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Heuler Andrey/Dia Esportivo/Estadão Conteúdo
Maidana é um dos pilares do Paraná, vice-líder da Série B do Brasileirão
Outubro de 2015. A política do São Paulo estava em ebulição. Denúncias de corrupção deixavam o então presidente Carlos Miguel Aidar atolado em uma crise que culminaria em renúncia no dia 13 daquele mês. O estopim havia sido a contratação de um zagueiro revelado pelo Criciúma e que, após ponte irregular em time da terceira divisão de Goiás, teve o valor dos direitos econômicos inflacionados em cinco vezes. A diretoria caiu, mas foi o jovem Iago Maidana, refém de uma história que poderia até ter rebaixado o Tricolor no STJD, quem saiu com a imagem arranhada. Passados dois anos, o defensor tenta “renascer” para o futebol e tem empolgado a torcida do Paraná Clube na Série B do Campeonato Brasileiro.
Maidana disputou 14 jogos pelo time paranaense na Segunda Divisão, sempre como titular. Desde que entrou na equipe, na goleada por 4 a 1 sobre o Brasil-RS, na 15ª rodada, foram dez vitórias, dois empates e duas derrotas. O aproveitamento subiu de 40% para 76,2%, a defesa tornou-se a melhor do torneio e a vice-liderança foi alcançada na última terça-feira, quando o terceiro gol de Maidana decidiu o triunfo por 1 a 0 sobre o Internacional, primeiro colocado, em uma lotada Arena da Baixada.
“Eu sempre falei que não queria que meu nome ficasse marcado pela polêmica, e sim pelo meu futebol. Agora tenho essa oportunidade de dar a volta por cima. E estou conseguindo. Vou bem nos jogos, marco gols, o que para um zagueiro não é muito comum. Quero mudar toda aquela história de polêmica e ser lembrado pelo meu desempenho. Sou muito tranquilo, tenho uma família maravilhosa e sempre confiei em Deus para que as coisas mudassem. No momento mais difícil, quando saíam aquelas coisas na mídia, eu botava na cabeça que tinha potencial para vencer aquilo tudo”, desabafa o defensor em entrevista ao UOL Esporte.
Mesmo com apenas 21 anos, Maidana já é casado e tem uma filha recém-nascida. De casa veio a força para reagir na carreira e para casa ele leva a alegria pela fase com a camisa do Paraná Clube. A dupla de zaga formada com Eduardo Brock (o “Brockembauer”, para os íntimos) já virou lenda para os torcedores. Afinal, a média de gols que era de 0,9 por partida caiu para 0,5 com os dois. Jogo sério para brecar os atacantes e pontaria afinada para surpreender os zagueiros rivais deixam Maidana em evidência.
“Eu sempre acreditei no meu potencial. Esse é um nível que eu sempre confiei que poderia atingir. Estou muito feliz com o que mostro em campo pelo Paraná, que me abriu as portas e foi o único clube a me dar a chance de mostrar essa capacidade. Estou realizado e confiante. Nunca parei de trabalhar. Cheguei sem moral, não era relacionado, ninguém acreditava, até que o Matheus (Costa, antigo auxiliar que acabou efetivado como técnico) resolveu apostar em mim. A estreia contra o Brasil era a chance da minha vida. Se não aproveitasse, sabia que poderia não ter mais nenhuma oportunidade. Vencemos, eu tive uma sequência e tudo passou a dar certo”, celebra.
A felicidade pelo renascimento no futebol não deslumbra, entretanto. Maidana considera-se o maior crítico do próprio trabalho e crê que ainda tem muitas deficiências a corrigir. Ainda assim, com uma vaidade natural, saboreia os elogios que tem recebido de torcedores. Primeiro dos paranistas, que sonham com a volta do clube à elite depois de dez anos – a última participação na Série A foi em 2007. E também dos são-paulinos, que deixaram de vê-lo como um culpado pela chance de queda nos tribunais em 2015, pela contratação irregular, para acreditar que o zagueiro pode ser o futuro do Tricolor Paulista, que o emprestou ao Paraná e com quem tem vínculo até setembro do ano que vem.
“Recebo várias mensagens de torcedor do Paraná me elogiando, agradecendo por estar jogando com raça forma mesmo sem ser do clube. E eu sempre procurei vestir a camisa e jogar com vontade para ter esse reconhecimento da torcida. Também recebo bastante coisa de torcedor do São Paulo, perguntando se eu volto, se tenho contrato. Fico muito feliz por saber que enxergam minha evolução. É tudo maravilhoso. Ver tanta gente me mandando mensagem me deixou muito bem. A Série B tem me projetado e esse reconhecimento me deixa muito feliz. A torcida do Paraná quer que eu fique e a do São Paulo, que eu volte”, confessa.
Só não peça para Maidana pensar em 2018. O zagueiro-artilheiro que já tem quatro gols pelo Paraná quer assegurar logo o acesso à Série A. E, claro, tenta mandar boas energias para que os amigos do São Paulo não precisem passar pelo mesmo na próxima temporada. A confiança é de que paranistas e são-paulinos poderão se encontrar na Primeira Divisão no ano que vem.
“O São Paulo não vai cair. Porque é gigante e tem time e estrutura para dar a volta por cima e sair dessa situação. Tenho amigos lá como Shaylon, Lucas Fernandes e Militão, e confio neles. São jogadores extraordinários e que podem e muito ajudar o time a escapar. A gente subindo e o São Paulo ficando vai ser muito feliz para mim”, destaca o beque que foi campeão da Libertadores Sub-20 pelo São Paulo em 2016.