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Luis Fernando Correia, da TV Globo e da CBN, diz que proteger o pescoço era o mais importante. Médico do São Paulo diz que houve, sim, atenção à coluna cervical.
Comentarista de saúde da TV Globo e da Rádio CBN, o médico Luis Fernando Correia também foi coordenador médico do comitê organizador da Copa do Mundo e da Copa das Confederações. Nesta terça-feira, em participação no “Seleção SporTV”, o especialista apontou problemas no atendimento feito ao atacante Lucas Pratto, do São Paulo, no domingo. No clássico contra o Palmeiras, o centroavante bateu com a cabeça no joelho de Hernanes e caiu desacordado.
De acordo com Luis Fernando Correia, o primeiro procedimento tinha que ser a proteção à coluna cervical, no pescoço.
– O jogador cai em campo, cai desacordado. A cabeça dele se chocou com o joelho do outro jogador. Ele cai sem proteção alguma, sem defesa. Se eu cair no chão e estiver vendo que estou caindo, vou colocar o braço, me defender. Então, a primeira coisa que acontece é que o pescoço está exposto. Em uma queda sem defesa, a coluna cervical está exposta. A gente, infelizmente, vê uma manipulação sem proteção da coluna cervical no atendimento inteiro.
O médico do São Paulo, José Sanchez, defendeu seu atendimento, afirmou que seguiu todos os protocolos e que, desde o início, tomou todos os cuidados para proteger a coluna cervical de Lucas Pratto.
– Nós não mexemos nele enquanto não imobilizamos completamente a coluna cervical. Quando nós chegamos, a primeira preocupação foi com a coluna cervical. Não cabe nenhuma polêmica – afirmou, ao SporTV.com.
Luis Fernando Correia afirmou ainda que, à beira de campo, é preciso ter uma equipe médica independente, sem relação com nenhum dos dois times em campo, como foi feito na Copa do Mundo. Esses profissionais seriam especializados em emergências e teriam que ter, além da prancha para imobilizar o atleta, um desfibrilador, para o caso de uma parada cardíaca.
– Na prática, a gente tem que ter uma equipe de atendimento à beira de campo. E essa equipe tem que ter um médico e três paramédicos ou outros colegas. Porque o tempo para se chegar a esse jogador tem que ser o menor possível. A pior coisa que pode acontecer nem é o choque com traumatismo craniano, é a parada cardíaca. O mundo perde um jogador de futebol profissional por mês. Isso foi uma estatística que nós fizemos consultando as confederações pelo mundo. Temos que ter um desfibrilador externo automático à beira do campo. Temos dois minutos para chegar a esse jogador, identificar a parada cardíaca e aplicar o desfibrilador.
O comentarista de saúde acredita que os médicos dos clubes, além da equipe da ambulância, não pareciam estar treinados de maneira apropriada para fazer o primeiro atendimento ao jogador.
– Os médicos dos clubes não falharam, só acho que não são treinados adequadamente para isso. Não os conheço pessoalmente, mas outros colegas os conhecem. Eles têm muita obrigação, têm muita preocupação com o dia a dia do atleta. Mas não é a formação deles. Por isso, tem que ter um médico de fora (…) A equipe da ambulância também não é treinada para isso. Até brinquei, falando com um colega no telefone que uma das profissionais da ambulância estava de jaleco. Não é a roupa ideal para se atender alguém em campo. Se você tiver que se abaixar para atender um paciente, de jaleco é muito mais complicado. Você tem que estar com uma roupa de atendimento de emergência.
Luis Fernando Correia comentou ainda a questão do acesso da ambulância ao campo. Os jogadores precisaram retirar uma placa de publicidade para que o veículo chegasse até Lucas Pratto. Para o médico, mais importante que o carro é fazer o atendimento da maneira correta o mais rapidamente possível.
– Faz parte de uma questão estrutural. Em alguns estádios da Copa do Mundo, não tinha como colocar uma ambulância com acesso direto ao campo. A ambulância não resolve nada. A ambulância é um mero meio de transporte, entre o local de uma situação crítica e o hospital. Obviamente, na ambulância você continua o atendimento. Mas ele tem que ter começado em algum lugar. O que muda é alguém chegar em até dois minutos àquele jogador e manipular o jogador dentro dos protocolos de trauma. Você vai abordar uma vítima que caiu desacordada, a primeira coisa é proteger o pescoço. Você pode ter que virar, mas dentro de uma técnica, que vai envolver quatro pessoas para fazer corretamente. Eu entendo a angústia dos jogadores, mas os profissionais não podem ter essa angústica, têm que seguir o protocolo.
O comentarista disse que, para os valores envolvendo as negociações no futebol, os jogadores não estão recebendo os cuidados adequados.
– Quanto vale um jogador de futebol? Milhões. Não parece. Não estão cuidando de uma coisa que vale milhões de dólares. Eu fico chocado.