marcado por polêmica e com denominador comum na indisciplina. O início da trajetória do meia no Boca foi assombroso, por todas as razões erradas.
Nos primeiros meses de sua volta à Argentina, Centurión bateu o carro dirigindo alcoolizado e saindo de uma boate, foi flagrado sendo contido, alterado, em briga na concentração do Boca e teve nudes vazados.
Percebendo a instabilidade, o Boca tratou de colocar acompanhamento para o meia. Em fevereiro, Centurión foi forçado a trabalhar com a psicóloga do clube, Mara Villoslada. A medida parecia surtir efeito até virem à tona as graves acusações de Melisa. Enquanto tenta alegar sua inocência, o camisa 10 vê sua vida voltar a ser absorvida pelos fantasmas que o seguem há anos, sendo apontado como pivô da separação de ninguém menos que o ídolo Diego Armando Maradona por ter tido um suposto affair com a ex-namorada do Pibe, Rocío Oliva.
São Paulo perde chance de negociação e vê problema que pode se tornar insolúvel
O São Paulo, que investiu alto para contratar o jogador em 2015, chegou a ficar esperançoso com a possibilidade de negociá-lo em definitivo com o Boca. No Brasil, Centurión não se adaptou e se tornou alvo da torcida. Não fez amigos, se mostrou alheio ao dia a dia dos jogadores e não correspondeu dentro de campo. Ao longo do tempo, sua integração era vista com extremas dificuldades.
Agora sem nenhuma chance de negociação, o clube brasileiro, por enquanto, observa de longe. Pelo menos até que se encerre o empréstimo, o São Paulo descarta se envolver na situação. Depois disso, até pode tomar nova decisão, mas a ideia de empenhar recursos para apoiar juridicamente um jogador acusado de espancar a namorada não é vista com bons olhos.
Qualquer que seja o desfecho, o meia volta a ser um problema no Morumbi. O clube corre o risco de ver Centurión sob contrato, mas impedido de jogar futebol ou de deixar a Argentina. Uma rescisão significa considerar irrecuperáveis os 4 milhões de euros gastos, fruto de um empréstimo do atual diretor de futebol, Vinicius Pinotti.
Ainda que a situação jurídica permita uma reintegração do argentino ao plantel, o São Paulo terá de tentar cumprir novamente a missão de adaptar um jogador que, cada vez mais, dá sinais de ser incontrolável. Antes dele ir ao Boca, companheiros brasileiros de Centuríon no Morumbi contam que o meia simplesmente recusava convites para eventos e se afastava das tentativas de aproximação. Neste cenário, pouco leva a crer que, em uma volta ao Brasil sob a sombra de sua maior e mais grave transgressão, as coisas possam ser diferentes.
Fica na Argentina amigo, já temos muitos problemas aqui.